Em guerra

Luiz Paulo Souza
Crônicas de um Monstro
11 min readDec 28, 2021

12 de dezembro de 2021

Fazia tempo que eu não vinha escrever pra tentar entender as coisas, né?

Bom…hoje eu precisei. Conversei com uma amiga e ela disse que enquanto ouvia meu áudio, imaginava os “divertidamente” em guerra na minha cabeça. Essa é uma imagem bem boa. É assim que eu tenho me sentido nesses últimos dias. Em guerra comigo mesmo.

Há pouco foi meu aniversário e eu estava em dúvida se receberia uma mensagem sua. Não apenas recebi, como foi a primeira mensagem que li no dia. E foi a mais carinhosa. Nela você dizia que foi uma honra estar em minha vida esse ano, que eu deveria continuar sendo essa pessoa de luz e que vc me amava. Você disse que me amava.

Mais tarde nos encontramos e você repetiu o texto. Disse que foi um ano intenso. Disse que agora poderia finalmente dizer que experimentou o amor verdadeiro. Que ainda pensa em mim todos os dias. Que tem coragem de dizer que me ama.

Depois do nosso abraço de despedida nos afastamos e eu vi seus olhos cheios de lágrimas, da mesma maneira que os meus agora. Durante a nossa caminhada aquele dia muitas vezes eu pude te ver olhando pra mim como olhava no primeiro mês depois que nos conhecemos. Um olhar irresistível que dizia que você não queria sair de perto de mim.

Um olhar que reconheci porque eu escondia aqui dentro sob mil camadas o mesmo sentimento. Eu não queria sair de perto de você. Eu não consigo descrever para mim mesmo o quanto eu sofro todas as vezes que nos vemos e depois nos despedimos sem um beijo. Sem saber se ou quando nos veremos novamente.

Durante todo esse final de semana eu quis estar ao seu lado. Eu saí mil vezes pra ver se te encontrava por acaso, eu lutei contra mim mesmo pra não te chamar pra comer um lanche e passar o resto da noite abraçado. Simplesmente porque eu morro de saudades. Eu tenho saudade de te ver sorrindo. Eu tenho saudade de te ver feliz ao meu lado. Eu tenho saudade de te ver sentindo prazer e estando esperançoso com as coisas. Eu tenho saudade de te ver confiando em mim. De te ouvir desabafando e e de planejar o futuro com você.

Durante esses dias todos eu desejei descobrir que você já estava com outra pessoa. Eu desejei saber que você estava feliz porque assim eu poderia seguir em paz. Eu digo isso porque eu sei me cuidar, eu sei ficar sozinho e lidar com os momentos ruins. Eu digo isso porque eu sei o quanto de dor queria transbordar naquele olhar encharcado depois do nosso abraço. E essa é a dificuldade. Eu suporto a minha dor, mas é insuportável te imaginar sofrendo.

Eu sofri esse final de semana porque é insuportável te ver sentindo a dor que eu tenho sentido esse tempo todo. Eu sofri porque eu não quero que você se sinta dessa maneira. Eu não quero que você acredite que eu fui embora porque não te queria mais, eu não quero que você sinta que estar sozinho é seu destino, eu não quero que você sinta desamparo ou abandono. Porque eu sei o quão dolorido isso é. E eu te amo demais pra suportar saber que eu não posso tirar essa dor de você. E eu tenho medo dessa dor.

Eu tenho medo de que essa sensação nunca vá passar. Eu tenho medo do medo de me apaixonar novamente nunca ir embora. Eu tenho medo de nunca mais estar abraçado com alguém daquele jeito de novo. Eu tenho medo do sexo nunca mais ser bom e de nunca mais querer compartilhar minha rotina com alguém. Eu tenho medo de me fechar e desse nojo que eu tenho por qualquer outro homem nunca desaparecer. E eu tenho medo disso tudo por você também. Eu tenho medo de você não deixar alguém te amar de novo. Eu tenho medo de você não encontrar quem te trate da maneira que eu gostaria de te tratar todos os dias. Da maneira que eu tentei te tratar quando estávamos juntos.

Eu não quero ser mais um trauma pra você. Eu não quero ficar no seu passado como uma memória ruim. Eu não quero que você nunca mais se apaixone, como parece que vai acontecer comigo.

Mas muitas coisas mudaram, sabe?

Eu me lembro de conversar com meu terapeuta sobre as expectativas que eu tinha ao me mudar pra cá. Eu me lembro de sonhar com fazer novos amigos, com viver a faculdade de um jeito diferente, com fazer as pazes com a minha negritude, com a minha sexualidade. Eu sonhava com morar sozinho e ficar bem, com ter a minha casa decorada do meu jeito. Eu sonhava com fazer um intercâmbio e com finalmente descobrir o que quero fazer da minha vida no futuro. Eu sonhava com fazer as pazes comigo mesmo e viver uma vida tranquila.

Eu tenho medo de voltarmos a estar juntos porque durante todo o período em que eu estive perto de você eu não queria me dedicar a nenhuma dessas coisas. Só o que eu queria fazer era me esforçar ao máximo para não te perder. E depois de um tempo parecia que você me ameaçava com a sua perda todos os dias. É disso que eu tenho medo.

Eu tenho medo de olhar teus olhos frios e me sentir punido mesmo sem saber o porque. Eu tenho medo de ir ver a minha família e estar preocupado por saber que você vai estar triste quando eu voltar, mesmo que eu esteja ao seu lado todos os dias. Eu tenho medo de não poder fofocar com um velho amigo por saber que isso também pode gerar uma briga. Eu tenho medo de estar tão preocupado em te perder de novo que não conseguirei manter todas essas coisas que eu conquistei comigo mesmo nesses últimos meses. Eu tenho medo de você estar com tanto medo de me perder que você não consiga manter todas as coisas que você conquistou nesses últimos meses.

Eu tenho medo que a gente tenha que se abandonar mais uma vez.

Nós passamos cerca de cinco meses juntos. Nós estamos separados há quase seis. Eu sofri pelo nosso amor por muito mais tempo do que eu vivi esse relacionamento e eu sei que você também sofreu…por mais que as pessoas falem sobre dificuldades, sobre construção, sobre tentativa, sobre conflitos, a maneira como eu vivi isso ainda não parece certa. E eu ainda não consegui entender se o erro está em mim ou em você. Porque pra mim eu tentei o máximo que pude, eu tentei além do que eu sabia que conseguia. Mas será que eu que senti medo demais? Será que eu que tô quebrado demais pra acreditar que posso ser amado? Será que fui eu que não consegui entender o seu sofrimento? Será que você estava agindo como todo mundo age? Será que eu esperava que você fosse outra pessoa?

Mas se o problema era eu, porque você me tratava com frieza com tanta frequência? Se o problema era eu, por que você não conseguia confiar em mim? Por que durante esse tempo você nunca perguntou sobre o que eu fazia no trabalho? Por que você também não queria saber sobre o meu dia? Por que nunca perguntou sobre meu sonho de intercambio, sobre os lugares onde morei, sobre as pessoas que conheci?

Eu entendo que existem conflitos e brigas e desentendimentos e insegurança e ciúme. É claro que existe. Eu entendo que casais vão brigar pelo chão molhado no banheiro, pela toalha na cama, pela louça não lavada, pelo mau humor matinal, pelo olhar difuso na balada, pelo contato com um ficante antigo. Mas você já brigou comigo porque eu acordo com tesão. Já ficou triste por eu ir visitar a minha família. Já ficou chateado por eu marcar de ver meus amigos no twitter. Já ficou bolado por eu ir caminhar sozinho quando você não quis ir caminhar comigo.

Você já ficou chateado porque eu estava com medo a noite.

Isso é comum?

Quando não estávamos juntos você ia ver quem eu seguia no instagram. Você pediu per ler as minhas conversas. E eu deixei. Mesmo assim, você não confiava mais em mim. Se o problema era eu, por que tinha tanta coisa fora do lugar? Por que você nunca postou aquela dublagem que fizemos juntos? Por que aquele dia na praça me esperou levantar pra ir buscar o lanche pra você postar aquela foto no snap? por que eu não pude ir buscar a pizza com você?

Eu acho que eu não te contei sobre isso, mas daquela última vez que eu fui visitar minha família eu passei horas sem conseguir comer, porque eu não sabia como vc ia estar quando eu chegasse em casa. Todas as vezes que eu tossia sem parar, eu estava com o coração saindo pela boca. Todas as vezes que você chegava me olhando com os olhos frios daquele jeito eu fazia carinho no seu cabelo me segurando para não tremer. Eu pra não chorar.

Eu passei dias apreensivo sem conseguir trabalhar. Eu passei sessões de terapia chorando sem conseguir falar um a. Eu fiquei noites acordado com medo de você ir embora sem me dizer o porque. Eu tinha medo porque eu sabia que não estava fazendo nada de errado e mesmo assim, me sentia punido. Eu me sentira errado por existir, simplesmente. Eu sentia que tava amando errado e ninguém me dizia onde eu tava errado. Onde eu tava errado? Isso faz sentido?

Aquele dia eu te perguntei como seria pra vc se estivesse no meu lugar. Você disse que não seria bom. Você sabia que eu tava sangrando. Por que continuou?

Eu tenho medo, ta ligado? Eu não suportaria te dizer tchau mais uma vez. Eu não suportaria ter que virar as costas pra você de novo. Não é sobre amar ou não. Não é sobre não querer estar com você. Eu nunca quis tanto fazer bem pra alguém…mas por que o seu olhar pra mim mudou? Por que eu passei a sentir que não podia mais te fazer tão bem quanto antes? Por que você nunca mais sorriu ao me ver? Por que nunca mais olhou pra mim daquele jeito enquanto caminhávamos? Por que não me levou pra sair com os seus amigos mais uma vez? Por que não me levou como acompanhante no casamento? Por que deixou passar aquela noite de pastel com a sua amiga? Por que esperou que a gente se separasse pra me chamar pra aula de dança com você?

O que foi que mudou?

Eu queria muito poder te amar. Eu queria te fazer o homem mais mais mais feliz de todo o mundo. Eu nem ligo muito pelas coisas que eu perdi, mas eu me sinto afogado no tanto de afeto que eu não posso mais te dar. Eu já te disse que era meu maior sonho te levar pra passar o natal comigo? eu não sei o porque, mas eu amo o natal. Eu queria te trazer cafés da manhã na cama. Eu queria experimentar motéis com você. Eu queria planejar viagens pra praia. Eu queria sonhar sobre a casa que vamos ter e sobre onde gostaríamos de morar. Eu queria poder lavar as suas costas todos os dias. Eu queria poder te escrever cartas e fazer declarações em momentos inesperados. Eu queria que pudéssemos conhecer mais lanchonetes gostosas e parques bonitos. Eu queria te olhar daquele jeito que só você sabe qual é enquanto caminhávamos no final da tarde. Ir naquela padaria que só nós conhecemos pra tomar café da manhã.

Uma vez você me disse algo que eu nunca vou esquecer. Que você sentia que não podia ser você mesmo quando estava comigo. Que eu era fraco, que eu não suportava as dificuldades que a gente tinha. Esse é outro medo. Talvez eu seja mesmo fraco, talvez a culpa seja minha. De qualquer maneira, eu não quero que você se sinta assim nunca mais. Eu quero que você seja você mesmo. Eu não quero que meus medos te digam quem você deve ser.

Mas eu preciso de alguém que vai me receber de viagem com um milhão de beijos. Eu preciso de alguém que vá ficar feliz quando eu fizer pastel. Que vai receber uma nude minha num momento inesperado e ficar surpreso e feliz. Eu preciso de alguém que vai me fazer me sentir inteligente. Que nunca vai ignorar quando eu disse “eu gosto muito de você”. Que vai cuidar de mim quando eu estiver bêbado e vai suportar me ouvir dizendo que te ama sem parar. Que vai me incentivar a fazer exercícios e vai ficar alegre comigo quando um experimento difícil der certo. Que vai ficar feliz em me ver feliz. Que vai compartilhar meus momentos aleatórios de entusiasmo.

Que vai aceitar meus presentes. Que não vai ter coragem de me machucar de proposito, ou devolver uma carta de amor. Mesmo nos piores momentos. Que não vai precisar se vingar depois do pedido de desculpa. Eu preciso de alguém que me faça me sentir seguro e que esteja disposto a receber a quantidade absurdamente desproporcional de carinho que eu quero dar.

Será que tem alguma coisa errada comigo? Será que isso é mais do que eu posso pedir?

Eu não acho que nós fomos ruins, nós tivemos os melhores momentos do mundo. Eu posso dizer com certeza que conheci o amor, que conheci o sexo bom, que conheci a sensação de família e de pertencimento. Eu posso dizer que senti a melhor coisa do mundo quando estávamos juntos na praça. Mas eu não esperava me machucar tanto e hoje eu ainda sangro todos os dias. Mesmo depois de tanto tempo. Eu não esperava que alguém que eu amo tanto pudesse me machucar de propósito, ou devolver uma foto e um cartão de carinho. Eu tô tentando me perdoar e não guardo mágoas de você, mas a feridas estão abertas e doendo. Eu não consigo viver qualquer coisa novamente antes de parar de sangrar. Eu queria muito poder continuar te amando, ser carinhoso com você por toda a minha vida…mas eu mal consigo sair do lugar. Eu quero ser seu amparo, seu apoio, mas eu mal consigo ficar de pé. Você não tem noção do quanto eu me culpo por ainda estar sangrando tanto. O quanto eu ainda me culpo por não poder dar uma outra chance pra gente.

Mas eu sei que eu morreria de medo, e eu não posso viver assim. Você pode negar, mas eu sei que também te machuquei e que você viveria com medo. Eu sei que você viveu com medo. Eu não posso fazer isso comigo, nem com você. Por mais tentador que nossos abraços possam ser.

Eu tenho feito coisas comigo que não são legais. Talvez você tenha feito também, embora eu torça pra que você esteja controlando teus monstros melhor do que eu. De qualquer maneira, vamos se curar, beleza? vamos se cuidar, deixar nossos machucados se cicatrizarem, dar mais uma chance pra vida. Seguir a rotina com calma, com paciência. Não tem hora pras coisas…

Eu sei que tenho um futuro bem bonito te esperando e tem um futuro bem bonito me esperando. Vamos dar uma chance pra esse futuro. Se a gente precisar se cruzar de novo, vai acontecer. A gente sabe. Mas a gente também sabe que essa não é a hora…a gente sabe que a gente ia se machucar de novo. A gente sabe que tudo dói quando a gente se ve. As coisas não mudaram tanto assim.

Eu te desejo luz e paz. Eu me desejo luz e paz. Para de se machucar, beleza? para de se torturar. Eu vou parar também. Vamos dar uma paz pro nosso coração e deixar ele se acalmar. Eles precisam disso. A gente se vê…

Beijão.

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