Meu Obituário

Pedro Turambar
Crônicas do Cotidiano
2 min readJan 29, 2018

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Ou, o que vão escrever sobre mim depois que eu morrer…

Outro dia me peguei pensando, o que estaria escrito no meu obituário, se eu morresse hoje? Muito provavelmente, estaria apenas meu nome, minha idade. O obituário é o informe de morte nos jornais, para pessoas ‘comuns’ — caso da imensa maioria das pessoas — só se coloca o básico mesmo. Eu estaria entre elas.

No caso de personalidades, pessoas famosas e tal, são acrescentados algumas coisas, parágrafos de tristeza e homenagem, listando os grandes feitos e momentos marcantes de uma vida cheia de conquistas.

Ao pensar nas coisas que eu teria conquistado, que poderiam me valer uma citação em um obituário com mais de uma linha, eu só consegui listar uns 3 gols inesquecíveis que fiz durante minha longa carreira do futebol de videogame, um twitt com mais de 2 mil compartilhamentos, ter casado com uma garota linda e alguns textos engraçados. Talvez uma ou outra sacadinha engraçaralha na carreira de redator publicitário e só.

Em uma rápida pesquisa, achei isso:

Tem um menino de 13 anos que construiu um reator nuclear para um projeto de escola.

Pelé fez gol em final de Copa do Mundo com 17 anos.

O filho do baixista do Metallica, Robert Trujillo, vai fazer uma turnê, tocando baixo para o Korn com 12 anos.

Outro dia li uma frase, num desses milhões de textos de motivação que existem por aí, que você tem que deixar para trás, um vazio que nenhum homem pode preencher. — lembre-se, se motivar é a pior coisa que você pode fazer.

“Leave behind shoes no man can fill.”

Primeiro que é uma frase bem sexista, segundo que ela só reforça a demência coletiva de que todo mundo é especial (não somos. Não todos, pelo menos). E que por ser especial você tem que fazer grandes coisas, deixar vazios impossíveis de serem ocupados e causar algum “impacto”.

Não há nada mais nocivo para a mente humana que acreditar que é especial, único, messiânico.

O mais irônico é que quase ninguém consegue reparar o erro intrínseco desse discurso: se todo mundo é especial, ninguém é*. Isso significa que acreditar nisso é a mesma coisa que correr atrás do próprio rabo.

Corra atrás de coisas que te deixem feliz, passe bons momentos com quem você ama agora, se sinta bem por ser quem você é. Esqueça a busca por um legado ou coisas assim. Depois que você morrer nada disso vai importar, nem aqui nem em qualquer lugar que você vá.

A não ser que os egípcios estejam certos.

  • um beijo Eduardo.

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