Notas, rankings e a reafirmação de grupo

Pedro Turambar
Crônicas do Cotidiano
4 min readMar 19, 2018

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Existe um fenômeno que se chama ‘reafirmação do grupo’. É uma necessidade absurda que nós temos de ser aceitos pela maioria. São praticadas insanidades em busca dessa aceitação. Tipo aceitar que uma coisa é boa, ou não, porque um site deu notas ruins para ela.

Notas são o resumo de uma opinião

Estrelinhas, 0 a 5, ruim, regular, bom, ótimo, brilhante, 0 a 10… existem vários tipos de classificações de “críticos” e publicações para divulgação, resenha ou crítica de uma obra. No caso aqui, focaremos em filmes. Eu mesmo uso uma classificação toda maluca para dar notas.

A qualidade de algo tão subjetivo como uma obra de arte ou mesmo qualquer peça de entretenimento não pode ser reduzido a uma simples nota. Ou, pelo menos, não deveria ser aceito como tal. A nota, ou síntese de qualidade, pode servir apenas como um norte, uma vaga noção de que, uma pessoa ou editoria, avaliou uma obra.

Notas não podem ser separadas de seu interlocutor ou de um contexto.

Como o ingresso de cinema é praticamente um artigo de luxo, acho válido estudar a ‘temperatura’ do filme antes de comprar os ingressos. Há filmes que eu quero ver de qualquer forma. São os filmes que eu vou me juntar à temperatura inicial, cravando um “bom, ruim, ótimo ou merda”. Outros tantos, assisto se várias pessoas estão falando bem ou deixo de assistir quando a maioria fala mal. Isso é completamente normal e a internet serve é pra isso mesmo. A “comunidade” evita tanto você alugar o Airbnb de um assassino serial que guarda cadáveres da mesma forma que te poupa gastar dinheiro para ver A Torre Negra.

Isso nada tem a ver com o fato de algo ser bom ou ruim. Isso é subjetivo e é você quem deveria decidir se algo é bom ou não.

Um filme não é ruim porque ele tem 96% no Rotten Tomatoes e nem é horrível por ter 35%. Muito menos se aquele crítico (ou reviewer) que a gente adora falou mal de um filme que adoramos. O filme continua bom pra gente. E é isso que sempre vai importar.

A vida é curta e complicada demais para o gosto (ou opinião) de outras pessoas pautarem minhas emoções com um filme (ou algo que valha). Tá tudo bem gostar de algo que ninguém gosta. Tá tudo bem gostar de algo que todo mundo considera uma merda.

Nem você, nem eu, nem ninguém, precisa de aprovação para gostar de algo.

Da mesma forma que não temos o direito de considerar alguém inferior por gostar de algo “ruim”. Velozes e Furiosos tá aí fazendo milhões. Remakes, continuações, montagens toscas e decisões de roteiro baseados no que os “millennials” querem da vida fazem bilhões de dólares. E, no fim das contas, divertem as pessoas.

Cinema pra mim sempre foi diversão. Mas por um tempo deixou de ser. Eu passei a ser aquele cara chato que via um filme analisando tudo, vendo como alguém que acha que entende um pouco do processo de se fazer um filme. É uma bosta ver filme assim. A maioria dos filmes é ok. Alguns são acima da média e poucos são geniais. Ver filme assim, só se aproveita uma porcentagem muito pequena. E o ingresso só aumentando.

Isso mudou quando eu fui ver Batman v. Superman. Quem me conhece sabe que eu morro de preguiça do Snyder e eu já tinha má vontade com esse filme desde o anúncio. Na época, ainda redator do JUDÃO, fui chamado várias vezes de marvete (❤). No dia da estreia, sabendo que eu não ia gostar do filme, resolvi me despir de qualquer preconceito, pré-julgamento e “certeza”. Me diverti pra caralho.

O filme é uma bosta. Mas eu me diverti. Então valeu muito a pena.

Meu critério para um filme ser legal é se ele me divertiu. Pelo menos voltou a ser. A análise mais fria fica para depois. Mas o que vem primeiro é sempre “foi divertido/não foi divertido”. Basicamente, para mim, isso se resume em “chorei/não chorei”.

Mas aí é outro papo.

Para motivos de ilustração: Descobri um canal que adorava, Cinema Sins. Ele apontava todos os “erros” de todos os filmes, e mesmo filmes que eu gostei muito, eu conseguia ver coisas que antes não havia visto. Até eu perceber que não era uma análise. Era humor. Eles escolhem muito bem o que mostram mas, principalmente, o que não mostram dos filmes que eles “analisam”. Eles construíam uma narrativa para apoiar piadas. Eles nunca analisaram filmes.

Aí eu descobri o Cinema Wins. Feito por um ser humano maravilhoso, que prefere fazer o exato oposto do que seu irmão escroto faz. Vê o que há de legal nos filmes e se diverte com o cinema.

Foi depois disso que eu passei a ser mais Wins do que Sins. Ser chato e cheio de certezas tá longe de ser quem eu sou.


1. Vídeo do Cinema Sins sobre Guardiões da Galáxia.

2. Vídeo do Cinema Wins sobre Guardiões da Galáxia.

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