Vale a pena fazer resoluções de ano novo?

Pedro Turambar
Crônicas do Cotidiano
4 min readJan 14, 2019

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é possível dizer, com alguma certeza, que resoluções de ano novo são como ovos. Uma hora faz bem, outra hora faz mal. Uma hora faz bem só a clara, outra hora faz mal só a clara. Uma hora faz bem cozido, outra hora no microondas, com um pouco de água. Colesterol bom, colesterol ruim. Com sal & pimenta, com salsinha.

O ovo é quase um termômetro da nossa sociedade doente mentalmente, toda hora precisando de uma capa de revista lhe dizendo como comer (ou não) um ovo.

Todo fim de ano começam a pipocar coisas sobre resoluções. É saudável fazê-las? Precisamos mesmo criar novas frustrações e jogá-las no caldeirão de loucura que é o fim do ano? É saudável não fazê-las? Começar um novo ano sem perspectiva, sem querer novas coisas, sem almejar objetivos mais ousados?

Pela definição da Wikipédia, resolução de fim de ano é “resolver mudar um traço ou comportamento indesejado, para atingir uma meta pessoal ou melhorar sua vida.” Essa tradição remonta desde os Babilônios, que prometiam aos deuses devolver coisas emprestadas (adorei esse) e pagar suas dívidas no início de cada ano. Cavaleiros de ordens medievais faziam o Voto do Peru (outra ótima) para renovar seu comprometimento com a cavalaria.

Séculos depois, estamos aqui, em suma, começando todos os anos querendo (no mínimo): perder peso; aproveitar melhor o tempo; melhorar as finanças; ter mais saúde mental. Essas talvez sejam as mais comuns. Numa pesquisa rápida, encontrei uma lista de 35 (!) “melhores” resoluções para 2019. Depoisuma de 50! Tem coisas legais como subir mais escadas (real, uma ótima dica) e outras meio sério-mesmo-que-isso-é-uma-resolução-de-ano-novo? como “higienizar seu telefone uma vez por semana”. E é óbvio que temos as subjetivas de sempre “seja mais feliz”, “ganhe mais dinheiro”, “faça mais amigos”.

Resolução, em uma língua superior, deve significar Frustração Adiada. Em 2007, um estudo com 3000 pessoas mostrou que 88% das resoluções de fim de ano falham. Porém, várias outras pesquisas mostram que a maioria esmagadora falha porque estabelece objetivos ou muito vagos ou muito inatingíveis. Soma-se a isso o fato de que é muito difícil fazer qualquer coisa regularmente a longo prazo, é preciso algo que a maioria de nós não tem, ou pelo menos não tem de sobra: resiliência.

É muito difícil porque, como assim eu estou há uma semana fazendo caminhadas e eu não emagreci 26 quilos? Como assim eu fiz cinco vídeos pro meu canal do Youtube e eu não estou com 100 mil inscritos? Que espécie de absurdo é esse? Foda-se isso.

Eu já achei que resoluções de fim de ano eram uma furada. Já falei que nunca ia fazer mas fazia escondido, já fiz do jeito certo e também não funcionou. Mas será que não mesmo? Eu parei de fumar num 19 de fevereiro, mas nunca coloquei na conta de resoluções. Várias vezes eu comecei um ano me prometendo terminá-lo sem dívidas. Consegui diversas vezes. Talvez eu devesse parar de fazer dívidas? Com toda certeza, mas aí é outra resolução.

Na minha pesquisa sobre o tema — e há alguns anos eu mesmo escrevi sobre isso — , aparece sempre a questão do ‘objetivo atingível’. Não resolva emagrecer, resolva perder 10kg no período de um ano. Não resolva ir à academia, resolva ir pelo menos uma vez por semana. Quebrar em objetivos claros funciona não só pra isso, mas pra qualquer aspecto da vida. Não adianta resolver ler mais livros de uma hora pra outra, e colocar o objetivo de ler um por semana. É impossível.

Tente um por mês. Já serão, provavelmente, 12 livros a mais que você leu no ano anterior. Baita crescimento, na minha opinião.

A mesma coisa com academia. Eu não posso sair de uma pessoa que mal sabe andar para malhar todos os dias da semana. Isso não vai durar nem até a sexta-feira. Uma vez por semana parece razoável, qualquer pessoa pode fazer isso. No fim do ano? Eu terei ido na academia 52 vezes a mais que no ano anterior.

Acho que 52 idas na academia em um ano fariam uma grande diferença pra mim. Um cara 52 pode ser um 104, quiçá um 156.

Além disso, há outro segredo: Anote seu progresso!

A maioria das resoluções morrem porque ‘não está funcionando’. Assim que o progresso se torna tangível, num papel, num post-it, na geladeira, no espelho ou num calendário, fica mais difícil desistir.

Esse texto, é fruto de apenas uma mudança de hábito que eu quero manter. Acordar às 6h30 da manhã. Esqueça aqueles textos absurdos sobre CEO’s que acordam às 4h30 da manhã, dormem 3 horas por dia e etc. Não somos donos da Apple, nem a Michelle Obama. Hoje em dia eu preciso de 7 horas de sono no máximo. Quero acordar essa hora porque eu quero voltar a fazer duas coisas, ler e escrever.

Acordando às 6h30, eu consigo escrever por uma hora, tomar café da manhã, ler algumas páginas e ir para o trabalho sem a menor pressa. Todos. Os. Dias.

Imagina a diferença que isso vai fazer no fim do ano. Acordar uma hora e meia mais cedo é muito possível e é um tipo de hábito que em pouco tempo entranha no cérebro, então daqui a pouco nem será um esforço.

Para anotar meu progresso, voltei a fazer um diário. Mas sobre isso eu conto mais num próximo texto. ;)

1. O canal do Matt D’avella é maravilhoso para quem quer criar novos hábitos e refletir sobre esse tipo de coisa. Só escrevi esse texto por causa dele.

2. Você já me segue no instagram? Estou colocando no ar lá um projeto meu de “não-reviews” de filmes, músicas e games.

3. Compartilhe isso com seus amigos resolutivos. ;)

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