A mulher mais rápida do mundo

Robson Felix
Crônicas Urbanas
Published in
2 min readAug 27, 2016

Tem dias que dá tudo certo.

Ou quase.

Maria nem queria sair de casa naquele sábado cinza, mas decidiu ir a boate, mesmo sem vontade.

Suas amigas garantiram um camarote numa boate na Barra e não seria ela que daria para trás naqueles últimos dias de Olimpíadas.

Maria havia chegado do nordeste no início do ano e logo se envolveu com o dono do morro, vivendo dias de princesa até que ele morreu em uma batida da polícia na comunidade.

Maria estava desnorteada, como tudo acontecera tão rápido.

Porém, Maria não sabia que mais rápido ainda são os desafios lançados pela sorte.

No meio da noite ouviu-se um burburilho, vindo do camarote ao lado.

Um homem alto e bonito, chegava cercado de seguranças.

Cultura geral nunca foi o forte de Maria, mas sua desinformação chegava ao ponto de não saber, em plena Olimpíada, que se tratava do recordista olímpico dos 100m com barreiras, o Etíope Ezra Gold.

Ezra dançava e se esbaldava com todas, mas mantinha o olhar fixo em Maria.

Ela, por sua vez, não dava importância ao que as amigas diziam.

— Vai lá sua boba, não sabe quem é ele?

Inocente, tirou fotos com Ezra em seu leito de amor e enviou para as amigas invejosas.

As fotos correram o mundo e logo jornais do mundo inteiro entraram em contato para uma entrevista exclusiva.

A falta de preparo e traquejo nas negociações fizeram o jornal inglês abrir um boletim de ocorrência, pois a tal entrevista exclusiva já não era mais do que notícia velha, diante da romaria de jornais locais que conseguiram arrancar algumas palavras de Maria.

E tão rápido quanto veio a sorte de Maria virou.

Na verdade, nem deu tempo de virar.

A sorte sem preparação, de nada vale.

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