2017…

Robson Felix
Crônicas Urbanas
Published in
3 min readOct 8, 2016

…chegamos!

De vez em quando o destino nos mostra que não temos mesmo nenhum controle sobre os fatos de nossa própria vida.

Embora não seja algo confortável, não é exatamente ruim, quando nos entregamos ao imponderável.

Trabalhar num hostel não estava nos meus planos, mas é o que temos para hoje.

A crise econômica levou muita gente a se reinventar e eu estou nesse processo, em busca de uma forma de tirar a cabeça da merda.

O hostel fica na região portuária, revitalizada pelo prefeito Eduardo Paes.

Estou naquela fase de ambientação, cheguei há pouco, mas tenho curtido explorar a área.

De um lado os mistérios de um período escravagista, de outro a mão do dinheiro, representando o sistema capitalista.

Não vai aqui nenhuma crítica à revitalização feita pela prefeitura, na verdade acho até que a mão do dinheiro levou muito em consideração a tradição local.

Descobri que eu sou um carioca de merda, pois nada conhecia desta região, antes decadente.

Tenho andado à deriva em meus períodos de folga, descobrindo lugares, vielas, becos, histórias, pessoas.

Por outro lado, em busca de me reinventar e por força de minha nova colocação tenho procurado aprender outros idiomas, com a ajuda de aplicativos.

Num domingo desses me aventurei para o lado do Boulevard Olímpico que vai em direção à praça XV e fiquei deslumbrado com o que vi.

Independente de outras questões, acho que o prefeito Eduardo Paes teve uma vontade política muito grande para empreender uma transformação em toda cidade, em especial na região portuária.

A história da transformação dessa região começa com a demolição da perimetral.

Foram 8 anos de obras, estrangulamentos de trânsito e as mais diversas reclamações por parte dos moradores.

Já tinha visto as recentes transformações feitas na Barra e na Zona Sul, mas acredito que a área que mais surpreende pela beleza e integração das obras e equipamentos urbanos é mesmo a região do centro da cidade.

Com o fechamento da Rio Branco para veículos, a implementação do VLT, a inauguração do Museu do Amanhã (que recentemente foi agraciado com o prêmio Leading Culture Destinations Awards, considerado o Oscar dos museus de todo o mundo), o Boulevard Olímpico e demais obras e melhorias na região, o centro ficou com cara de Europa.

Junte-se a tudo isso os lugares históricos da região portuária e você terá algo único no Rio de Janeiro, no Brasil e no mundo.

Eu me sinto como se o universo, com um olho no cronograma de execução das obras da prefeitura e outro em meu merecimento cármico, tivesse conspirado para que eu viesse para cá.

O albergue abriu logo após as olimpíadas, pois as obras no hostel (como em qualquer outra obra) demoraram mais do que o previsto.

De qualquer forma, até isso me permitiu chegar devagar, sem o movimento de alta temporada, com tempo para desacelerar, sentir e entender onde eu estava me metendo.

Nota mental: organismo humano demora para se adaptar às mudanças.

O albergue fica mais especificamente no Morro da Conceição, um lugar energizado por sua história, tradição e gatos.

Fui ao samba da segunda-feira na Pedra do Sal e seu Zé estava lá.

Ele me descarregou e me deu boas vindas, me fazendo sentir finalmente acolhido.

A energia desse lugar me emociona.

Paralelepípedos, negritude, escravos, samba de roda, gatos, enfim… vida de verdade.

Essa mudança de ares era tudo o que eu estava precisando para alavancar meu processo de reinvenção.

Num domingo desses assisti a uma missa no mosteiro de São Bento para agradecer ao imponderável todas as mudanças que estão em curso em minha vida.

Não sei quanto tempo durará essa alegria em minha alma, pois definitivamente não temos o controle sobre nada.

Alguém ainda duvida que é o universo quem cuida dos detalhes?

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