Marinês

Feminista e esquerdista

Robson Felix
Crônicas Urbanas
2 min readSep 3, 2016

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Marinês é de esquerda.

Seja ela qual for.

Ela defende um sociedade utópica baseada em algum barbudo russo ditador.

Pura onda.

Marinês é cool.

Ela faz PUC e Tablado e, cá entre nós, ela sabe que pega mal ter idéias próprias.

O lance é questionar o sistema, sempre.

Mesmo (ou quem sabe, principalmente) sendo de família quatrocentona.

A adesão, sem muito questionamento, a qualquer ideologia previamente testada e reprovada pelo mundo e pela história, perpassa, no caso de Marinês, por uma sede absurda de aceitação social.

Marinês sabe, por experiência própria, que o povo da esquerda é que é descolado, fudedor e maconheiro.

Se a direita é o céu, a esquerda é que é o seu lugar.

Marinês é deboísta, não faz jogo pra dar logo de cara pra qualquer garoto com cara de sequestrador de embaixador americano, sem perguntar a legenda.

Ela sabe que o mundo é machista e procura se defender sendo mais machista que o próprio machismo.

Marinês aprendeu, na prática, que o poder está em quem pergunta é não em quem responde.

Ela ouviu isso na plenária do partido.

Marinês topa mulher também.

Diz ela que, não tendo pau, come com a boceta.

Na intimidade, Marinês é uma menina mimada.

Seu pai a deixa brincar de comunista, mas não aprova sua greve de banho em nome da preservação da água doce do planeta.

Seu pai bem sabe que é uma fase.

Ele mesmo deu muito trabalho aos seus pais, até assumir as empresas da família.

O pai de Marinês finge não sentir o cheiro de maconha que vem da cobertura, e se adianta em garantir o refil da erva para que Marinês não precise freqüentar bocas de fumo e nem depender daqueles amigos estranhos, um bando de barbudos fedorentos.

No fundo Marinês não gosta de política, mas acha charmoso a hastag #ForaTemer.

O que ela desejava em seu íntimo era esbarrar com o próximo Che Guevara e fugir com ele para Cuba no jatinho de sua família.

Marinês têm vergonha de sua origem abastada.

Seu motorista já sabe que é pra deixá-la a duas quadras de distância de qualquer compromisso.

Ela odeia ser rica, mas é o dinheiro de sua família que, muitas vezes, salva o almoço e a passagem dos desvalidos revolucionários sem ideologia.

Sua família nada estranha as atitudes dela.

Marinês se ressente da não repressão em casa.

Na verdade ela se sente socialmente invisível.

Na delegacia é ela quem resolve, prevalecendo-se do foro privilegiado de seu pai.

Se é golpe ou não Marinês não sabe e tem raiva de quem saiba, mas segue quebrando a cidade de São Paulo empunhando sua camiseta vermelha (customizada na quinta avenida), enquanto em Brasília seu pai toma posse no lugar da governante deposta.

Essa é a nossa Marinês.

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