Marinês
Feminista e esquerdista
Marinês é de esquerda.
Seja ela qual for.
Ela defende um sociedade utópica baseada em algum barbudo russo ditador.
Pura onda.
Marinês é cool.
Ela faz PUC e Tablado e, cá entre nós, ela sabe que pega mal ter idéias próprias.
O lance é questionar o sistema, sempre.
Mesmo (ou quem sabe, principalmente) sendo de família quatrocentona.
A adesão, sem muito questionamento, a qualquer ideologia previamente testada e reprovada pelo mundo e pela história, perpassa, no caso de Marinês, por uma sede absurda de aceitação social.
Marinês sabe, por experiência própria, que o povo da esquerda é que é descolado, fudedor e maconheiro.
Se a direita é o céu, a esquerda é que é o seu lugar.
Marinês é deboísta, não faz jogo pra dar logo de cara pra qualquer garoto com cara de sequestrador de embaixador americano, sem perguntar a legenda.
Ela sabe que o mundo é machista e procura se defender sendo mais machista que o próprio machismo.
Marinês aprendeu, na prática, que o poder está em quem pergunta é não em quem responde.
Ela ouviu isso na plenária do partido.
Marinês topa mulher também.
Diz ela que, não tendo pau, come com a boceta.
Na intimidade, Marinês é uma menina mimada.
Seu pai a deixa brincar de comunista, mas não aprova sua greve de banho em nome da preservação da água doce do planeta.
Seu pai bem sabe que é uma fase.
Ele mesmo deu muito trabalho aos seus pais, até assumir as empresas da família.
O pai de Marinês finge não sentir o cheiro de maconha que vem da cobertura, e se adianta em garantir o refil da erva para que Marinês não precise freqüentar bocas de fumo e nem depender daqueles amigos estranhos, um bando de barbudos fedorentos.
No fundo Marinês não gosta de política, mas acha charmoso a hastag #ForaTemer.
O que ela desejava em seu íntimo era esbarrar com o próximo Che Guevara e fugir com ele para Cuba no jatinho de sua família.
Marinês têm vergonha de sua origem abastada.
Seu motorista já sabe que é pra deixá-la a duas quadras de distância de qualquer compromisso.
Ela odeia ser rica, mas é o dinheiro de sua família que, muitas vezes, salva o almoço e a passagem dos desvalidos revolucionários sem ideologia.
Sua família nada estranha as atitudes dela.
Marinês se ressente da não repressão em casa.
Na verdade ela se sente socialmente invisível.
Na delegacia é ela quem resolve, prevalecendo-se do foro privilegiado de seu pai.
Se é golpe ou não Marinês não sabe e tem raiva de quem saiba, mas segue quebrando a cidade de São Paulo empunhando sua camiseta vermelha (customizada na quinta avenida), enquanto em Brasília seu pai toma posse no lugar da governante deposta.
Essa é a nossa Marinês.