O menino prodígio

Robson Felix
Crônicas Urbanas
Published in
2 min readAug 6, 2016

Quinze anos, no auge do cenário da música.

Na verdade, foi nessa mesma época que Bilau começou a se descobrir homossexual, mas relutava e aceitar o estigma.

Nas entrevistas tentava se comportar como se fosse hétero, macho, pegador.

Exagerado, logo levou um processo de assédio.

Bilau não entendia o conflito interno que o rasgava as entranhas.

Ao mesmo tempo em que imprimia uma personagem hétero-juvenil em que não acreditava, não via saída. Bilau era o centro, a locomotiva de mais de 500 pessoas.

A casa começou a cair quando a jornalista que ele sufocou numa entrevista, sem importância, para a internet, foi demitida do portal.

Revanche corporativista machista, diziam os blogs.

Bilau queria pegar a jornalista no colo e dizer que não era nada daquilo, que ela havia entendido errado, que ele havia entendido tudo errado.

Tudo estava errado.

Bilau, em busca da fama, tornou-se um farsante, uma caricatura de sim mesmo.

Um rascunho mal acabado de um Justin Bieber latino.

Agora estava tudo ruindo sob sua cabeça.

Sua opção era revelar seu conflito interior ou desistir da música.

O caminho da derrocada era conhecido.

Primeiro os shows começaram a minguar.

Nem pra merda de corridinha com a tocha olímpica, diante da gritaria nas redes sociais, tiveram o colhão de mantê-lo.

Boatos davam conta de que a gravadora iria romper seu contrato.

As notícias pressionam todo o seu staff.

Que merda.

E agora começaram a pipocar twittes antigos de Bilau.

Merdas ditas por Bilau antes da fama.

Sem limites eram aqueles tempos.

Bilau metendo o malho nos apresentadores de televisão foi o de menos.

Deslumbrado com a fama repentina, Bilau dormiu com um fã do mesmo sexo, logo no início de sua carreira.

E gostou.

Amantes ao longo de dois anos, estava ficando difícil esconder o caso, dizia o seu assessor.

Só lhe restava, ele mesmo, se esconder.

Oficialmente, a nota falava em estudos e projetos pessoais.

A raia fofoqueira da impressa fala em retirada estratégica de Binho para fora do Brasil.

Não é má ideia, pensou Binho, enquanto tirava o braço do seu (em breve único) fã, que dorme alheio aos holofotes midiáticos; de cima do seu peito.

Foi apenas um sonho, repete Bilau em voz alta.

A fama não é mesmo algo para pessoas de espírito livre como eu, pontuou ele.

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