Seu lagarto mama?

Robson Felix
Crônicas Urbanas
Published in
2 min readAug 20, 2016

Juarez gostava de botecos, porém não suportava o esporte olímpico preferido pelos frequentadores além do levantamento de copo: as pegadinhas de duplo sentido.

Claro que a cacofonia é evidente, mas a pessoa que geralmente te lança uma frase de duplo sentido já começa a rir antes de perguntar.

Ele não aguentava mais parar para tomar uma cerveja de garrafa em qualquer pé sujo do rio e fatalmente ouvir uma frase de duplo sentido.

Isso quando o próprio nome do bar já não é uma “sacação” desse tipo.

Talvez faça parte do folclore carioca essa coisa de frases de duplo sentido.

Outro Afrânio falou para um sujeito na porta do bar:

— Vou te botar pra dentro, viu?

Vixi, quase deu briga.

O homem cuja frase foi endereçada, não gostou muito.

Juarez entendia o homem.

Era só ele pisar no bar que Afrânio logo o abordava com o seu bordão preferido:

— Jacaré no seco anda?

A primeira vez que ouviu esta frase de Âfranio, Juarez sentiu certa vergonha alheia pela piada velha.

Afrânio não se importava com isso, ele queria era ser engraçado, vazio, oco.

Juarez só queria beber sua cerveja gelada.

Juarez não gostava de muito papo, mas por frequentar o mesmo bar por anos as pessoas tomavam a liberdade de brincar com ela, apesar de sua fisionomia de “poucos amigos”.

Naquele dia Juarez mudou o horário para não encontrar Afrânio.

Não deu certo.

Afrânio chegou por trás e sapecou no ouvido de Juarez:

— Seu lagarto mama?

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