Suíla
A Preguiçosa
Conheci Suíla num desses dias nada a ver.
Nascida em Marrocos, prostituta por profissão, falava cinco idiomas e se dizia muçulmana não praticante.
Claro que nosso primeiro contato foi profissional, mas em pouco tempo nos tornamos amigos.
Por vício profissional, aos poucos, fui sacando que sua personalidade não combinava com sua profissão.
Suíla era preguiçosa, percebi logo de cara.
Não tenho na memória nenhuma lembrança de vê-la lavar um copo que seja em minha casa, varrer qualquer cômodo ou arrumar a cama, que seja.
Após o contato inicial a coisa caminhou naturalmente para uma amizade colorida sincera e descompromissada, de ambos os lados.
Mas, aos poucos o sexo deixou de ser uma opção para nós.
Já falei que Suíla era preguiçosa?
Prefiro falar sobre os defeitos dos outros no passado, se me permitem.
Considerando a possibilidade de metanóia em qualquer ser humano, acredito em um presente diferente.
Eu disse qualquer ser humano?
Continuando… um dia, reclamando da minha demora para gozar, Suíla me expulsou de dentro dela.
Esbravejou que se o pagamento pela pernoite era sexo, a partir daquele instante deixaria de me visitar.
Capitulei, afinal eu gostava da companhia dela.
Mas, após este dia traumatizei.
Na verdade bloqueei essa opção, o sexo, de nossa relação de amizade.
Até tentei algumas vezes após este fato, mas o constrangimento não valia a empreitada, pois eu não conseguia mais olhar para Suíla sem ver estampada a preguiça em sua testa.
Por preguiça deixou de frequentar a noite, chegando as raias da mendicância.
Tentamos juntos encontrar uma saída para ela.
Afinal, não deve ser tão ruim o mercado de trabalho para una pessoa que fala cinco idiomas.
Percebi que a única coisa que Suíla gostava de fazer era viajar sem sair do lugar com a ajuda dos livros.
Não tive opção: eu a contratei.
Suíla hoje é a primeira leitora de qualquer coisa que eu escreva.
Eu disse leitora, não revisora, ouviu bem?
Sim, pois é bom lembrar…
…Suíla era um pouco preguiçosa.