A educomunicação presente na obra House Of The Dragon da HBO

Como a série com “pegada” medieval e fantástica se comunica sobre questões atuais.

Bianca Silva
Creative Bee
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4 min readNov 27, 2022

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Quando se fala em Game Of Thrones (GoT) uma das primeiras reações que se tem do público é amor e também ódio. A obra baseada em Songs of Ice and Fire (As Canções de Gelo e Fogo), despertou amor, devoção, e também ira com a última temporada desagradando boa parte dos fãs, e se afastando do que seria o esperado das obras de G. R. R. Martin.

Contudo,, com o sucesso estrondoso e fãs assíduos, a HBO decidiu investir em mais uma história do universo de GoT, baseada no livro Blood and Fire (Fogo e Sangue) que conta parte da história de quando a casa Targaryen estava no ápice de seu poder, sendo a única casa de descendência valiriana a possuir dragões sob seu comando, de modo que a única ameaça para a casa Targaryen era a própria casa Targaryen.

Apesar disso, a série trata um período específico do livro, conhecido como Dance With Dragons (Dança dos Dragões) onde o atual rei Viserys I, indica uma mulher, sua filha princesa Rhaenyra como a herdeira legítima de Westeros, o que vai contra os princípios da época, para piorar a situação, após a morte de sua esposa, o rei se casa pela segunda vez, com a melhor amiga de Rhaenyra, Alicent Hightower, e tem com ela três filhos, Aegon, Aemond e Haelena. Fazendo com que o seu conselho real e o povo, se divida entre apoiar a herdeira, ou apoiar o filho mais velho Aegon.

De um lado temos uma Rhaenyra que tomará decisões cruéis e impiedosas em nome de se afirmar como herdeira legítima do trono, do outro temos uma Alicent que influenciada por seu pai, e se sentindo traída por uma mentira de Rhaenyra na adolescência, passa a persuadir seu filho a usurpar o trono da irmã, pelo medo de que Rhaenyra com a morte do pai, decida matar sua família.

É interessante observar como as mulheres tem um destaque gigantesco nas obras de G. R. R. Martin, e como House Of The Dragon tem o poder de dialogar com questões muito cotidianas apesar do universo de fantasia.

Ao analisarmos a história, questões como “ até que ponto alguém vai por poder?”, “qual o papel da mulher na sociedade?”, “a sociedade está preparada para uma liderança feminina?”, “até que ponto se justifica a crueldade em nome da justiça?” são questões muito vivas na nossa sociedade. Paulo Freire vai dizer que “O sujeito pensante não pode pensar sozinho; não pode pensar sem a co-participação de outros sujeitos no ato de pensar sobre o objeto. Não há um “penso”, mas um pensamos”. Desta forma, um dos motivos do sucesso da série pode ser dado através do diálogo que é construído com quem assiste. É impossível não tomar um lado na história dos meio-irmãos, mas as atitudes de ambos podem ser justificadas?

Um outro fator importante, é que através dessa comunicação dialógica traçada pelo enredo, o conceito de linguagem total também é altamente difundido na série. Uma vez que através da mensagem o enredo conversa com lembranças, princípios, situações cotidianas vividas e até traumas existentes, ele tem uma grande capacidade sensorial de ativar emoções e fazer com que o telespectador se envolva de forma pessoal com a série, Gutierrez vai dizer que a linguagem total reintroduz as pessoas num mundo de percepção, porque ela é algo pessoal e global, que trabalha diversos dos nossos sentidos.

E como para cada pessoa existe uma experiência única, não necessariamente elas irão concordar em defender os mesmos lados, ou justificar as atitudes de seus personagens da mesma maneira. É possível se identificar com ambas personagens, temos Alicent, como uma garota que foi praticamente obrigada pelo pai a seduzir o rei, pai de sua amiga e com sérias dificuldades de contrariar o que esperam dela, de modo que se torna uma rainha exemplar, porém com sérios problemas com a sua atual enteada, uma mãe que busca implacavelmente proteger sua família. Do outro, temos Rhaenyra, com a pressão de ser mulher e herdar o trono, com a o receio a mágoa de achar que ela nunca seria o filho homem que seu pai desejava, com uma ambição gigantesca de mostrar ao mundo que eles podem sim ter uma rainha e não um rei, entretanto ela diferente da rainha busca fazer o que deseja, mesmo que isso vá contra as boas maneiras defendidas pelo reino.

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Bianca Silva
Creative Bee

I'm a UI/UX designer student, working as designer and communications intern at IBM. I'm 25, and I really love design world, and I am always studying about it.