A diversidade ensina

Julia Dorigo
Creditas Academy
Published in
4 min readJun 1, 2021
Foto de Christina Morillo no Pexels

Depois de ler o texto “Desenvolver soft skills com recorte de diversidade: quando o desafio se torna estrutural” me senti muito mobilizada a cumprir o dever de casa que a Raquel Thomé nos propôs. Vamos ver no que isso vai levar.

Falar sobre diversidade é falar no plural, diversidades ou mesmo falar sobre representatividade, como a Raquel nos mostrou. Somos diversos, diferentes, múltiplos. Existimos de diversas formas, com diferentes corpos e diferentes histórias, isso significa que cada uma e cada um de nós teve uma vida, lidou com desafios diferentes e sobreviveu a eles, ainda que com algumas sequelas.

Essa diversidade humana existe, desde sempre, mas nunca teve espaço dentro dos lugares de poder, dentro de organizações, empresas, mundo corporativo. Precisamos reconhecer que por décadas, pra não dizer um século, as organizações só consideravam possível e desejável um tipo de pessoa dentro delas, só valorizavam um tipo de pensamento e de atuação e isso funcionou como um mecanismo de padronização. Esse mecanismo favorece um grupo social em detrimento de vários outros, e as pessoas que não pertenciam a este grupo foram precisando se moldar para caber dentro dessa caixinha de “padrão”. Foi assim, que ao longo desse tempo a nossa sociedade foi apagando, invisibilizando e desvalorizando a diversidade humana.

Todos vivemos e sentimos isso de alguma forma, não é mesmo? Mas o que mudou?

Através da revolução tecnológica trazida pela Era da Informação, tem sido possível ouvir mais vozes fora do padrão e, consequentemente, questionar a existência e os privilégios desse padrão. Os grupos minorizados conseguiram, felizmente, mais visibilidade, e nós temos sido convocados a olhar, reconhecer e valorizar a diversidade. Essa é uma transformação importante em nossa sociedade e está começando a acontecer, mas o que já temos aprendido com ela é que a diversidade nos ensina? Bom, aqui está a perspectiva que quero trazer.

Nós somos seres sociais, e vamos nos desenvolvendo à medida que aprendemos com outras pessoas, desde a nossa infância. Você já parou para pensar como aprendeu a amarrar sapatos? A gente aprende olhando as pessoas ao nosso redor e entendendo que aquilo ali que colocamos no nosso pezinho, ainda crianças, tem uma etapa a ser cumprida antes da gente sair andando por aí. É olhando e convivendo uns com os outros que vamos aprendendo isso e inúmeras outras coisas, o desenvolvimento humano depende dessas aprendizagens, que acontecem durante toda nossa vida.

Beleza, mas qual a relação disso com a diversidade e o mundo corporativo?

Bom, se aprendemos no convívio social e se nos desenvolvemos a partir dele, estar com pessoas diferentes nos ensina muito, sobre a gente e sobre os outros. Ao ver, ouvir e reconhecer pessoas diferentes de nós, também somos convocados a ver e ouvir nós mesmos. Quando estamos em um grupo muito homogêneo as experiências se assemelham — e não é raro a gente ter as mesmas soluções para os problemas. Essas soluções fomos aprendendo com nossas experiências de vida, portanto, quando o grupo é diverso aprendemos muito mais. Podemos aprender desde olhar em perspectiva para um problema até uma solução inovadora. Quer dizer, conversando com pessoas com histórias de vida diferentes da nossa podemos aprender que aquele problema que estamos trazendo ali nem é tão universal como achamos ser, ou podemos ouvir um outro caminho completamente diferente para soluciona-lo. Agora, imagina isso dentro de uma empresa que quer desenvolver soluções para os seus clientes — que no mundo atual são quase todas. Mais experiências de vida trazem mais soluções criativas, trazem mais formas de pensar, mais empatia e mais compreensão sobre as questões que estamos tentando entender.

Isso porque nem falei sobre o aprendizado individual, de se entender como parte de um grupo privilegiado ou não, em nos entendermos como parte de uma engrenagem, que exclui mais do que inclui, e nos colocarmos como potenciais transformadores dessa realidade. Isso, claro, quando empoderamos os grupos minorizados para poderem se colocar e dividir as mesas de discussão, mas aí é tema pra outro texto, né?

Por enquanto, acho muito importante falarmos de diversidade como forma de aprendizagem, como potencializadora das nossas capacidades, como algo que nos transforma e por isso precisa muito ser alcançada dentro das organizações.

Deixo aqui meu mais sincero agradecimento a Raquel Thomé, que me colocou essa vontade de falar sobre isso depois do seu lindo texto. E você, já parou pra pensar o papel da diversidade na sua vida?

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