A educação é sempre uma teoria do conhecimento posta em prática

Para Paulo Freire, a teoria e a prática devem sempre andar juntas na educação. Por que haveria de ser diferente na Educação Corporativa?

João Marcello Bertazza
Creditas Academy
Published in
6 min readNov 30, 2020

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Quem é da Creditas já conhece a Creditas Academy, não importa há quanto tempo faça parte da Nave.

A partir do primeiro dia da jornada de cada novo tripulante conosco, lá estamos nós, contribuindo de maneiras diferentes para o aprendizado e desenvolvimento de cada um.

E mesmo sendo tão presentes no dia a dia da tripulação, aplicando treinamentos, dinâmicas e criando experiências de aprendizagem diversas, talvez uma coisa possa passar despercebida: por trás de toda iniciativa que desenvolvemos, sempre há método.

“Embora seja loucura, há nela certo método.”
Polônio em Hamlet, de William Shakespeare

Mais do que método, sempre há preocupação com a metodologia.

Embora parecidos, não queremos tratar esses dois termos como sinônimos por aqui: por método entendemos os caminhos possíveis para descrever, explicar ou resolver um problema/fenômeno; quando falamos de metodologia, por outro lado, queremos nos referir ao estudo e avaliação dos métodos disponíveis, de modo a entender as implicações e o impacto de cada um em diferentes condições de aplicação.

Nesse sentido, nossa preocupação com a metodologia se deve ao fato de que nos estudos educacionais, assim como em toda ciência, há diferentes teorias e diferentes métodos de ensino e de aprendizagem possíveis para se atingir um mesmo objetivo: o treinamento e desenvolvimento de indivíduos.

No nosso caso, estamos tratando do contexto da Educação Corporativa, compreendendo iniciativas de Treinamento e Desenvolvimento (T&D).

Em seu livro “Treinamento e Desenvolvimento com foco em Educação Corporativa”, Roberto Madruga, um dos principais nomes da educação executiva no Brasil, afirma o seguinte:

O cerne do Treinamento e Desenvolvimento (T&D) é promover a criação e o aprimoramento de competências junto às pessoas, resultando em aprendizagem organizacional. Esse processo alia a metodologia e a prática de tal forma que possam atuar na transformação de pessoas por meio da utilização dos princípios andragógicos e heutagógicos.

Já falamos bastante sobre esse assunto aqui no blog da Creditas Academy, lembra?

Em certa ocasião, demonstramos a importância da utilização de princípios andragógicos em iniciativas de T&D, já que o processo de aprendizagem de adultos é diametralmente diferente do processo de aprendizagem de crianças e jovens.

Depois, defendemos que gerações diferentes aprendem de formas diferentes e, portanto, há métodos e abordagens mais adequadas para cada uma delas.

E em outras duas oportunidades diferentes (“O olhar para competências: uma transformação necessária” e “Conhecimento, habilidade e… atitude! A conexão entre gestão por competências e educação corporativa”) pudemos nos debruçar sobre a importância da gestão por competências na Educação Corporativa. A necessidade de formar profissionais por meio da gestão por competências, pressiona pela busca de metodologias e técnicas que favoreçam o desenvolvimento de conhecimentos conectados a habilidades e atitudes (formando o trio CHA — conhecimento, habilidade e atitude — que forma uma competência).

A escolha do método

Diante disso, uma coisa é certa: nossa preocupação com a metodologia de ensino nos obriga a reconhecer que certos métodos funcionam melhor do que outros na realidade de T&D em Educação Corporativa. Por isso, a escolha do método usado em uma iniciativa de aprendizagem faz toda a diferença em um processo de T&D dentro das empresas.

Já sabemos que o uso dos princípios andragógicos e a gestão por competências são dois componentes fundamentais no contexto da Educação Corporativa.

Vamos abordar brevemente alguns métodos bastante difundidos no Brasil e avaliar se eles podem ou não contribuir para uma melhor prática de T&D nas empresas?

1. Método tradicional

Certamente você já experimentou esse método de ensino em algum momento da sua vida. Há ainda grandes chances de que esse tenha sido o método predominante durante a sua trajetória educacional formal.

O método tradicional é a clássica abordagem expositiva que coloca, de um lado, o detentor do conhecimento — o professor — , e de outro, o aluno.

Lembrou das aulas de matemática, né?

Embora esse método tenha seu valor e ainda seja amplamente utilizado nas escolas e universidades brasileiras, seu estilo vai de encontro a postulações básicas da Andragogia, pois não considera de maneira profunda a experiência e os conhecimentos prévios do aluno e não oferece possibilidades de autonomia no processo de aprendizagem.

Não quer dizer que você não pode usar o método expositivo em iniciativas de T&D. Mas os resultados podem ser melhores se você privilegiar o uso de outros métodos que falaremos mais abaixo.

2. Método Construtivista

Baseada no trabalho do psicólogo e epistemólogo suíço Jean Piaget, a abordagem construtivista faz o que o método tradicional não promove: um foco no indivíduo que aprende, colocando-o como parte direta e fundamental do aprendizado.

Nesse sentido, a dualidade professor enquanto detentor do conhecimento vs. aluno enquanto ator passivo do processo de aprendizagem não se sustenta.

A explicação para o nome vem da compreensão de que o conhecimento é algo construído, não repassado ou transferido do professor para o aprendiz.

Assim, nesse método o indivíduo é muito mais ativo e protagonista em seu próprio processo de aprendizagem, o que pesa a favor de seu uso em um contexto de Educação Corporativa.

3. Método Sócio-Interacionista/Sócio-Construtivista

Um desdobramento da Escola Construtivista dos estudos pedagógicos, o método Sócio-Interacionista ou Sócio-Construtivista se baseia nas ideias do psicólogo russo Lev Vygotsky.

Nesse método, se mantém o foco no indivíduo trazido por Piaget. No entanto, o contexto/a experiência do aluno e suas relações interpessoais passam a ser vistos como de fundamental importância para seu processo de aprendizado.

Assim, a aprendizagem é vista como um processo consciente e reflexivo. Momentos de discussão e interação com outros indivíduos e grupos são muito encorajados, já que favorecem a construção do conhecimento.

Aqui o professor passa a adotar um papel de mediador, muito diferente do papel de detentor do conhecimento adotado em abordagens mais tradicionais.

O método de Vygotsky dialoga de maneira interessante com os princípios andragógicos, já que leva em completa consideração a autonomia e a experiência do estudante durante processos de aprendizagem.

Esse método pode — e deve! — ser usado em iniciativas de T&D, especialmente por favorecer momentos de interação e discussão. Ambientes de aprendizagem como esses são ótimos para o desenvolvimento de competências comportamentais.

4. Método Paulo Freire

Para além de todos os ataques recentes à figura de Paulo Freire na educação brasileira, é necessário reconhecer seu trabalho e sua imensa contribuição teórica e prática para os estudos educacionais no Brasil e no mundo. Não à toa, é o Patrono da Educação Brasileira.

Seu método de alfabetização de adultos, popularmente chamado de Método Paulo Freire de Alfabetização, entrega alguns aprendizados para a prática andragógica.

Em oposição às técnicas de alfabetização vigentes na década de 1960, muito baseadas em cartilhas e memorização de sílabas, Freire entendeu como necessário relacionar o processo de alfabetização à realidade objetiva de seus alunos.

Dessa maneira, também compreendendo que o conhecimento se constrói a partir de experiências e conhecimentos prévios de cada um, o método tem 3 etapas centrais: a investigação, a tematização e a problematização.

Na primeira etapa, aprendiz e professor juntos buscam palavras e temas centrais da vivência do indivíduo e da sociedade em que ele está inserido (é a seleção das chamadas “palavras geradoras”).
Na segunda etapa, as palavras são relacionadas a temas e associadas a situações do dia a dia, oferecendo aplicabilidade a seu uso.
Na terceira etapa, o professor inspira o estudante a buscar uma postura consciente e crítica acerca da sua realidade.

Portanto, assim como a Andragogia, é um método completamente voltado para a experiência, o conhecimento e o diálogo tanto entre professor e aprendiz como entre os próprios estudantes.

5. Metodologias Ativas

Por fim, vale trazer um tema que ainda será abordado no blog mais adiante, mas que também tem seu valor aqui.

As metodologias ativas servem para inverter radicalmente a sala de aula: o educador, que é central para o método tradicional, passa a ter papel acessório; o verdadeiro protagonista da jornada, nessa abordagem, é o estudante.

Essas metodologias são diversas e podem se estruturar de várias formas. Alguns exemplos são a Aprendizagem Baseada em Projetos (Project-Based Learning — PBL), a Aprendizagem Baseada em Problemas, Estratégias de Gamificação, enfim.

Diante do grau de autonomia que essas metodologias oferecem ao aluno, não precisamos nem dizer como elas são centrais para iniciativas de T&D em Universidades Corporativas, não é?

Para além das metodologias abordadas antes, que tal uma lista de técnicas de ensino que podem ajudar no T&D de seus colaboradores? Nunca esquecendo, é claro, de como é importante manter em mente a centralidade dos princípios andragógicos e da gestão por competências!

Dá uma olhada:

  • Sessões de Brainstorming
  • Storytelling
  • Debates
  • Design Thinking
  • Dinâmicas de grupo
  • Estudos de caso
  • Rodas de conversa
  • Sessões de feedbacks
  • Simulações
  • Testes de conhecimento gamificados

Esperamos que tenha gostado!

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