Entre a cama e a planilha: mundo pessoal e mundo profissional no home office

João Marcello Bertazza
Creditas Academy

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Segunda-feira, 8h30 da manhã: hora de acordar e ir para o trabalho.
Se essa frase fosse escrita em 2019, seu significado seria completamente diferente do atual, não é?

Em 2020, para todos aqueles que têm a possibilidade de trabalhar em casa durante a pandemia da Covid-19, o conceito de “ir para o trabalho” tornou-se um pouco mais subjetivo. Se antes meu trajeto até o escritório levava por volta de 1h, percorrendo 8 quilômetros em um ônibus municipal lotado, hoje a situação é um pouco mais básica: basta dar alguns passos dentro de casa, sentar no meu espaço de trabalho (que fica ao lado da minha cama) e começar mais um dia.

Ei, trabalho: mi casa, su casa!

Minha mesa de trabalho fica a 1 metro de distância da minha cama. É essa a fronteira que separa, de um lado, minha vida pessoal, representada pelo descanso, pelo lazer, pelo entretenimento; e, do outro, minha vida profissional, representada pela minha atuação enquanto tripulante da Creditas Academy.

Não preciso nem me esforçar para dizer como foi (e, muitas vezes, ainda é) difícil encontrar esses limites entre pessoal e profissional nessa recente rotina de trabalho remoto. Seria surpreendente essas fronteiras não se confundirem entre si agora que estão fisicamente limitadas apenas pelo ambiente doméstico.

E agora que a vida está fisicamente concentrada em um único lugar, mesmo com sua multiplicidade de áreas de foco, vale um conselho de amigo: você ainda é uma pessoa só. Isso quer dizer que, mesmo desempenhando papéis diferentes nas esferas de atuação da nossa vida, nós ainda somos um único indivíduo, com energia e tempo limitados. Os dias sempre tiveram 24 horas e continuam sendo assim.

Uma rotina potencialmente desastrosa

O problema é que nem sempre queremos aceitar que não conseguimos salvar o mundo em um único dia. Ainda mais agora em que o ambiente doméstico se tornou palco das tarefas pessoais e também das tarefas profissionais.

Se não reconhecemos os limites entre cada uma dessas esferas, a tendência é desenvolver uma rotina mais ou menos assim:

  • Você acorda um pouco mais tarde do que o usual, pois não precisa se preocupar com o deslocamento físico até o escritório;
  • Mesmo assim, marcaram uma reunião logo no primeiro horário. Como você acordou bem em cima da hora, vai ficar sem tomar café-da-manhã por hoje;
  • Ao longo da manhã, você participa de várias chamadas de vídeo, sobrando pouco tempo para pensar no almoço do dia;
  • Como a manhã foi complicada, você entende que talvez seja melhor comer alguma besteira no almoço. Assim você economiza o tempo que passaria cozinhando e almoçando;
  • Para dar conta de tudo que quer fazer naquele dia, você almoça na mesa de trabalho mesmo;
  • Você retoma o trabalho com tudo depois de almoçar, já que a tarde está mais livre e você tem mais tempo para ser produtivo;
  • Durante à tarde, você evita qualquer tipo de pausa para conseguir aproveitar ao máximo o tempo disponível, mesmo apesar de se sentir mentalmente cansado;
  • Em algum momento você percebe que está procrastinando pela quinta vez, e então, com raiva de si mesmo, se cobra concentração e foco;
  • O relógio marca 18h00 e você ainda não fez tudo que gostaria de ter feito naquele dia de trabalho.

E como você não precisa se preocupar com o caminho de volta do escritório para casa, é aí que aparece aquela voz na cabeça, aquele nosso monstrinho da autocobrança excessiva. Ele te diz o seguinte:

“Trabalha mais um pouco, você precisa salvar o mundo HOJE!”

Como a voz do monstrinho é bastante convincente, você decide mesmo trabalhar mais um pouco. Quando finalmente fica satisfeito com o que produziu naquele dia, já são 20h30, você se lembra que não comeu nada desde aquele almoço improvisado 8 horas atrás e ainda tem que pagar uma conta, lavar a louça acumulada e ligar pra família.

Que canseira, hein? Mas vem cá: precisa ser assim?

Fronteiras confusas, territórios complexos

É claro que uma rotina dessas não é uma exclusividade do trabalho remoto. Mas a ausência de limites entre o mundo do trabalho e o mundo pessoal dentro de casa abre espaço maior para que rotinas assim se construam.

A grande questão no meio disso tudo, portanto, é que não dividir bem esses dois mundos pode ter consequências muito negativas para sua saúde. Não à toa, vivemos um momento em que os casos de depressão, ansiedade e estresse aumentaram bastante entre os brasileiros.

Em uma pesquisa realizada em maio pela Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), 56% dos profissionais entrevistados afirmaram que equilibrar a vida profissional e a vida pessoal têm sido um grande desafio. E o resultado dessa dificuldade é claro: cansaço, fadiga, falta de energia, sensação de incompletude.

Entre psiquiatras e outros profissionais da saúde, já existe até certo consenso em torno da ocorrência de uma epidemia de exaustão.

Até antes mesmo da pandemia e das medidas de isolamento social, o filósofo coreano Byung-chul Han já comentava sobre a sociedade do cansaço, uma consequência do culto ao trabalho e à produtividade, de uma constante preocupação com o desempenho.

O cenário atual é muito desfavorável para quem já tinha dificuldade para definir essas barreiras entre trabalho e lazer. Fica o sinal de alerta para você que está trabalhando de casa: tome cuidado para não transformar essa situação de difícil separação entre pessoal e profissional em ausência completa de limites entre essas duas esferas.

Quando você se dá conta disso, alguns hábitos negativos e extremamente prejudiciais começam a se destacar: você está trabalhando além do expediente em quase todos os dias da semana, sua alimentação não está boa, você está dormindo poucas horas por noite, não sobra tempo no dia para praticar atividades físicas e você passa praticamente o dia inteiro olhando para telas (do celular ou do computador).

Mas, afinal: é possível separar o ambiente pessoal do ambiente profissional quando essas duas esferas estão fisicamente tão próximas uma da outra?

Sim! Não é fácil, mas o caminho passa por reconhecer essa necessidade de definir limites entre as duas esferas. Depois disso, adotar hábitos positivos e focar em novas atitudes para sua rotina pode ajudar a mudar essa realidade. Seguem abaixo algumas dicas:

  • Cada coisa em seu lugar

Se você pode colocar seu escritório em um cômodo diferente do seu quarto, faça isso. Se não, foque em definir horários específicos para se dedicar ao trabalho e horários para desligar a cabeça do mundo profissional.

  • Como está seu sono?

Além disso, não deixe de se preocupar com seus hábitos de sono. Uma boa dica é tentar praticar a higiene do sono, estabelecendo horários para dormir, criando rituais de relaxamento perto da hora de dormir e limitando o uso de telas ao longo do dia (e principalmente durante a noite). Manter um horário fixo para acordar também é uma ótima ideia!

  • Um passo de cada vez

Quando acordar, não pule da cama direto para o trabalho: respeite seu tempo, cuide da sua higiene pessoal e não pule o café-da-manhã. Se conseguir, pratique atividades físicas logo pela manhã, antes de começar a trabalhar.

  • Coffee break!

Ao longo do dia, faça pausas regulares durante o trabalho e aproveite esses momentos para fazer lanches rápidos.

E lembre-se:

tentar fazer tudo ao mesmo tempo não é uma possibilidade, embora já estejamos acostumados a esse tipo de comportamento. Leve seu dia com calma, sem se cobrar demais, seja gentil consigo mesmo. Aceitar a limitação da nossa capacidade de fazer coisas e entender que nossa existência não depende da utilidade talvez seja um bom primeiro passo.

Precisamos reconhecer que o universo profissional e o universo pessoal são coisas bastante diferentes e que, acima de tudo, esses dois universos podem e devem estar em equilíbrio nas nossas vidas.

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