O impacto da pandemia nas estruturas tradicionais do trabalho

Creditas Academy
Creditas Academy
Published in
6 min readSep 8, 2020

Feche os olhos e volte para mais ou menos 6 meses atrás, em março: onde você estava?

De forma geral, provavelmente estávamos todos tentando entender a gravidade da chegada ao Brasil de um vírus que já havia se propagado pela Ásia e pela Europa de maneira assustadora. Quando da confirmação oficial do primeiro caso da Covid-19 no Brasil, em 26 de fevereiro, já se instalava um estado de alerta; e na metade de março, quando veio a notícia da primeira morte confirmada da pandemia, ficou evidente que as coisas seriam bastante diferentes do que estávamos acostumados a viver — ao menos temporariamente.

Nosso primeiro choque foi o mesmo de tantos outros trabalhadores de cerca de 46% das empresas brasileiras durante a pandemia: da noite para o dia, o trabalho virou sinônimo de trabalho remoto, e o termo home office entrou de uma vez por todas no nosso vocabulário.

Não foi uma mudança tranquila

Para além das adaptações físicas necessárias para encaixar um escritório no espaço doméstico, poucos de nós haviam experimentado o trabalho remoto em algum momento da trajetória profissional — e quando essa experiência foi possível, dificilmente durou mais do que 1 ou 2 dias em uma mesma semana. Não à toa, o volume de notícias e reportagens focadas em abordar dicas e boas práticas de trabalho remoto aumentou muito nesse período, diante da necessidade que muitos trabalhadores sentiram de se adaptar a uma lógica diferente de trabalho.

Se você chegou aqui e ainda está lembrando de como tudo mudou lá em março, recomendamos que agora você volte para o presente: fato é que sentimos os impactos dessa mudança e hoje encaramos o trabalho de uma forma diferente. Vamos entender todos os fatores que compreendem essa mudança de sentido do trabalho, tanto em suas matizes positivas quanto em seu lado mais problemático e questionável.

Ainda que trazendo consigo uma dose extremamente necessária de adaptação e transformação, o trabalho remoto também revela alguns ganhos, tanto em nível pessoal quanto profissional.

Talvez o principal ganho seja o fato de você só precisar se deslocar de um cômodo a outro para começar a trabalhar, uma realidade bastante diferente daquela que te obrigava a tomar dois ônibus para ir e dois ônibus para voltar do escritório. Há quem considere o tempo gasto no transporte público como um bom momento para ler ou se distrair de alguma forma. Mas cá entre nós: é muito bom não depender do trânsito todos os dias para ir trabalhar, não é?

Para se ter ideia da mudança que isso cria na rotina: uma pesquisa feita em setembro de 2018 pelo Ibope e pela Rede Nossa São Paulo mostrou que os paulistanos gastam, em média, 2h43min por dia apenas em deslocamento. E ainda que estejamos falando da realidade de uma das maiores metrópoles do mundo, outras grandes cidades e capitais brasileiras enfrentam problemas muito similares na mobilidade pública.

Menos tempo em deslocamento também gera outros tipos de ganhos: mais tempo para manter uma rotina de sono saudável, um momento extra para cuidar de tarefas pessoais, aquele espaço necessário na agenda para criar uma rotina de atividades físicas… são quase 3h do seu dia que se abrem para novas possibilidades.

Sem contar, é claro, na diferença que isso faz no bolso, seja gastando menos com transporte público ou então com gasolina. Além disso, passando menos tempo fora de casa, os gastos com alimentação em restaurantes e lanchonetes diminuem bastante. Isso também traz um impacto positivo para nossa saúde: pesquisas apontam que comer aquela comida preparada em casa é mais saudável do que comer em restaurantes.

E qual é o impacto disso tudo para o trabalho, no fim das contas?

Com a rotina de trabalho passando a fazer parte da vida doméstica, mais do que nunca nos tornamos responsáveis pela nossa organização e autogerenciamento do dia a dia profissional. O desafio de ser produtivo e gerir seu tempo da melhor forma possível sem ninguém te observando de perto pode ajudar a desenvolver autonomia e protagonismo no ambiente de trabalho.

Na essência, então, o home office apresenta algumas tendências positivas para o trabalho do futuro: estamos falando de maior flexibilidade na rotina de trabalho, maior possibilidade de equilíbrio entre pessoal e profissional no dia a dia e maior autonomia e protagonismo na sua gestão de tempo.

E qual é o outro lado dessa mudança?

Até aqui conseguimos perceber que, como em qualquer acontecimento de grande impacto na sociedade, a pandemia tem causado impactos que vão continuar mudando a forma que nos relacionamos com o trabalho.

É fato que as mudanças causadas pela pandemia provocaram avanços que podem oferecer mais liberdade e qualidade de vida para o trabalhador, seja pela modernização das relações de trabalho ou a comodidade do trabalho remoto. Porém, como todo processo de transformação da sociedade, há consequências positivas e negativas e alguns desafios vão além da vontade de sair de casa.

Logo no início da pandemia, passamos por um processo repentino de adaptação da legislação trabalhista para conter os impactos econômicos e introduzir o home office e. éÉ inegável que a possibilidade de trabalhar remotamente garantiu empregos e permitiu que muitas empresas continuassem atuando, muitas com o objetivo de continuar com a prática após a pandemia. Se por um lado elas são necessárias para lidar com essa nova realidade, uma das primeiras preocupações durante esse processo foi desregulamentação das relações de trabalho e a perda de direitos do trabalhador.

Por tratar de aspectos centrais do Direito Trabalhista como a flexibilização de jornadas e férias, redução salarial e a diminuição de obrigações do empregador, a adaptação brasileira precisa ser rápida porém sem deixar de lado as condições de trabalho.

Se há impacto no trabalho registrado, também temos consequências no trabalho informal. O setor representa em torno de 40% do trabalho no país e assistiu um aumento dos trabalhadores em aplicativos de transporte e entrega, boa parte em função do crescimento do desemprego no país — os números indicam uma taxa acima de 13% no segundo trimestre de 2020 — e a necessidade de um complemento na renda devido aos impactos no comércio, suspensões de contrato e reduções salariais.

Esse crescimento do setor, mesmo com os impactos positivos para a movimentação da economia, também deve ser observado com cautela , já que o trabalhador informal normalmente já ocupa posição mais vulnerável por não ter um conjunto de proteções sociais e estabilidade. Com longas jornadas de trabalho, pouco respaldo legal, baixa remuneração e a falta de equipamentos de proteção em um momento de pandemia, os trabalhadores informais reforçam a importância de um movimento organizado para lidar com as consequências econômicas da pandemia sem deixar de lado a dignidade do trabalhador.

Apesar de já conhecermos alguns impactos da pandemia, muitas mudanças estão por vir na nossa sociedade e nas relações de trabalho. O futuro é imprevisível. Acompanhar esse processo de forma crítica é uma forma de chegarmos lá aproveitando as consequências e aprendizados que agregam de forma positiva à nossa sociedade.

Texto criado entre a parceria de Mateus Ferreira de Oliveira e João Marcello Bertazza para a Creditas Academy.

Conheça a Creditas. Acesse nosso site e confira nossas vagas. Se quiser conhecer mais nossa Universidade Corporativa, entre em contato pelo creditasacademy@creditas.com.br

--

--

Creditas Academy
Creditas Academy

Somos a primeira Universidade Corporativa de uma fintech no Brasil e gostaríamos de compartilhar um pouco sobre o que estamos aprendendo nessa jornada