O papel transformador da autonomia no aprendizado
“Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão” - Paulo Freire
Logo no início das nossas postagens neste blog, trouxemos um assunto que, aqui na Academy, constantemente está em nossas tomadas de decisão e no nosso cuidado no momento de desenvolver trilhas ou aplicar conteúdos: a Andragogia. Nesse texto, ao destacar alguns pontos relevantes sobre o aprendizado de adultos e levantar algumas premissas estabelecidas por Malcolm Knowles, falamos sobre a autonomia no aprendizado, representada pela capacidade e o interesse do adulto em se sentir responsável pela sua jornada.
Sendo a autonomia um dos 5 pontos a serem levados em consideração pelo educador, de acordo com os princípios andragógicos, chega o momento de questionar.
Como se dá essa autonomia por parte de quem aprende? E qual é o papel de quem ensina em uma estrutura de aprendizado baseada na autonomia?
Antes de responder essas perguntas, faz sentido ir um pouco mais além no significado da autonomia e qual é o entendimento geral sobre ela. Ao buscar algumas definições sobre a palavra, a maior parte delas chama atenção para a capacidade do indivíduo de governar-se pelos próprios meios ou, a partir da definição de Kant, a capacidade de autodeterminação da vontade humana por parte do indivíduo, de acordo com seus valores e princípios morais.
Ao analisar essas e outras definições sobre o termo, cada vez mais entendemos que o conceito vai se relacionar com a independência e a liberdade na tomada de decisões, nos levando a uma impressão de que autonomia no processo de aprendizagem é apenas o foco no indivíduo e suas vontades, sua liberdade de escolha e objetivos. A partir desse entendimento, o autodidatismo começaria a se confundir com a autonomia, e aprender sem um educador ou instrutor se tornaria cada vez mais o método mais eficiente para adultos. Mas além de consumir o conteúdo, o quanto esse indivíduo estaria participando da construção do mesmo? Há nesse exemplo uma liberdade exercida para além da escolha dos horários de estudo?
Autodidatismo e autonomia
Para traçar essas diferenças entre o autodidatismo e a autonomia, podemos recorrer à Paulo Freire, que tem a autonomia como foco em sua obra em diversos momentos. No livro Pedagogia da Autonomia, é abordado um ponto interessante sobre o papel do educador:
“Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção”
Paulo Freire desvincula do educador a responsabilidade de apenas transferir o conhecimento para seus alunos e o coloca como um ator que participa do processo de construção junto aos indivíduos, viabilizando e provocando a produção do conhecimento.
Sob essa perspectiva, cada vez mais entendemos o processo de aprender como uma construção coletiva com respeito mútuo e solidariedade, na qual o indivíduo tem liberdade para transformar e construir a experiência de aprendizagem justamente pelo respeito e reconhecimento de suas diferenças e complementaridades em conjunto com seus interesses e talentos. A autonomia, portanto, é mais do que ser autodidata. A independência e a liberdade nela envolvida possuem uma relação muito próxima com a libertação do indivíduo e a construção e reconstrução coletiva do saber consigo mesmo, com o outro e com o educador.
Construção do conhecimento
Com essa definição mais ampla de autonomia, podemos retornar ao trecho de Freire visto ainda há pouco. Ao estabelecer que é papel do educador a criação das possibilidades, ou seja, a viabilização da construção do conhecimento, há um contexto importante que não pode ser deixado de lado: no ensino formal, a aprendizagem ativa, ou seja, a experiência de aprendizagem na qual o aluno não tem o papel apenas de receptor de informações, normalmente não é incentivada. Nesse contexto, ao longo de nossas experiências temos, inclusive, algumas características suprimidas, como a curiosidade, poder de escolha e individualidades. A autonomia não é fomentada e, por muitas vezes, questionar as estruturas e métodos acaba sendo entendido como uma característica negativa.
Tendo isso em mente, falar em viabilizar a construção do conhecimento tem agora um novo significado, ao construir as possibilidades para a produção de conhecimento, quem ensina precisa ter o cuidado de incentivar essa autonomia que em outros momentos foi suprimida, além da aceitação das diferenças, características e talentos únicos de cada um nessa construção. Um texto do Alex Bretas aqui no Medium traz uma boa definição:
“É como se vinculássemos à demanda por liberdade individual — epicentro do significado inicial de autonomia — um cuidado amoroso com o outro, legítimo ainda que muito diferente de mim.”
Assim como a autonomia não se resume à descrição do dicionário, as relações construídas durante o processo de aprendizagem vão muito além de atores separados com funções de aprender e ensinar. Paulo Freire diz que, em condições de verdadeira aprendizagem, “os educandos vão se transformando em reais sujeitos da construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado do educador, igualmente sujeito do processo” (Freire, 1996). Dessa forma, todos somos sujeitos do processo de construção do saber e, ao incentivar essa autonomia, que nos provoca a aceitar diferenças e a aprender e ensinar de acordo com nossas especificidades e interesses, o ensino se estabelece como instrumento de libertação e transformação social.
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