Mudando de carreira para me tornar um desenvolvedor

Rodrigo Pontes
Creditas Tech
Published in
8 min readOct 5, 2018

Até Novembro de 2016, com 37 anos, todas as minhas experiências profissionais eram em ONGs, vendas ou marketing. Foi quando eu comecei a estudar desenvolvimento web em tempo integral. Sete meses depois, em Junho de 2017, eu fui contratado na Creditas como Desenvolvedor Front-End Júnior. Eu quero compartilhar o que eu estava pensando neste mês que eu decidi mudar de carreira.

Uma decisão baseada em paixão e dinheiro (not)

Este seria o título deste post se fosse uma propaganda de novela. E seria um título bastante equivocado. Basear uma decisão profissional na quantidade de dinheiro que você potencialmente irá ganhar não é uma ideia lá muito boa. Basear uma decisão profissional em paixão é uma ideia horrível.

O termo “paixão” molda a decisão da maneira errada e prejudicial ao ponto, quando estamos falando de carreira. Eu prefiro usar o termo “satisfação”, que proporciona um contexto bem melhor. A tentação de aconselhar alguém a seguir sua paixão na decisão de carreira é compreensível. Paixão é tanto apelativa quanto aspiracional. O termo engana o seu cérebro a pensar que deveria se importar com o que quer que seja consumido junto a ele. É como o açúcar do aconselhamento vocacional. O fundo de verdade que existe nesse conselho é o seu sentimento sobre uma profissão deve sim ser considerado na decisão. Mas paixão lhe dá um contexto de absoluto, de sentimentos urgentes, inseparáveis de circunstâncias atuais. Para uma decisão que irá moldar seus próximos anos, é melhor basear-se em sentimentos mais relativos, mais perenes, alinhados com valores pessoais mais fundamentais que interesses passageiros.

Por iss “satisfação” é um conceito melhor. Você sente satisfação com as atividades cotidianas que realizará em sua profissão? Essa é a pergunta certa a se fazer.
Mas ainda assim é complicado. Satisfação é um sentimento, sentimentos mudam muito e nós os projetamos através de todas as dimensões de nossas vidas. Então, ajuda se você pensar sobre sua satisfação em relação a outras possíveis escolhas profissionais e não comparando com atividades de lazer ou em termos absolutos. Por exemplo, em um dia ótimo, quando você está feliz com seus amigos e família, com um lindo dia de sol lá fora e você tem que trabalhar: você preferiria estar programando ou trabalhando em uma de suas outras opções de carreira? E o contrário, em um dia feio, com você se sentindo triste com problemas pessoais e você tem que trabalhar: ainda preferiria estar programando ao invés das outras opções? Com a premissa que trabalhar é necessário, qual trabalho te deixa mais satisfeito?

Dinheiro é parte da equação, mas um foco muito limitado nele acaba sendo contraprodutivo. Dinheiro cumpre um papel útil como meta e, para algumas pessoas, como motivação. Mas ser obcecado por ele aumenta o sempre presente e perigoso risco de deixar que o resultado esperado ofusque o processo para alcançá-lo. O efeito prático disto é nos convencer que o mundo nos deve uma recompensa e não que nós devemos fazer por merecê-la. O que praticamente garante uma vida de insucesso e frustração. Desenvolvimento de software está cheio de empregos que pagam muito bem, mas o dinheiro é consequência da performance no trabalho e escolhas profissionais. Pequena digressão: sorte também é um fator, mas é mais uma constante nessa equação do que uma variável que podemos controlar. Fazer política de escritório é ainda outro fator, mas mesmo que algumas pessoas optem por usar política como uma variável para ganhar mais dinheiro, neste momento de decidir por uma mudança de carreira é uma constante baseada na índole de cada um. Então ambos os fatores, sorte e politicagem de escritório, não entram no mérito dessa decisão. Fim da digressão, voltemos a pensar sobre escolhas de carreira e performance no trabalho.

Considere quais são suas opções de carreira dentro do mundo de desenvolvimento de software. Uma boa maneira de começar é responder à pergunta: “O quão bons são os trabalhos na minha área que são adequados para mim?” Sua área pode ser a sua cidade ou todo o Brasil se você não se importar com a mudança de cidade. É muito difícil começar como um desenvolvedor junior em outro país, assim como em empregos remotos, então não considere essas possibilidades na sua decisão.

Entenda qual tipo de desenvolvimento de software é mais adequado para você começar sua carreira. Machine Learning e Inteligência Artificial estão com demanda altíssima atualmente e pagam muito bem, mas são especialidades que dependem de conhecimentos bastante sólidos de matemática e estatística e precisam de muito mais tempo de estudo para assimilar o básico do que, por exemplo, desenvolvimento web. Pesquise em sites de vagas a quantidade e qualidade das empresas contratando para posições junior. Não ligue muito para a intimidadora lista de requisitos que são pedidos para essas vagas, eles importam menos do que você imagina.

Descubra quanto as empresas estão pagando para desenvolvedores junior, mas também para desenvolvedores sênior. Entenda que “sênior” é um termo para qual cada empresa dá seu próprio significado. Para o mesmo nome de cargo, algumas empresas pagam menos e outras pagam mais. Uma boa heurística é considerar que a média dos salários das empresas que pagam menos para desenvolvedores sênior é quanto você pode estar ganhando em 3 anos. E a média dos salários das empresas que pagam mais é quanto você pode estar ganhando em 6 anos. Assim você tem uma perspectiva realista da sua evolução salarial. Você se vê seguindo nessa carreira e ficando satisfeito com a progressão salarial?

Performance no trabalho de desenvolvimento de software é tudo questão de conhecimento e ética de trabalho. Há muito o que se aprender sobre desenvolvimento de software. O corpo de conhecimento cresce constante e rapidamente. Pode parecer intimidante como uma multidão saindo de um estádio, então você tem que estar sempre se movendo com ela. A pior reação é a paralisia. Você está confortável com a ideia que terá que aprender coisas novas para seu trabalho o tempo todo? Para sempre? Essa perspectiva deve parecer empolgante para um desenvolvedor, então se você sente preguiça só de pensar nisso, talvez desenvolvimento de software não seja para você. Como consequência disso sua ética de trabalho deve refletir essa vontade e diligência para aprender. Fora isso, você provavelmente trará com você os mesmos comportamentos nos outros aspectos de sua ética de trabalho, como comprometimento, alocação de tempo, trabalho em equipe e transparência. Seu auto-conhecimento nesse tópico vai se tornar mais relevante quando você começar a procurar trabalho. E será decisivo no seu sucesso e crescimento. Mas por enquanto, falando apenas da dúvida sobre mudar de carreira, não influlencia tanto na decisão.

Se as oportunidades profissionais que você encontrou são adequadas para o seu perfil, parecem interessantes e você se sente capaz de trabalhar duro e estudar bastante por muitos anos para conseguir ter uma boa performance nestes trabalhos, então você tem um boa chance de se adequar bem à carreira de desenvolvimento de software.

Uma decisão baseada em satisfação e adequação

Agora, como você sabe se vai sentir satisfação ao programar? Você não sabe até tentar. Meu primeiro contato com código aconteceu uns dois anos antes dessa minha decisão de fazer isso em tempo integral. Eu estava focado em fundar uma startup e decidi que aprender a programar seria útil no meu empreendimento. Eu não tinha o objetivo de me tornar desenvolvedor na época, eu queria apenas entender o básico do básico e me preparar melhor para conversar com os desenvolvedores que iriam construir meu produto. Eu passei cerca de 2 meses estudando C# e .Net em meio-período e adorei cada minuto. Eu estava construindo um web app muito simples, que servia como um organizador de medicamentos para pessoas que tomam 5, 6 ou mais remédios todo dia. Eu me lembro de estar ansioso para chegar segunda-feira e poder voltar a trabalhar no meu projeto. Eu nunca havia me sentido assim tão frequentemente em nenhum outro trabalho. Então, quando chegou a hora da decisão, depois de minha startup fracassar e eu me frustrar com os trabalhos de marketing em geral, eu sabia que teria muita satisfação como desenvolvedor.

E quando você sabe que irá ter uma boa performance nos empregos de desenvolvimento de software? Você não tem como saber antes do primeiro emprego, mas há sinais que você pode usar. Um ótimo sinal é se você consegue de fato construir algo que funciona. Ao enfrentar a imensa, intimidadora montanha de conhecimento que você não entende, você consegue encontrar algumas das pedras menores, mais acessíveis e realmente construir algo com isso. O que você construiu conta menos se você simplesmente seguiu comando por comando de um tutorial detalhado que mostra cada pequeno passo do caminho. E não mudou ou personalizou nada. Mas conta mais se você vai além e publica um protótipo funcional hospedado e disponível na web. O seu código será horrível, esteja certo disso. Mas se você pode imaginar algo, aprender um pouco da tecnologia, construir algo em cima de coisas que você mal entende e esse algo realmente funciona(!!), é um ótimo sinal que você é capaz de aprender e superar obstáculos para entregar valor através de software.

Eu construí alguns projetos, como uma to-do list com uma interface original, uma ferramenta de pesquisa de GIFs animados, um chat bot para Facebook Messenger, um web app de anotações para desenvolvimento pessoal, uma página que mostra comentários aleatórios do fórum Hacker News. Todos com códigos terríveis e sem polimento nenhum para ter qualquer chance como um produto real, mas todos funcionando e colocados em produção na web. Isso me deu muita confiança que eu poderia entregar valor para uma empresa como desenvolvedor web. Eu podia aprender coisas e usar esse conhecimento para construir alguma outra coisa.

Eu sabia que teria satisfação ao programar todo dia, eu sabia que tinha uma chance de ser um desenvolvedor capaz, eu estava confortável com a perspectiva de ter que estudar bastante para poder continuar crescendo, eu não tinha ilusões sobre o tipo de trabalho que conseguiria ter (nada de trabalhar com Inteligência Artifical ou Realidade Virtual para mim), eu sabia quais trabalhos eu gostaria de evitar. Eu discuti tudo isso com minha esposa e decidi que iria largar meu emprego e começar a estudar em tempo integral para me tornar um desenvolvedor web. E hoje tenho certeza que foi a melhor decisão profissional da minha vida até agora. Parte importante foi ter tido a sorte de conseguir um emprego numa empresa com um ambiente acolhedor e de intensa colaboração entre todos os desenvolvedores como a Creditas.

Espero que minha experiência possa ajudar outras pessoas que estão passando pelo mesmo processo de decidir se devem ou não investir tempo e esforço para mudar de carreira. Se você está passando por isso e quer trocar umas ideias, fique à vontade para comentar neste post e eu vou tentar responder da melhor maneira possível.

Tem interesse em trabalhar conosco? Nós estamos sempre procurando por pessoas apaixonadas por tecnologia para fazer parte da nossa tripulação! Você pode conferir nossas vagas aqui.

--

--

Rodrigo Pontes
Creditas Tech

Apenas começando como desenvolvedor web front-end, após uma carreira em Marketing. Interesses também passam por economia comportamental, literatura, podcasts.