Porque ainda precisamos de eventos de tecnologia exclusivos para mulheres

Paula Arantes Ribeiro
Creditas Tech
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3 min readJul 1, 2018

Quando eu digo que vou a eventos de tecnologia só para mulheres, como Pyladies ou Django Girls, algumas pessoas me questionam. “Qual a necessidade? Se vocês querem igualdade, por que a segregação?” Vou explicar o porquê, e porque é justamente o contrário de segregação.

Quando somos crianças, a probabilidade de ganharmos uma boneca é muito maior do que de ganharmos um videogame. Quando chegamos à adolescência, a sociedade nos impõe uma série de inseguranças, desde um padrão de beleza inalcançável até pensamentos como “mulheres não são boas em raciocínio lógico” ou “mulher só pode ser uma coisa: bonita ou inteligente”. Eu ouvi na escola que a quantidade de testosterona no sangue determina o quanto você é bom em exatas. Colocam na nossa cabeça que é natural, um gênero é melhor que o outro mesmo, fazer o quê. A nossa capacidade e conhecimento são testados o tempo todo, por exemplo, é só sair com uma camisa de futebol que alguém vai duvidar (mesmo que mentalmente) que você saiba a regra do impedimento. Aliás, não somos estimuladas a gostar de esportes, porque precisamos ser delicadas — e esportes envolvem muita lógica e estratégia. Somos educadas para sermos recatadas e não expormos muito a nossa opinião, para não parecermos mandonas ou “metidas”. Quando um homem explica algo, você se cala, porque sente que provavelmente ele sabe mais do que você — e se ele fala groselha, em vez de questioná-lo você se questiona se aprendeu certo. O estereótipo do programador ainda é o “nerdão desleixado”, apesar de termos diversos exemplos de mulheres incríveis como a Ada Lovelace e Margareth Hamilton.

Recentemente eu me vi num evento de tecnologia onde eu era a única mulher em meio a aproximadamente 30 homens. E mesmo entendendo as palestras que estavam sendo passadas, todas essas inseguranças desabaram em mim: “não sou boa o suficiente”, “devo ser a pessoa que menos sabe dessa sala”, “é com essas pessoas que vou competir no mercado”. O sentimento que tem sido tão comentado ultimamente: a síndrome do impostor. Algo que pode acontecer com qualquer um, de fato, mas muito agravado quando se é uma minoria, já que a insegurança vem de fatores enraizados na sociedade como os citados anteriormente.

É pra isso que existem os eventos só para mulheres. Criar um espaço seguro onde todas possam compartilhar experiências, tirar uma dúvida, dar uma palestra, com a certeza de que suas capacidades não estão sendo colocadas a prova. Encontrar mulheres que passaram os mesmos perrengues e tiveram os mesmos medos, se inspirar em suas conquistas e se sentir capaz de realizar suas próprias. Tentar tirar ou diminuir a defasagem de autoconfiança que temos em relação aos homens, uma espécie de reabilitação para que possamos ser inseridas na sociedade com equidade. É importante sim participar de eventos sem restrição de gênero, porque essa é a realidade. Assim como é importante incentivar mais mulheres a comparecer nesses eventos, para que esses espaços se tornem cada vez mais seguros. Mas como disse Naomi, uma das maravilhosas palestrantes: “é muito bom estar em um lugar onde não sou A Minoria, e sim só mais uma pessoa”.

Conheça algumas comunidades de mulheres em tecnologia:

Pyladies: facebook.com/pyladies.brasil

Django Girls São Paulo: facebook.com/DjangoGirlsSP/

Womakerscode: facebook.com/womakerscode/

Tem interesse em trabalhar conosco? Nós estamos sempre procurando por pessoas apaixonadas por tecnologia para fazer parte da nossa tripulação! Você pode conferir nossas vagas aqui.

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Paula Arantes Ribeiro
Creditas Tech

Engenheira de Materiais e desenvolvedora. Gosto de música, futebol americano, bullet journal e sou vegetariana. Vai ter de tudo por aqui :)