Product Hacking: O que é, porque você deveria ter e como implementar

Guilherme Dekker
Creditas Tech
Published in
7 min readNov 15, 2020

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Sabe aquele programa Cake Boss? Cake Boss é uma série de televisão que relata o cotidiano de Buddy Valastro e sua família realizando a confecção de bolos esculturais.

Sim. Isso é um bolo.

Se eu precisasse fazer esse tipo de bolo, certamente gostaria de ter especialistas de diversas áreas: Em coberturas, massas, corantes além de ótimos fornecedores e, principalmente, um líder que conseguisse colocar tudo em sincronia. E isso seria só o bolo, imagine colocar de pé o resto da festa.

Fazendo um paralelo, gostaria de olhar esse problema por outro ângulo. Essa é minha vó Maria, cortando o pedaço de bolo do último aniversário dela. Ela organizou a festa, comprou todos os itens e fez o bolo. Estava uma delícia, superou totalmente minhas expectativas.

Sem dúvidas existe motivação para a existência desses dois tipos de bolos, mas se pensarmos em demanda, qual existe mais? Será que o time do Cake Boss não seria too much para a grande maioria dos bolos do mundo? E o custo de manter esse time? O esforço de gerir, manter o alinhamento e a comunicação fluindo? E ainda, em um cenário que montamos o time e fossemos mal sucedidos, qual seria o resultado?

Acredito que o mesmo acontece no mundo corporativo. Muitas empresas tentam implementar times cada vez mais especialistas — talvez em uma tentativa de replicar modelos de empresas referências em contextos diferentes. Surgem títulos com escopos cada vez menores. Muita complexidade e poucos problemas efetivamente resolvidos.

Pensando nisso, sugerimos uma alternativa, ou melhor, um complemento aos times especialistas existentes nas empresas…

O que é Product Hacking?

Product Hacking é um time de pessoas versadas em negócios, projetos e tecnologia. Uma espécie de híbrido, um “exército de uma pessoa só”. Nossas pessoas ficam imersas nas unidades de negócios, onde irão aprender sobre os principais desafios de cada área. A partir disso, serão capazes de levantar oportunidades, calcular o impacto, conceber o projeto e executar a implantação. Os projetos podem envolver programação, implantação de um sistema terceiro, melhoria de processo, entre outras possibilidades. Nossa hipótese é que o fato da mesma pessoa entender do problema, da concepção e execução da solução resulta na realização de projetos muito mais coerentes e eficazes.

A área surgiu na Creditas em 2016 com um analista generalista que gostava de examinar processos e resolver gargalos com programação de pequenos produtos. Com o tempo, Product Hacking foi entregando cada vez mais soluções e gerando impacto na empresa.

Contudo, conforme o número de soluções aumentava, alguns problemas surgiam:

  1. As soluções Hackers muitas vezes não eram pensadas para serem escaláveis e com o crescimento acelerado da empresa, as soluções poderiam falhar a qualquer momento.
  2. Muitas soluções estavam sendo utilizadas por operações críticas, o que resultava em caos quando uma falha ocorria.
  3. As soluções nem sempre seguiam as boas práticas de programação e segurança de dados, dificultando a evolução e manutenção dos projetos e expondo a empresa a riscos.
  4. As soluções poderiam ser conflitantes com as entregas de Produto e Tecnologia, de modo que os dois times estivessem trabalhando de maneira contraposta (a solução de um ia inviabilizar a do outro) ou sobreposta (os dois times trabalhando para resolver a mesma coisa).

Por esses motivos, a área hoje está dentro da estrutura de Produto e Tecnologia. Desta forma, foram incorporadas boas práticas de programação e arquitetura e os projetos são realizados de maneira complementar.

Inclusive, os projetos que se mostraram essenciais para a empresa são absorvidos por Produto e Tecnologia, para que possam ser evoluídos. Com isso, se tem o melhor dos dois mundos: Um time ágil construindo a versão inicial e coletando aprendizados e um time de especialistas que entra nas construções realmente decisivas para a empresa para realizá-las de forma robusta. Existem também projetos de Product Hacking que fracassam, como em qualquer time de projetos. A vantagem aqui é que como nossos projetos são individuais e rápidos, o custo e o tempo do erro é menor — o que os agilistas chamariam de errar rápido e errar pequeno — nós fazemos isso na prática.

Por conta dessas características, Product Hacking se destaca especialmente para a construção de MVPs e validação de hipóteses. Ainda, é uma área que trabalha forte em resolução de problemas de maneira geral, sobretudo em crises, onde o tempo de entrega é determinante.

Porque você deveria ter

1) ROI

Como comentei, todos os nossos projetos passam por uma análise de esforço versus impacto. No último semestre com uma estrutura de 15 pessoas, realizamos R$7,5MM de impacto estimado no EBITDA através dos nossos projetos, sejam por aumento de receita ou redução de despesas. Ainda, além do aspecto financeiro, nossos projetos trazem outros benefícios qualitativos, como validação de premissas, melhora na experiência do cliente interno ou externo e mitigação de riscos.

2) Desenvolvimento acelerado de pessoas.

Nós partimos da premissa que as pessoas conseguem entender mais que uma pequena fatia do trabalho a ser feito dentro de uma empresa. Talvez um movimento contrário ao que se instaurou na revolução industrial.

Portanto, a partir do momento que não hiper-segmentamos o trabalho, uma pessoa consegue pensar de maneira ampla aproximando o problema por todos os lados (processo, negócios, tecnologia). Ainda, isso faz com que a solução de cada problema seja diferente, evoluindo a “caixa de ferramentas” do nosso time. É como se sempre estivéssemos fora da zona de conforto e conseguíssemos aprender mais com isso. Temos de maneira geral ótimos feedbacks dos nossos analistas, sendo reconhecidos na empresa inteira pela capacidade de resolução de problemas e impacto gerado.

3) Comunicação e alinhamento entre áreas.

Por ser uma área que consegue transitar em diferentes ambientes e diferentes unidades de negócio, nós acabamos fazendo um papel perceber esforços contrários e engajar todos os stakeholders em prol de uma mesma solução.

Apesar de não ser uma atribuição formal e sim algo que acontece, a grande visibilidade de como o nível tático da empresa se desenrola habilita que Product Hacking consiga ter uma visão holística fantástica para contribuir na estruturação e desenho de processos e produtos.

Como implementar

É claro que esse modelo tem desafios. Não é exatamente simples se manter conectado a tudo que permeia a empresa. Hoje o time de Product Hacking enfrenta uma carga forte de trabalho para acompanhar os negócios e reagir rápido a mudanças. Em contrapartida, conhecer dos negócios nos permite cortar caminho e ser muito mais assertivos na proposição das soluções. Também não é simples encontrar as pessoas certas e desenvolvê-las. No entanto, a conclusão que tiramos dos dados e feedbacks é que vale o esforço.

O modelo de trabalho

Hoje nossa estrutura possui um gerente, dois Team Leaders e doze analistas. Os líderes são responsáveis pelas atividades de gestão formal, gestão do backlog de projetos e garantir a execução e encerramento dos projetos. Algumas vezes, os team leaders participam das fases de encontrar o problema e conceber a solução devido à maior exposição a estratégia e contexto da empresa.

Os analistas são os responsáveis pelos projetos. Tipicamente, cada analista tem de 1 a 2 projetos ocorrendo simultaneamente. Alguns analistas possuem maior senioridade e são reconhecidos como referências dentro do time, tendo também a função de se envolver em projetos que não são responsáveis e desenvolver as pessoas menos experientes.

As etapas de um projeto são:

  1. Investigar a fundo o problema raiz/alavanca de sucesso
  2. Levantar qual será o impacto do projeto
  3. Realizar a concepção da solução
  4. Implementar a solução.

Em Product Hacking tipicamente fazemos isso geralmente entre 1 a 4 semanas, dependendo da complexidade.

O ambiente

Durante nossa jornada aprendemos algumas coisas que funcionam e outras que não funcionam. Vale destacar:

  • Apoio e alinhamento do time de tecnologia — nós trabalhamos junto com tecnologia, de maneira complementar. É muito caro mobilizar um time de tecnologia para desenvolver um produto ou grande feature para validar uma hipótese.
  • Criatividade — Ser criativo sobre o que é a solução do problema. Às vezes, uma conversa resolve e deveria ser a primeira opção. Programar deveria ser a última.
  • Autonomia e versatilidade — precisamos garantir que nossos recursos estão alocados da melhor maneira possível.
  • Ambiente científico — Definir o escopo do projeto, documentar, levantar as hipóteses de melhoria do projeto e medir o impacto posteriormente
  • Troca de conhecimento — Desenvolver um forte ambiente de troca de conhecimento. Apesar de cada projeto ter um dono, é extremamente necessário desenvolver o espírito de time.
  • Documentar — Manter uma boa documentação do que fazemos gera uma enorme diferença. Muitas vezes partes de uma solução são aproveitadas em outra solução

As pessoas

Não é simples encontrar as pessoas certas e desenvolver as habilidades necessárias. Frequentemente quem tem possui mais habilidade em gerenciamento de projetos e produto não tem domínio da parte de tecnologia, como programação e parametrização de plataformas, e vice-versa. Por isso, nossos contratações são totalmente baseadas em perfil: Raciocínio lógico e baseado em dados, vontade de aprender, versatilidade, pensamento crítico e visão holística.

Para o desenvolvimento das pessoas, aprendemos que primeiramente é essencial um ambiente de segurança para perguntar, cometer erros e incluir diferentes backgrounds no time. Depois disso, precisamos expor continuamente as pessoas a projetos que desafiem cada um na medida certa (o que Daniel pink chamaria de “Tarefas Cachinhos Dourados”) e por fim, acreditamos que todos precisam de um mentor. Portanto, os mais experientes mentoram os novatos. Também temos dois treinamentos internos por mês sobre diversos assuntos (geralmente ferramentas).

Os profissionais híbridos são incrivelmente valiosos e acabam sendo muito eficazes na geração de valor, frequentemente superando as expectativas, igual minha vó no aniversário dela. Acredito que precisamos revisitar como encaramos os problemas e como hiper-dividimos as áreas e tarefas nas empresas.

Afinal de contas… tem coisa melhor que o bolo da Vó?

Tem interesse em trabalhar conosco? Nós estamos sempre procurando por pessoas apaixonadas por tecnologia para fazer parte da nossa tripulação! Você pode conferir nossas vagas aqui.

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