A Criação, o Domínio e a Natureza

28. Então Deus os abençoou e lhes disse: Frutificai e multiplicai-vos; enchei a terra e sujeitai-a; dominai sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu e sobre todos os animais que se arrastam sobre a terra. (Gênesis, 1)

Todos sabemos que somos Homo sapiens, ou pelo menos deveríamos saber (se você é do grupo que não sabia, lhe apresento esse termo bonito para se referir ao ser humano) e uma vez reconhecidos como espécie, podemos entender que temos relações ecológicas que demandam de nossa função. Relações intraespecíficas (entre dois ou mais indivíduos da mesma espécie), como a procriação, são apontadas em Gênesis com muita clareza e que me chamam à atenção para cientificidade da abordagem bíblica, mesmo que esse não seja o foco da narrativa da Palavra de Deus. Outro tipo de relação ecológica pode ser observada, a interespecífica e é nela que quero tentar me deter nesse texto.

O Senhor fala para o Homem dominar sobre os animais, sobre os seres viventes. O Homem, como ser biológico, dominando todos os outros seres da nossa biota. Querendo ou não, me parece que essa é uma das funções biológicas e ecológicas do Homo sapiens, dentre tantas outras relacionadas à sua alimentação, reprodução e etc. Ao longo de muitos anos, antes mesmo de ingressar na graduação em Ciências Biológicas, me questionava quanto ao termo “dominai” que aparece no versículo já citado. O que esse verbo representava? Como deveria ser o domínio humano? Será que estamos exercendo nosso papel?

A palavra “domínio” tem diferentes interpretações a depender da aplicação e contexto em que está inserida. Me parece que Deus está dizendo a Adão algo como “te dou o controle sobre os seres viventes, vai e governa sobre eles”. Uma vez que o próprio Criador instrui isso a Adão, imagino que Ele o faz “esperando” que o Homem governe bem, uma vez que (um dos fatos interessantes do texto), o Senhor ordena tal feitura antes do pecado reinar sobre a vida de Adão.

Em 2007, alguns biólogos da vida selvagem estudavam morcegos em cavernas em Nova York, ao se deparar com uma multidão desses animais mortos no assoalho da caverna. O que teria acontecido? Qual causa da morte? E por que o tamanho exacerbado de indivíduos mortos?

Após alguns bom tempo de estudos, foi analisado que os morcegos mortos tinham uma característica particular: todos tinham um pozinho branco nos seus focinhos. Por mais que queira fazer uma piada e dizer que eles estariam morrendo de overdose, não farei. Ao olhar com mais detalhe para o que era esse tal pozinho branco, descobriu-se que se tratava de um fungo psicrófilo, Geomyces destructans e o fato mais interessante é que essa espécie do fungo é endêmica (que só pertence a um determinado local), muito provavelmente da Europa.

Como essa espécie deve ter chegado aos Estados Unidos da América? Por conta dos ventos e correntes aéreas? Os fungos se reproduzem na sua maior parte por esporos, algo parecido com o pólen das flores. Uma viagem aérea tão longa, deixaria os esporos inviáveis, lembre-se que estamos falando em cruzar todo o Oceano Atlântico. Que tal pela água então? Outro problema é a química da água marítima que pode desidratar os esporos a depender do tempo em que os mesmos passam em contato com ela. Elizabeth Kolbert fala que “sem a ajuda humana, as viagens de longa distância para a maioria das espécies é difícil, beirando o impossível”. Muito provavelmente esse fungo desembocou nos EUA através de algum vôo de avião ou viagem de navio.

Alguns geólogos chamam o atual momento temporal, na escala estatigráfica, de Antropoceno. A influência humana é tão presente na biota e nas relações ambientais, que já dá para se ver os resultados e consequências disso. As grandes conferências internacionais para tratar sobre o Aquecimento Global e o Efeito Estufa. A degradação da Mata Atlântica no litoral brasileiro. Os incêndios do início do ano da Floresta Amazônica e nas Florestas Australianas. Tudo isso tem influência humana. Então, te pergunto: será mesmo que estamos exercendo o domínio bíblico que é ordenado pelo Criador de tudo?

As causa ambientais estão mais que interligadas com a fé cristã. Se preocupe com o mundo em que vive, não para idolatrá-lo ou se apegar mais a ele do que a Deus, mas sim entendendo que Deus nos ordena a cuidar dos seres vivos desse planeta que nos recusamos em chamar de eterno lar.