Diante de Deus

Gabi Fernandes
Creio, Logo Leio!
Published in
5 min readJul 17, 2020

O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará. — Levitico 6:13

Acerca desse texto, Spurgeon comenta:

Mantenha o altar da oração em secreto ardendo continuamente. Isto é a essência de toda devoção […] A devoção em secreto é a essência, a prova, o barômetro da religião vital e experimental […] Que as suas temporadas em seu quarto sejam se possível regulares, frequentes e serenas […] O fogo da devoção está queimando fraco em nosso coração? […] Pois se esse fogo diminuir sob as cinzas da conformidade mundana, diminuirá o fogo no altar da família e reduzirá nossa influência na igreja e no mundo […] Ofertemos nosso coração a Deus, todos inflamados de amor, e busquemos a Sua Graça, de modo que o fogo não seja jamais extinto; pois não arderá se o senhor não o mantiver ardendo […] Usemos textos das Escrituras como combustível para o fogo de nosso coração que é como brasa viva; ouçamos sermões, mas, acima de tudo, estejamos por muitas vezes sozinhos com Jesus.

As diversas disciplinas espirituais são geralmente divididas em três eixos: interiores, exteriores e comunitárias. A ordem apresentada, creio eu, não é por acaso.

Se reduzirmos nosso olhar à semana do cristão perceberemos que ela se encerra, ou começa, com o culto público, ou seja, o momento em que conjuntamente a Igreja celebra as disciplinas chamadas comunitárias. As demais, em teoria, devem ser praticadas por cada crente em seu cotidiano como algo que culmina na adoração aos domingos.

Vida litúrgica

Chego a pensar que é um tanto delicada a ideia de prestarmos culto ao Senhor em comunidade quando individualmente não temos uma vida litúrgica. Em seu livro Celebração da Disciplina, Foster defende a ideia de que as disciplinas espirituais abrem a porta, elas criam em nós um ambiente em que Jesus pode entrar e fazer sua transformação.

São Meios de Graça usados por Deus para moldarnos ao caráter de Cristo. São uma manifestação da antinomia existente entre a responsabilidade humana e a soberania divina e, portanto, é válido ressaltar que Deus não depende do homem para fazer o que quer que seja, mas constantemente vemos as escrituras responsabilizando o crente a dar alguns passos (Ex: Apocalipse 3:20).

Outra verdade defendida por Foster é a de que a prática dos deveres espirituais não deve ter — nem têm em sua essência — uma aparência externa, mas, por sua vez, produz frutos visíveis no caráter de cada um. Tal tese só manifesta ainda mais a hipocrisia presente em nós ao celebrarmos publicamente sem um coração contrito que deveria ter andado com Jesus todos os dias antecedentes àquele.

A crença na infinitude do caráter de Deus deve levar-nos a usar de todos os possíveis meios para conhecê-lo diariamente e, então, aos domingos celebrarmos a bênção de estarmos em comunhão diante do Grande Deus que une seu povo, de geração em geração, para louvá-lo e engrandecê-lo, até que Ele venha e façamos isso por toda eternidade.

Uma vida litúrgica não preocupa-se apenas em ter Cristo como centro nas programações de sua igreja local, mas reconhece-o diariamente na sua posição eterna, a qual foi dada pelo próprio Pai: Vivo, Entronizado e Louvado por todos os seres celestiais. Esse é o Cristo que dizemos seguir, não apenas o caminho para Deus, mas o guia durante a caminhada, e a Ele devemos dedicar nossa vida por inteiro, não apenas algumas poucas horas ou um só dia.

O conhecimento de Deus e as Disciplinas

Conhecer a Deus é reconhecê-lo como El Elion: não há outro como o Senhor e, por isso, há muito o que se contemplar nEle e em sua criação. Podemos infinitamente meditar em Seu caráter e desfazermo-nos de nossas preocupações.

Como nenhuma outra “divindade”, Deus é Emanuel: Ele não está longe, está mais perto que a pele em nossos ossos, conhece nosso íntimo, se compadece de nós, vê em nós a redenção dada pelo sangue do seu Cordeiro Santo, por meio do qual se revela. Através do estudo de Sua Palavra podemos conhecê-lo. Sua obra redentora permite que nos dirijamos a Ele pela oração, pois está conosco e Seus ouvidos estão sempre atentos às nossas súplicas.

Nosso Deus está sempre presente (Shamah), isso dá a nós cristãos o privilégio de transformar momentos solitários em momentos de solitude, nos quais até o silêncio torna-se consolador.

Ele é também Kadosh (Santo). É a Ele que tememos ao olhar para nossas limitações, tal análise nos leva a confessar quão falhos somos e que só dEle dependemos.

O Espírito Santo (πνεῦμα ἅγιον: pneúma hágion) está sempre a soprar a direção quando, em unidade aos nossos irmãos, rogamos a Ele por orientação acerca de nossas decisões e dilemas.

É a esse Deus que adoramos aos domingos. Ele deve ser o único e principal motivo de nossas celebrações, mas só entenderemos isto em sua completude se o conhecermos intimamente.

Algumas palavras jamais serão suficientes para expressar a urgente necessidade de dedicarmo-nos e deleitarmo-nos no conhecimento de Deus, e ver em nós os frutos que, a partir disso, o Espírito irá gerar. Portanto, concluo aqui lhe convidando à, junto comigo, rogar a Deus para que nos ajude a viver Coram Deo, viver perante a face de Deus. Nas palavras de Sproul:

É uma vida que está aberta diante de Deus. É uma vida em que tudo o que é feito, é feito como se para o Senhor. É uma vida vivida por princípios, não por conveniências; pela humildade perante Deus, não por rebeldia. É uma vida vivida sob a tutela de uma consciência cativa à Palavra de Deus.

Espero no Senhor que sejamos estimulados e ir adiante e assim como Pedro, mesmo diante de tantas falas acerca de quem Deus é, tenhamos a certeza de que só nEle temos as palavras de vida Eterna, e que não temos para quem ir (João 6:68) além do Único que nos dá vida abundante. Essa convicção só pode originar de uma vida vivida aos pés de Jesus, o Mestre, Amigo e Bom Pastor.

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Gabi Fernandes
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delírios de um grão de areia navegando pelo mar de graça