Eles que lutem?
Essa é a onda do momento, vez por outra ouço alguém dizer, “eles que lutem!”, mas isso não é novo, é apenas uma nova versão do “farinha pouca meu pirão primeiro”. Indo mais longe é possível dizer que é a síntese perfeita da humanidade caída, que, desde Adão procura se safar em detrimento do outro, “a mulher que tú me deste me deu e eu comi”, jogou pra cima de Eva e de Deus como se dissesse, “Vocês que lutem”, esqueceu-se Adão que Eva era carne da sua carne e ossos dos seus ossos, a luta dela também era a dele. Foi lá no jardim que o vírus do egoísmo infectou o homem, e apesar da insistência dele em ficar, Cristo, o novo Adão, trouxe o antídoto eficaz.
Jesus é o maior exemplo de abnegação para a humanidade, não foi alguém que não tinha nada e buscava poder, Ele tinha tudo, Ele sim poderia dizer com propriedade, “Ah! Eles que lutem”, e que grande estrago essa frase causaria, mas não, Ele renuncia a tudo e vem lutar a luta de outros. É essa renúncia que Paulo tem em vista quando nos diz para não buscarmos o nosso próprio interesse: “Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. De sorte que haja em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus.” (Fl 2:4,5) Cristo é o exemplo a ser seguido, e apesar do egoísmo me dizer que Ele fez isso por mim, o texto segue dizendo que Ele “foi obediente a Deus”, Ele só veio glorificar ao Pai, por isso renunciou, e aqui está o antídoto para o egoísmo, na verdade para o pecado, “viver para glória de Deus”. Mas a questão é que invertemos essa lógica e o que encontramos é o seguinte, vivemos para nossa própria glória, desobedecemos a Deus e não abrimos mão de nosso eu, essa é a verdade, cada um pensa no seu, e os outros? Eles que lutem! Só que assim todos perdem a luta, pois é uma só, o que existem são frentes de batalhas diferente:
E disse: Se os sírios forem mais fortes do que eu, tu me virás em socorro; e, se os filhos de Amom forem mais fortes do que tu, irei a socorrer-te. Esforça-te, pois, e esforcemo-nos pelo nosso povo, e pelas cidades de nosso Deus; e faça o Senhor o que bem parecer aos seus olhos. (2 Sl 10:11,12)
Uma atitude dessas, de largar sua luta e lutar pelo outro, só é possível através da observação, observar o outro e suas necessidades, ver se quem tem sido mais forte é os “sírios” ou os “filhos de Amon”. Assim, enquanto estivermos lutando a guerra do outro, outros estarão lutando a nossa. É acreditar demais no ser humano? Não sei, o que sei é que Cristo deixou o exemplo, e caso não queiramos seguir, fica a repreensão de Mardoqueu a Ester: Não imagines no teu íntimo que, por estares na casa do rei, escaparás só tu entre todos os judeus. Porque, se de todo te calares neste tempo, socorro e livramento de outra parte sairá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino? (Et 4:13,14)
