Felizes, ainda que tristes

Alysson Sereno
Creio, Logo Leio!
Published in
4 min readMay 13, 2020

Para você que está lendo esse texto, quero deixar claro que tentarei descrever o que é Felicidade e tenho certeza que não conseguirei com fidelidade. É uma forma estranha de se começar um texto? Talvez! Acho que me acalma mais o coração em começá-lo desta forma, pois assim sinto que não estou sendo corrupto com você que pode ter caído de paraquedas aqui ou com você que veio de forma consciente.

Há alguns bons anos que venho me questionando dia a dia sobre o conceito dessa palavra, que por vezes me parece tão simples e vez ou outra tão complexo. Uma coisa é certa: é uma discussão profunda e um texto no Medium não conseguiria escrever e descrever algo que contemple esse abismo conceitual e lindo sobre a Felicidade.

Após ler os Evangelhos contidos na Bíblia, mais precisamente o livro de Mateus e ainda mais precisamente o capítulo 5 do citado evangelho, me deparo com a seguinte pergunta: O que “mulesta” (expressão nordestina para dar ênfase a algo) é ser bem-aventurado? Depois de pensar muito, não cheguei a uma conclusão plausível. Procurei outras traduções e vi que “bem-aventurados” também era traduzido como “felizes”. Sendo assim, qual a seguinte pergunta que devemos nos fazer?! Isso mesmo. O que é Felicidade?

Esse texto de Mateus 5 se estende até o capítulo 7 e é denominado como O Sermão do Monte ou O Sermão da Montanha. O texto ao qual escrevo agora e que você está podendo ler, não tem por finalidade fazer uma resenha, uma exposição detalhada ou um comentário sobre O Sermão. É impressionante como esse Sermão resiste ao tempo (assim como toda a Palavra) e de como ele é lindo e imprescindível para a caminhada cristã. O Dr. Tiago Arrais revela em uma de suas palestras que esse é o texto mais pregado pelos cristãos, em contrapartida o menos praticado e por vezes o menos entendido. O Pr. Paulo Junior descreve em seu livro O Perfil do Verdadeiro Cristão que as denominações da atual igreja protestante têm perdido a essência do que Cristo aponta como características de um “cristão”.

O interessante da fala de Cristo é que Ele aponta que existe uma Felicidade e que esta pode ser atingida e alcançada ainda nesse mundo caído. Ele descreve uma sequência de características sobre quem realmente é feliz, porém estas eram características que a multidão que o ouvia não queria necessariamente ouvir. O povo judeu esperava um Messias que os libertasse de uma prisão natural, política, fruto da perseguição ao homem pelo próprio homem. O Messias veio e veio para libertar de algo muito mais importante que qualquer mordaça feita por humano. Ele veio para libertar das amarras do pecado. Imagino eu que ao escutar que plenos e felizes são os pobres de espírito, os que choram, tem fome e sede de justiça, são misericordiosos, limpos de coração, pacificadores e perseguidos pela justiça, a multidão ficou um tanto quanto frustrada, pois esperavam um discurso de guerra humana mas são confrontados por palavras de Amor.

Quero me ater a segunda Bem-Aventurança, nas palavras do próprio Mestre, “Bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados”. Engraçado em ver como Cristo retrata a dor ou a alegria através do choro, feliz é aquele que chora, derrama lágrimas. Acho que a parte b do versículo nos dá um norte ainda mais surpreendente, pois os que choram serão consolados. Não imagino que alguém que esteja alegre, animado e festejando precise de alento. Me parece que esse choro retratado por Jesus seja realmente um choro de sofrimento, de dor e de reconhecimento, pois a Bem-aventurança que precede esta revela que “felizes são os pobres de espírito, porque é o reino dos céus”. Pobre é aquele que reconhece que não consegue e necessita de ajuda. Ao reconhecermos que sozinhos não conseguimos, choramos. Se parasse por aqui, o cenário seria desesperador, mas Cristo garante que vai estes serão alentados, consolados e confortados, não por qualquer alento besta que o vento leva, estamos falando do verdadeiro Consolo, que acalenta o mais perturbado coração. Ele é o que diz “vinde a mim os que estão cansados e sobrecarregados e Eu vos aliviarei”.

O filósofo brasileiro Clóvis de Barros Filho, o qual admiro há um bom tempo, certa vez disse que a vida é “dor e sofrimento, se você preferir, afinal de contas eu não lembro de ter sofrido antes de nascer e tenho a nítida impressão de que não sofrerei depois de morrer”. A caminhada cristã é cercada de sofrimentos e angústias. O contrário de Felicidade não é tristeza. Mas o que é Felicidade?

Chego a conclusão de que Felicidade é Deus, que é pleno, perfeito e completo e por isso, não me atreverei a conceituar tal plenitude de complexidade. Quem é o homem, limitado em pensamento, para conseguir explicar com detalhes o Seu Criador?

Gostaria de encerrar dizendo que Cristo é Felicidade até para os que estão tristes, ansiosos e depressivos como eu e você. Ele é Felicidade.

--

--

Alysson Sereno
Creio, Logo Leio!

cheguei. nem sem como, mas estou aqui. o que me trouxe foi a incerteza na Certeza.