Reflexões de um jovem sobre a Trindade: Doutrina da Criação

Abner Ferreira
Creio, Logo Leio!
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4 min readJun 24, 2020

Bem, meu intento aqui não é tratar a doutrina tecendo considerações sobre sua densidade filosófica e teológica, se esse é o seu interesse, saiba que em De Trinitate, Agostinho nos presenteou de forma ímpar e nesta obra jaz um tesouro infindável.

Sou apenas um jovem que aprendeu a ler há pouco, tudo o que quero aqui é, com um coração abrasado pelo Espírito de Deus, falar-lhes a respeito da doutrina que mais me encanta, apaixona e deixa-me aos prantos extasiado com o bom, o belo e o verdadeiro.

Para cumprir meu propósito, buscarei articular a doutrina da Santíssima Trindade com os pontos definidores da narrativa bíblica, a saber, Criação-Queda-Redenção. Que o Senhor guie-nos com sua boa mão.

Você já deve ter notado que o termo Trindade inexiste nas Sagradas Escrituras, o que para alguns é o suficiente para a negação da doutrina. Inúmeros foram aqueles que romperam com a igreja cristã por negarem a divindade plena do Filho e do Espírito, as marcas das cisões seguem evidenciadas ainda hoje. Entretanto, se não há o termo nas Escrituras, por que o apego à tal doutrina?

O desenvolvimento da doutrina da Trindade foi o que nossos Pais teceram para assegurar a correta interpretação da revelação divina. Bem como puderam constatar, a Trindade não era nada além de um afloramento da compreensão do que estava patente no crescente Novo Testamento. Afinal, afirmações trinitárias estão expressas em discursos de Cristo (Mt 28.19; Jo 14.1–14) e também dos Apóstolos, como em Paulo (Rm 1. 1–4; 2 Co 1.21–22; 13.13), Pedro (1 Pe 1.2) e Judas (Jd 20 -21). Sendo assim, nos concílios de Nicéia (325) e Constantinopla (381), o que houve foi que pela liderança do Espírito Santo, os mestres da igreja, instituídos por Deus, firmaram que: o Pai, o Filho e o Espírito são igualmente divinos, iguais em poder, majestade e glória, são um, mas também são três, três pessoas distintas que vivem em harmonia tão excelente que nos permite contemplar o Deus trino e uno. A unidade na diversidade. A pluralidade una. Nada poderia ser mais rico e mais belo.

O desenvolvimento da doutrina da Trindade foi o que nossos Pais teceram para assegurar a correta interpretação da revelação divina.

Dessa unidade eterna transborda a criação. Você já se questionou por que existe tanta diversidade no mundo? Por que tantas cores? Por que tantas tonalidades de azul? Será que uma só não bastaria? Por que tantas espécies? Papagaio, gato, baleia, ornitorrinco… Por que milhares de tipos de plantas? Girassol, cajueiro, mangueira, margarida, rosas vermelhas, azuis… Por que pessoas tão diferentes existem? Por que coabitam no mesmo espaço?

A resposta da tradição cristã te deixará de cabelo em pé: o Criador é assim em sua essência eterna. Unidade na diversidade.

É por isso que durante o Ensino Fundamental e Médio naquelas aulas de ciências e biologia, seus professores sempre falaram que apesar de tantas espécies, tudo parecia estar orquestrado e orientado como um único organismo. Lembra da cadeia alimentar que depois descobrimos que não é cadeia, mas sim teia alimentar? É disso que estou falando. Como nos ensinou o anime Fullmetal Alchemist, parece que a criação pode ser definida assim: “Um é Tudo e Tudo é Um”.

É de fazer chorar quando descobrimos que determinada estrela, posicionada exatamente em determinado lugar, possibilita que tartarugas, depois de dezenas de anos, voltem para o preciso lugar onde nasceram e ponham os seus ovos dando início a um novo ciclo. Como pode ser possível um astro posicionado há milhões de anos atrás e há trilhares de quilômetros de distância direcionar um grupo de tartarugas que passeia pelo Pacífico? Eu te respondo que isso só poderia ser obra do Ser Trino e Uno, ele é assim em essência e não poderia provir dele algo distinto disso.

Como se não bastasse, o que considero o clímax da Trindade na criação vem agora: o amor fez a criação.

Antes que houvessem céus e terra, Deus já vivia em perfeita alegria — ele gozava de si mesmo, ser perfeito de existência eterna — Pai, Filho e Espírito, todos Um. O Pai desfrutando do Filho, o Filho alegrando-se no Pai, o Espírito regozijando-se e, em perfeita comunhão, Deus refletindo toda a sua beleza e glória na eternidade. O amor que Deus tinha em si mesmo era tão grande, mas tão grande, que um dia transbordou nesta obra grandiosa que nomeamos de criação. Em seis dias, as trevas deram lugar a miríades de miríades de seres, cores e tudo o mais. Dentro dessa criação, havia uma obra-prima que possuía algo distinto de todas as demais, tanto que o Senhor a chamou de sua imagem e semelhança, tomados por ele como verdadeiros filhos. E o Amor amou tanto que o Amor nos fez.

À vista dessas coisas, que mais pode ser dito? Se não que haja glória e honra para o Deus criador? É tudo um fluir do seu amor. Desta feita, a narrativa por trás de todas as histórias, é aquela na qual Deus criou todas as coisas para que todas as coisas pudessem compor a sua alegria eterna, gozando de seu eterno amor em satisfação perene. O Amor nos fez um com o Amor.

E Deus se encontra tão comprometido com isso que certa vez decidiu entrar na história humana para garantir que nada poderia nos separar dessa união.

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Abner Ferreira
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Para nós, há apenas o tentar. O resto, não é da nossa conta.