Sobre o Corona, a Crise, C. S. Lewis e a Esperança

Alysson Sereno
Creio, Logo Leio!

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Estou eu lendo artigos, acompanhando notícias, identificando alguns insetos e fazendo quaisquer outras tarefas que não mudam ou acrescentam em muita coisa à vida de vocês, quando me deparo com o surto do vírus. A histeria toma de conta do mundo, leitos de hospitais começam a lotar, pessoas encontram-se definhando até a morte, por vezes uma morte trágica de asfixia. Análise pesada, não é? Acho que só dessa forma para levarmos em consideração a gravidade do assunto.

Essa é apenas mais uma crise das muitas e muitas que já passamos e que iremos passar, o que não quer dizer de forma alguma que deve ser encarada com irresponsabilidade. Mais uma crise, mais uma pandemia, mais um sofrimento e mais uma dor, por vezes singular, individual, mas em maior parte coletiva. Você pode se perguntar “o que uma página de incentivo à leitura tem de relação com o vírus?” e eu posso te responder que todo tipo de relação. Antes disso, rememoremos que outras pandemias similares já se instauraram nessa terra a qual nós recusamos em chamar de casa. Imagine que a desesperança também se instalou nos corações dos humanos no Medievo com a Peste Negra ou também dos infectados pela Gripe Espanhola no final dos anos 1910. A situação epidemiológica desses contextos pode ser usada com similaridade à nossa.

Muitos me disseram que nascemos com uma única certeza: de que vamos morrer. Ao crescermos, nos deparamos com ainda mais certezas além dessa dita como “única”. Ao viver, estamos certos que a dor e o sofrimento serão presentes até que esta certeza primária se cumpra. Ao receber a Vida, chegamos a conclusão de mais uma certeza: essa dor passará. Ainda que dure uma vida temporal por completa. Passará.

Em épocas de crise, acho que uma das melhores coisas a se fazer é ler. Se não fosse a leitura, seria impossível o sequenciamento genético do ácido nucléico viral do Covid-19. A divulgação científica e até mesmo informal seria mais que difícil e que responsabilidade é colocada nas costas da leitura. É um fardo pesado para se carregar. Porém, para além disso, a leitura também serve como um rio que desemboca num mar de Esperança.

No livro “A Abolição do Homem” de C. S. Lewis, o autor aponta que por vezes o que chamamos de “poder do Homem sobre a Natureza” poderia ser melhor representado pelo “poder do Homem sobre o Homem usando a natureza como instrumento”. Estaria eu tentando levantar uma Teoria da Conspiração ao citar esse ponto? Muito pelo contrário. Essa prerrogativa foi acionada para que você pare e pense um pouco. Analise a situação ao nosso derredor e, como um bom nordestino fala, repare nas coisas. Em tempo de crise, a utilização de poder do Homem sobre a própria espécie é notória e chega a ser levada como natural em casos de utilização de força bruta.

Me parece que na crise, até mesmo a moralidade vira algo flexível demais em nossos corações corruptos.

Apesar de todo esse discurso com tom de drama e choro, acredito que há sim Esperança. O salmista apesar de muitas vezes começar sua fala em tom de descrença e sofrimento, como observado no Salmo 10 “1. Por que te conservas ao longe, Senhor? Por que te escondes em tempos de angústia?”, ainda assim, confia na Palavra de redenção e Esperança, “Mas eu confio na tua benignidade; o meu coração se regozija na tua salvação."(Salmos, 13:5).

Ainda bebendo em falas do Lewis, podemos lembrar da passagem em As Crônicas de Nárnia: O Leão, A Feiticeira e O Guarda-roupa, onde apesar de toda a dor sofrida pela morte de Aslan e toda a descrença ao achar que o personagem fora vencido pelo mal encarnado na Feiticeira, ainda assim Lúcia acreditava na Esperança, mesmo que doída e por vezes surreal.

O sofrimento na caminhada cristã é mais real que o próprio solo onde os nossos pés ousam tocar. O que encontramos no discurso de Cristo no próprio Sermão da Montanha, se lido apenas em partes, é de certa forma dolorido, incômodo e sofrido. Ele mais que ninguém sabia o que era sofrer. Ele carregando a multidão de pecados meus e seus, sobre os ombros de carne, suando sangue e sentindo a mais profunda e inexplicável dor, ao ponto de se sentir abandonado pelo próprio Pai, amoroso e justo. Se paramos a leitura de Cristo por aqui, o tom de desespero é notório, porém há algo mais. Há plena confiança na Esperança que é o próprio Cristo. Apesar de todo sofrimento, Ele não intentou em não fazer a vontade do Pai e sentiu toda a dor que ser humano nenhum haverá de sentir igual.

O sofrimento verdadeiramente finca a bandeira da verdade em nossos corações. Um grande amigo e compositor, chamado Northon Pinheiro, diz em uma de suas músicas que “quando a dor chegar eu vou botar o café na mesa”, imagino que você só convida alguém pra tomar um cafezinho da tarde, com aquela saudosa bolacha tareco, tendo ciência que essa visita citada não ficará por muito tempo. O mesmo vale pra dor. Quando ela chegar, bata um papo maroto com sua tristeza, converse sobre a vida com ela, sabendo que ela irá embora em algum momento. “Deus nos sussurra nos prazeres, fala em nossa consciência, mas brada em nosso sofrimento. O sofrimento é o megafone de Deus para um mundo surdo”, poeticamente e sem dó algum de nossos corações fracos, Lewis observa a relação entre a dor, o sofrimento, a criação e o Criador, nos relatos do livro O Problema da Dor. O sofrer e o viver com Deus estão mais relacionados entre si do que muitos imaginam.

Ainda assim, depois de todo esse discurso, o que posso lhe recomendar é: se apoie na Palavra de Vida, na Verdade encarnada em Cristo e revelada por meio dEle. Felizes são os que choram, pois estes serão consolados. Mas o que é Felicidade?

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Alysson Sereno
Creio, Logo Leio!

cheguei. nem sem como, mas estou aqui. o que me trouxe foi a incerteza na Certeza.