III - Os idiotas vão tomar conta do mundo

“Vão”.

(Os filhos da puta já estão deixando as crianças sem vacina)

Sim, já faz n meses desde o último texto, e eu havia prometido fechar esse arco de apresentações contando como foi o último ano do Ensino Mediev… Médio naquela fenda temporal de onde fugi. Tive até que reler pra saber onde parei.

Como já fora mencionado: tenho conta pra pagar e ganho R$0,00 escrevendo aqui; é só minha terapia pra desafogar o ódio por gente — em suma, não esperem que eu cumpra prazos de graça.

Também prometi que este último seria mais curto que os outros; se não for, vai ser tão engraçado quanto. Isso dá pra garantir.

Adianto ainda que vou distribuir a história em pequenos relatos sobre personagens específicos, sempre buscando manter a riqueza de detalhes e a pobreza de espírito.

Salò, o le 120 giornate di Sodoma — Pier Paolo Pasolini.

Toda vez em que revisito esta cena de Pasolini, juro que consigo vislumbrar o desejo latente de meus conterrâneos em fiscalizar o cu da humanidade para verificar se estão todos com as pregas em dia.

Bem, o último ano do Ensino Médio foi incrível. Tive depressão profunda (mas, como? Viver naquele lugar era tão bom) com medo de não passar no vestibular. Felizmente, não acabou assim.

Como é de se esperar que eu nutra um amor incondicional pela minha terra natal, passei em seis vestibulares distintos, nenhum no meu estado de origem. Quando os resultados da USP e da UFSCar saíram, minha mãe achou que eu estava chorando de felicidade, mas na verdade é porque eu enfim tinha conseguido escapar daquela sina de lugar.

A dona do famigerado colégio (ah, as maravilhas do interior: você conhece a porra do dono da escola) queria me presentear com uma faixa de parabéns (para promover a escola dela, claro. O mérito não era meu que estudava sozinho, era do colégio dela que contrata gente lixo com mestrado meia boca na Uni-Lugar-Algum e que faz bullying com crianças que tinha me colocado onde consegui entrar) ao que minha família educadamente recusou — na verdade não foi educadamente: mandamos enfiar no cu por telefone, e se tivesse sido ao vivo teríamos mandado também).

Vamos agora para o tempo presente averiguar como estão meus bullies favoritos.

Os machões do clube

Todos saíram do armário. Óbvio que tanto ódio e ignorância se tratava de algum tipo de projeção. Talvez o escândalo envolvendo o pai de um deles e uma travesti tenha servido de gatilho para se aceitarem após terem feito da minha vida uma miséria sem fim. Uma coisa que não se pode negar, é que eles se assumiram em grande estilo: com direito a cocaína diluída em acetona, crise de abstinência, UTI por abuso de anabolizantes, e cabelo platinado.

A típica loira

Me tratava mal porque eu vou pro inferno; espero que ela descubra que mulher divorciada duas vezes em menos de 3 anos também vai. Engordou até mesmo depois da bariátrica. Desconheço castigo maior.

A jovem prefeita

Assumiu o cargo na cidade Q após o pai ser afastado por improbidade administrativa. E vocês achando que vilão sempre se dá mal no final.

O professor de história

Virou crente, claro. Qual a melhor forma de condensar e lapidar a sua ignorância do que dentro de uma igreja? Apenas sinto muito que ele continue lecionando; é uma pena alguém aprender história - um tema tão sensível e que requer interpretação - através de um imbecil.

Os demais personagens

Eu poderia escrever trechos sobre todos, mas estou com preguiça porque resolvi fazer um comentário adicional logo mais. Então, vamos sintetizar: a maioria esmagadora seguiu os passos dos pais, assumindo os negócios da família, engordando, fazendo filhos que não conseguem sustentar e criar sem a ajuda dos avós, sonegando imposto e fazendo carreata anti-corrupção. A mais perfeita catarse do conhecimento e da cultura, conforme os desígnios de Deus.

Tá, entendi, e?

(Ou: O que é pra gente fazer depois de ler essa bosta?)

O que eu gostaria que vocês gays, lésbicas, travestis, gêneros fluidos, mutantes, assexuais, fãs do Suplicy, eleitores do Ciro Gomes, gente que usa o tênis meia da Balenciaga (sim, até vocês), associados do Partido Novo ou do DCE depreendessem dessa série de relatos: O Brasil sempre foi assim.

Essa onda de bestialidade e retrocesso sempre existiu; ela não é um fenômeno novo advindo de um político “polêmico”. Estava aqui todo esse tempo, do seu ladinho, nos almoços de domingo em que o tio do pavê, funcionário público aposentado que é a favor do livre mercado e do fim do mimimi, comenta que viado é assim porque não apanhou direito na infância pra virar homem, ou naquele processo seletivo em que recusam o cara “embaitolado” com currículo excelente só porque ele é “meio estranho”.

Agora vem o comentário que vai criar inimizades com todos os snowflakes abaixo de 25 anos: vocês precisam aprender a revidar. Não façam como eu, que suportei essa gente por anos em silêncio (ok, não tão silêncio assim, mas vocês entenderam).

Não leva o desaforo pra casa porque ele é ruim de cama.

Estamos lidando com homens que batem em mulher mas são a favor da família, com mulheres que andam de saia jeans na rua mas fazem sexo anal antes do casamento e masturbam as primas para aprenderem a transar e não frustrar os maridos, com jovens executivos que se apaixonam por outro cara mas insistem em casar com a menina do colegial para se adequar à sociedade. De nada adianta a bicha versada em Piaget, Bauman, Aristóteles e Adorno tentar debater sobre a evolução das espécies com um exército de ignorantes que acredita que a Terra é plana! E que quando confrontados com fatos alegam que estão exprimindo a própria opinião e merecem respeito!!!!11111!!!!

Não vai ser comendo quinoa e problematizando a língua portuguesa que vamos sair livres dessa soon-to-be ditadura fascisto-neopentecostal (*). E, mais importante que nunca: os hipócritas estão em número maior, apoiando a criação de um novo partido fascista, enquanto vocês estão preocupados ou escandalizados com a orientação política da Tabata Amaral ou bravos com a falta de posicionamento da Anitta sobre algum comentário X no Twitter.

É com muito pesar que vejo o Brasil enfim representado pelo que sobrou da ditadura; não esperava viver algo assim no meu tempo. É triste. E não tô falando de eleição, antes que vocês me mandem e-email reclamando que o Haddad também não era uma boa opção. Pelo amor de Deus, eu espero o mínimo de discernimento por parte do meu público. Não quero ninguém me achando na rua e falando “Mas e o PT?”.

Nesse oceano de idiotas, vamos sedimentar uma ilha racional, por favor :)

É preciso seguir, né? Só espero que eu não seja o único.

Informem-se sobre a trajetória política do Irã nos últimos 50 anos.

(*) Considerando-se que a base governista lançou um novo partido com o mesmo lema e fundamentos dos antigos partido fascista italiano e partido integralista brasileiro, dei-me a licença poética de chamar essa gente pela denominação que lhes cabe: fascistas.

Me aguardem daqui uns dias para discutirmos mais algum assunto. Bjs

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