Criatividade — com Rebecca Mackenzie

Rodolfo Salles
Cri.ativos
Published in
9 min readApr 26, 2017

Becca Mackenzie tem 23 anos, é formada em Administração, ama cinema e o seu plano é dominar o mundo (caso todos os vilões não consigam antes dela).

Rebecca Mackenzie

Becca, a autora

Uma garota sonhadora, amiga de seus personagens e que acredita ter sido escolhida por cada um deles para trazê-los à vida.

Se fosse protagonista de um de seus livros, o que faria de diferente?

Ok, essa pergunta é bem complexa! Geralmente eu me identifico com os personagens e entendo suas decisões… Mas vou escolher o livro As Lendas de Saas, personagem Ravel. No livro, ela se casa com Dafar, mesmo sem conhecê-lo, para firmar uma aliança entre os reinos. Se fosse eu, acho que não teria aceitado me casar com um desconhecido. Sorte da Ravel que ela aceitou (Dafar é um amorzinho!).

Em uma palavra

Cristã. Porque tudo o que eu sou, minhas opiniões, valores, atitudes e crenças; tudo está intimamente ligado ao cristianismo. Sem Jesus eu não sou eu.

Sobre protagonistas sempre femininas

Não há motivo especial para isso. Quando eu tenho uma ideia de livro, vem tudo no pacote: os personagens principais e o esqueleto da trama. Então eu não escolho o gênero do personagem, até porque isso não faz diferença pra mim. O importante mesmo é a história.

Obra: As lendas de Saas

Capas de As lendas de Saas

As Lendas de Saas conta a história de algumas pessoas e como elas mudaram aquele mundo. O que eu mais gosto no livro são os personagens diferentes e como eles se complementam: a princesa fugitiva, o nômade caçador de recompensas, o pirata sobrevivente, o cientista excêntrico, a atriz ambulante, etc.

E todos eles são humanos, o que significa que não existem vilões e heróis. Existem pessoas que fazem escolhas boas e ruins.

Outra coisa é que no mundo de Saas não existe religião. Quase sempre os escritores, ao criarem um mundo, colocam nele: política, religião, cultura, etc. Mas eu deliberadamente escolhi criar um mundo completamente livre de religião. E acho muito legal quando os leitores percebem essa ausência.

O conceito

Mapa de Saas

Na verdade, Saas é um planeta bem pacato e não é o mundo mais rico da literatura (acabei criando um mundo mais simples por falta de experiência mesmo).

Passei uns três meses desenhando o mapa e imaginando os lugares, detalhando principalmente a geopolítica do planeta. Mas, verdade seja dita, ALDS foi o primeiro livro que escrevi e hoje, estando mais madura enquanto escritora, percebo várias coisas que poderia ter feito melhor. Tipo aquele prólogo, que já espantou alguns leitores. Se eu tivesse um pouco mais de experiência, teria feito a construção de mundo ao longo do livro e não “tudo” de uma vez. (Ainda bem que algumas pessoas curtiram a ideia de um capítulo só de curiosidades sobre o planeta!)

O que esse mundo tem de diferente são algumas plantas e animais (tipo os Zories), sem falar da ausência de religião. De parecido estão os dragões, sereias, e — claro — humanos.

A chama inicial

Eu não sei, não adianta! Sempre que alguém me pergunta: “de onde você tirou isso?”, eu respondo “da minha cabeça”. Não estou sendo grossa, é a mais pura verdade!

A ideia para esse livro (ALDS) veio numa noite, quando eu estava tentando dormir. Vi um homem usando roupas surradas — um manto com capuz, segurando um cajado. De alguma maneira eu sabia que ele era um nômade e caçava recompensas. Ele observava uma vila do topo de uma colina, com uma expressão sombria.

Lembro que era por volta da meia noite e eu levantei trôpega de sono, liguei o computador e me pus a escrever aquilo que se tornaria o primeiro rascunho. O mais legal é que aquela cena era do capítulo 5, e o personagem em questão é um dos principais, mas não é o protagonista.

A primeira da minha vida? Chamava-se “Sassatu”, e era praticamente o casamento de As Crônicas de Nárnia com Alice no País das Maravilhas.

Alice no país das Maravilhas

Escrevi à mão, vinte laudas, quando estava na sexta série. No final da história a garota perdia todos os amigos que ela tinha feito em Sassatu e nunca mais voltava para aquele mundo. O engraçado é que escrever aquele final trágico me abalou de verdade, e mesmo tendo me sentido tão mal, eu não o mudei.

Infelizmente perdi o manuscrito numa mudança.

Sobre ficção cientifica com reis e reinos

Pois é, foi por alguns motivos:

1. A história se passa em um planeta da nossa dimensão. E apesar de ter alguns animais fantásticos, como as sereias e dragões, eles não são exatamente como os conhecemos. Na verdade é como se eles fossem animais oriundos da evolução.

2. A tecnologia tem um papel muito importante na história, embora seja atrasada quando comparada com a nossa.

3. E a ciência, no geral, ocupa um lugar de destaque na história. Aliás, tem um personagem que foi inspirado em Darwin e Johnny Depp.

Mas eu entendo quando alguém diz que ALDS é um livro de fantasia, acho mesmo difícil classificar esse livro.

Evolução da escrita

Nossa, eu melhorei muito! Nem sei por onde começar.

Hoje eu uso mais o “mostre, não conte”, o que já melhora muito uma história. Além disso, parei de tratar o leitor como um bobo ingênuo, coisa que eu fazia muito antes (era sem querer, eu juro!).

Exemplo: eu dizia que um personagem estava sorrindo e cantarolando porque estava feliz. Se alguém está sorrindo e cantarolando, triste é que não está! Então o “porque ele estava feliz” é uma declaração desnecessária que trata o leitor como um idiota.

Também diminuí o uso de advérbios e estou jogando fora as muletas (palavras inúteis, como o “parecia”). E gasto mais tempo na criação de mundo — por fora da história. Assim, quando vou escrever, faço essa construção suavemente ao longo da trama.

Infância e influências

Sou filha de missionários, então passei a minha infância inteira em viagens. Já morei em Minas Gerais, Guiné-Bissau (África) por seis anos, Brasília e atualmente moro no interior da Paraíba.

Conheci a literatura através dos quadrinhos (Turma da Mônica). Mas eu não tinha muitas opções de livros quando criança, então eu demorei um pouco para me tornar uma leitora assídua.

O que me fez apaixonar de vez pela literatura foram, principalmente, os livros da Meg Cabot e Sidney Sheldon.

Cultura e entretenimento

Filmes e livros. Já assisti muitas séries, porém, elas estavam sugando muito do meu tempo, então eu tive que parar.

Influências atuais na literatura

Hoje eu não tenho autores favoritos. Tenho aqueles que dou um voto de confiança quando vejo o nome na capa, mas a verdade é que eu procuro livros de acordo com o tema ou o gênero que estou a fim de ler. E de cada escritor eu tiro algumas lições.

Por exemplo: o último livro que li foi ‘Uma Chama Entre As Cinzas’; e o que eu mais aprendi com a Sabaa Tahir foi como criar um vilão de verdade. Aquela Comandante deixa muitos vilões no chinelo!

… e fora dela?

Cinema. Sempre amei o universo cinematográfico! Mas também tenho acompanhado jornais e me interessado muito por política. É interessante (e um pouco assustador) acompanhar as notícias sobre guerras, acordos, desacordos, refugiados e desastres naturais.

Autores que não gosta

Da mesma maneira que eu não tenho favoritos, também não odeio nenhum autor. Quando não quero ler um livro, geralmente é porque estou evitando o gênero que não gosto — tipo: eu não gosto de sobrenatural, terror, e aqueles romances água com açúcar.

… e que gosta mas não admite

Não tenho vergonha dos livros que leio, só tenho vergonha de ler tão pouco! Sério, preciso ler mais!

Criatividade é:

Criatividade é ver além, é solucionar problemas e encontrar maneiras diferentes de se expressar. A criatividade move o mundo.

E sim, eu me considero criativa para a literatura. Acho muito fácil imaginar coisas que não existem na vida real, criar mundos e fazer os outros acreditar neles.

Escritor jardineiro ou arquiteto:

Jardineira! Acredito que existem dois tipos de livros: aquele que você escreve, e aquele que escreve você.

Quando você inventa uma história, está escrevendo um livro (e isso não é ruim, ok?). Mas, quando você descobre uma história, está escrevendo vidas. Os personagens se tornam mais reais, porque passam a agir por conta própria e a história se desenvolve sozinha. Tudo o que você precisa fazer é garantir que consegue acompanhá-los sem perder nenhum detalhe.

Eu consigo ser arquiteta. Posso esquematizar um enredo e criar algo legal. Porém, as melhores histórias são aquelas que eu não invento, mas que descubro.

Talento ou é técnica?

Os dois! Não adianta você ter um talento incrível se não souber usar as ferramentas adequadas. Seria como mandar um pintor desenhar com o dedo. Mas também não adianta você ter todas as ferramentas e técnicas, se faltar o talento. É por isso que nem todo pintor é o Picasso (acho que deveria ter escolhido outra metáfora, não sou muito boa em artes).

Um mentor

Stephen King!

Stephen King

Primeiro porque ele também é um jardineiro, então falamos a mesma língua. Segundo porque o cara tem muita experiência, e se o livro Sobre a Escrita já me ajudou, imagina como não seria incrível tê-lo como mentor?!

Uma obra que gostaria de ter escrito

Se eu dissesse Harry Potter, estaria fazendo isso apenas por causa do sucesso e dinheiro que a série rendeu. Por isso vou escolher uma história que detestei. A garota que não sabia ler. E o que eu faria de diferente? Tudo! Odeio esse livro.

Sobre sua relevância no Wattpad e além

Marketing. Tem escritor que range os dentes de raiva só de olhar para essa palavra, porém, você não pode se dar ao luxo de ser apenas escritor. Não adianta saber escrever se não souber vender suas ideias.

Uma dica para quem almeja o sucesso

Aprenda mais sobre o Marketing. Não busque apenas por palestras sobre como escrever melhor ou como usar a técnica Y. Marque presença também naquelas que falam sobre como vender mais livros, como fazer um marketing digital eficiente, etc.

Muitos autores pensam que o seu dever se limita a escrever. Quanto mais cedo você descobrir que isso é mentira, mais chances terá de se destacar na multidão.

Outra coisa: invista no seu inglês. A maioria das melhores palestras estão em inglês.

Autora, por quê? E o que seria se não fosse autora?

Porque eu nasci pra isso, sério. Foi o dom que Deus me deu. E eu não fosse escritora, seria empreendedora (se bem que ser escritora significa ser empreendedora).

O futuro:

Pode esperar por um livro que vai te fazer sair da zona de conforto!

Se Pudesse Contar as Estrelas é o livro mais difícil que já escrevi até hoje (na verdade ainda estou trabalhando nele). É um daqueles livros que escreve você, lembra? Uma fantasia que se mistura com a realidade, um drama de partir o coração, com alguns elementos da distopia e um toque de romance. Ok, talvez dois toques.

Capa provisória para "Se eu pudesse contar as estrelas"

Sobre publicar em editoras

Sou apaixonada pela publicação independente! Tanto é que o meu plano é lançar SPCAE no Wattpad e na Amazon, mas, se aparecer uma proposta muito boa antes, posso pensar no caso.

Um meteoro se dirige à Terra e todos tem uma semana de vida. O que você fará com seus últimos 7 dias?

Pegaria tudo o que eu tenho e me jogaria numa última aventura: a evangelização de algum povo que nunca ouviu falar de Jesus (e existem vários deles pelo mundo hoje).

Nada é mais desafiador do que um espaço em branco: Escreva o que lhe vier a mente:

Isto não é um espaço em branco.

Links da autora:

Amazon: http://amzn.to/2q0boB5

Wattpad: https://www.wattpad.com/user/BecaMackenzie

YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCiUzqQm-9cJsSB--9BIaqSA

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Muito obrigada pelo convite, amei responder as perguntas malucas! kkk.

E obrigada a vocês leram tudo até aqui, meu você tem muita paciência e força de vontade ♥

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Rodolfo Salles
Cri.ativos

Um imaginador de mundos, um construtor de universos e um escravo da criatividade… ou vai ver fui programado pra acreditar nisso tudo XD