Criatividade — por Vinicius Gomes

Rodolfo Salles
Cri.ativos
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11 min readMar 21, 2017

Vinicius Gomes tem 25 anos, é advogado em Belo Horizonte e estudante de psicologia, além de host do GrumpyCast, viciado em livros e poscasts. Tem como objetivo o doutorado em psicologia e ter seus livros lidos!

Vinicius Gomes

Vinicius, o autor

Eu tenho em mente que o profissional nunca se dissocia do pessoal, então o Vinícius autor é alguém que está sempre preocupado com representatividade, histórias novas e que tragam elementos que muitas vezes são ignorados na nossa literatura. É também um cara metódico, às vezes preguiçoso, e que sempre enrola para começar um livro (mesmo tendo já planejado tudo).

Vinicius, como um personagem

Um cara metódico, que planeja tudo, mas é preguiçoso, às vezes presunçoso demais, mas que sempre se preocupa com as pessoas ao seu redor e em ser justo.

Em uma palavra

Sonhador.

Obra: Visagens - Serpente

Capa de Caíque Guerra

Putz, isso é difícil também. Não sou bom para falar de mim mesmo, tampouco das minhas obras. Mas vamos tentar e serei direto. Meu livro se passa em um cenário/ambiente totalmente brasileiro, tento trazer à tona um pouco da Mata Atlântica, do Cerrado e da Caatinga, e ainda coloquei alguns elementos antigos de conhecimento da nossa História, como engenhos, religiões afro-brasileiras, nossas mitologias, etc. Esses elementos são raros de serem vistos na fantasia tradicional, e nem mesmo existem lá fora, mas os autores nacionais de hoje têm trabalhado para mudar isso, e eu também estou tentando.

O mundo

Eu tentei fazer algo experimental, criando vários pontos de vista em primeira pessoa para cada um dos meus personagens principais (que são sete). Foi a coisa mais complicada que já tentei, porque, primeiro, foi preciso mudar uma chavinha no meu cérebro para aprender a narrar na primeira pessoa do presente (até isso deixar de ser estranho pra mim demorou demais!); segundo, foi necessário criar sete formas diferentes de narrativa! Esquizofrenia pura, e ainda hoje não sei se ficou assim tão claro.

Cerrado

O meu mundo não tem nada de mais, eu acho. É o Brasil, eu deixo claro isso, são as nossas matas, o nosso clima, a nossa topografia, mas é em uma época diferente. Com inspirações no passado e um toque de magia, mas não quer dizer que se passa à época da Colônia. O leitor terá que tirar suas próprias conclusões. Foi preciso bastante pesquisa para isso, li vários livros de geografia, consultei alguns amigos “especialistas” e fui tentando desenvolver algo fluido, até porque eu conheço e já visitei muito dos cenários que descrevi.

O que tem de diferente na minha obra eu já comentei acima, a narrativa. Primeira pessoa do presente não é algo que vemos todo dia, e muitos leitores comentaram e até mesmo criticaram a minha escolha. O que tem de igual é a estrutura, ao estilo de “vamos passear no bosque, enquanto o lobo não vem”, digo, um bando de amigos viajando juntos em busca de tesouros e uma vida boa. Quem nunca viu isso num RPG?

Outro ponto que tentei desenvolver foram os “meus elfos”. Ao final do livro eu comento isso (em meus livros únicos — embora esse seja o único publicado até agora — eu tenho a mania de falar um pouco sobre meu processo de escrita, escolhas, etc., acho isso muito legal, dar a oportunidade ao leitor de saber um pouco mais de como o autor chegou a determinadas decisões). Eu li em algum lugar que os povos nórdicos chegaram às Américas muito antes dos portugueses e espanhóis, e viram os índios e se inspiraram neles para criar a mitologia dos elfos. Se isso é verdade ou não, eu não me importo, eu quis usar este elemento para inserir uma índia “arretada” na minha narrativa.

Quanto aos povos, não tenho muito o quê comentar. Não desenvolvi isso, porque não busquei por isso. O meu Brasil é fragmentado, não existem muitas pessoas, nem muitas aglomerações. Alguns vivem na estrada, outros ao relento, muitos em regiões que chamei de engenho. Eu cito os anões do meu amigo Lauro Kociuba em um momento, apenas como homenagem, e também falo que existem seitas, igrejas, etc, mas não me aprofundei muito isso.

A chama inicial

Isso é um pouco engraçado. Tudo começou com uma cena na minha cabeça, que eu não vou dizer qual é, porque é spoiler, e ela consta no penúltimo capítulo. Quando eu pensei nessa cena, eu disse para um amigo: imagina como seria narrá-la em primeira pessoa? Daí então eu a escrevi e vi que, se escrevesse no presente, o momento seria ainda mais impactante, pois estaria acontecendo ao mesmo tempo da leitura. Os personagens não sabem o que vai acontecer a eles, pois eles estão nos dizendo o que está acontecendo a cada instante.

O enredo, entretanto, surgiu de forma diferente. Um belo dia, eu e meus amigos jogamos RPG, e cada um deles fez um personagem bem característico que, à base da minha análise, tinha tudo a ver com a própria personalidade deles. Então eu resolvi pegar essa história, juntar com um cenário brasileiro, e criar meus personagens totalmente inspirados neles. Foi a saída que encontrei para criar sete narrativas diferentes.

Primeiro contato com a escrita

Isso faz algum tempo já. Chamava-se “As Histórias de Áscar”. Ideia era escrever cinco livros, e só esse primeiro tinha 476 páginas! Fiz um lançamento em 2013, depois de 3 anos escrevendo, e foi muito bom. Hoje eu tenho uma ponta de vergonha do que escrevi. Eu era muito imaturo, sabe? Havia lido uns 5 livros de fantasia na vida, nunca tinha estudado técnicas narrativas ou algo do tipo, e achei que já era escritor. E ainda por cima, grande parte da história era embasada no clima de As Crônicas de Nárnia, que é um pouco infantil, né? Mas além disso, conforme eu ia lendo mais livros, eu ia fazendo que nem o Christopher Paolini e jogando de qualquer jeito na minha história, mudando aqui e ali alguma coisa para não ficar na cara. A diferença é que ele foi publicado e ficou rico e famoso!

Sobre personagens baseados em pessoas reais, e como isso interfere em seu desenvolvimento

Como isso não interferiu? Interferiu totalmente! Hehehe e era essa a intenção. Eu meio que “roubei” ao fazer os personagens inspirados nos meus amigos, pois eu já os conheço, sei como falam, sei como narram suas histórias cotidianas, e conheço também suas peculiaridades. Aí foi um pouco fácil, o difícil mesmo foi combinar a personalidade deles com as características dos personagens e os momentos que estavam vivendo na trama.

Em relação ao Marcus, eu precisava de um elemento para contrapor dois personagens que eu havia criado, então eu resolvi me inserir na história. Quem ler pode ver que ele não é o personagem principal, todos são, mas ele acaba movimentando a trama para frente, tal qual o mestre de RPG faz.

Processo criativo e raízes

Como todo bom projeto de pesquisa científica, minhas obras começam com uma pergunta. “E se tal coisa acontecesse?” ou “E se fosse feita uma história baseada nisso?”. Daí eu começo a pensar bastante nessa ideia, me apaixonar por ela. Se ela durar mais do que uma semana sem eu precisar de anotar, então eu a julgo digna de ser escrita.

Para histórias menores, quando me bate uma ideia, uma “inspiração”, eu anoto no celular e espero esquecer. Um belo dia, se eu vir essa anotação e ela me trouxer o mesmo sentimento de volta, eu começo a criar a narrativa.

Infância e influências

Eu fui criado com muito contato meus avós. Minha avó (materna) adorava contar histórias que ela ouvia quando criança, e meu avô (paterno) era um homem de muita inteligência e cultura, e muito religioso também, eu adorava parar para ouvir o que ele havia aprendido de novo na bíblia ou na Torá (ele se descobriu judeu em algum momento da vida, e então, já aposentado, mergulhou de cabeça nessa vida religiosa e aprendeu até hebraico!).

Apesar disso tudo, durante muito tempo da minha vida eu odiava ler. Dizia que ler era chato e ficava falando mal de quem gostava. E ainda assim eu criava minhas narrativas com meus bonecos, meus legos, criava histórias fantásticas que duravam três, quatro dias. Gostava de ser o responsável por inventar as brincadeiras com meus amigos, e não era tão fã de videogames (daí descobri Pokémon e tudo mudou hahaha).

Eu tenho um amigo que sempre quis que eu lesse os livros que ele gostava, porque ele sabia que eu gostava de pesquisar assuntos aleatórios, então a gente sempre batia um bom papo. Ele insistiu para que eu lesse Anjos e Demônios, do Dan Brown. Eu até tentei, mas parei na página 65 (lembro disso até hoje). Depois, ele falou que eu ia gostar mais de Código da Vinci (o filme já tinha até saído de cartaz), e esse foi paixão à primeira vista. Demorei um mês pra ler, mas adorei. Então peguei o Anjos e Demônios e voltei a ler na página 65, em que havia parado, e também adorei a leitura.

Porém, um ano se passou e eu não havia lido mais nada. Até que vi O Símbolo Perdido para lançar no Submarino, e ainda aproveitei para comprar o volume único de As Crônicas de Nárnia (por 10 reais!). Eu tinha 18 anos na época e foram os primeiros livros que eu comprei para ler (adorei os dois e li ambos em apenas um mês), então costumo dizer que aprendi a ler aos 18.

Cultura e entretenimento

Eu leio muito, principalmente fantasia e livros de psicologia (devido à minha atual graduação). São coisas que eu gosto muito e que sempre me inspiram na escrita. Também gosto de ler sobre outros autores e sobre seus ensinamentos. Filmes eu já gosto de tudo um pouco, desde super-heróis da Marvel, até filmes “cult” preto-e-branco do início do cinema. Eu sempre estou atrás de um ótimo enredo e bons personagens, mas às vezes uma pipoca e muita ação me cativam.

Influências atuais

Brandon Sanderson: Mistborn

Como escritor de fantasia, eu poderia dizer que bebo muito da fonte do Tolkien, embora eu não goste de Senhor dos Anéis. Mesmo assim, Visagens tem um pouco de O Hobbit (dragão, caverna, tesouro…). Mas, se for para dizer em quem me inspiro atualmente, com certeza seriam George Martin (é bem clichê dizer isso nos dias atuais, né?) e principalmente Brandon Sanderson, devido á sua narrativa límpida, direta ao ponto, e construção de mundos e sistemas de magia. Esse cara é atualmente “meu mestre”! Hehehe.

Autores que não gosta

Momento polêmica. Eu não sou fã do Tolkien, mas não vou argumentar muito aqui, simplesmente não me cativei pela narrativa dela e ponto. Também não me sinto tão empolgado com Patrick Rothfuss, li O Nome do Vento, gostei um pouco, mas não estou com vontade de encarar O Temor do Sábio. Também não sou fã do Neil Gaiman romancista, embora o roteirista seja fenomenal.

Mas realmente não gostar, posso dizer que não gosto mesmo do Christopher Paolini. Acho que de outros eu nem nutro ódio mesmo hahaha.

… e que gosta mas não admite

Dan Brown. Vou sempre ler as histórias do Robert Langdon, mesmo sabendo que são a mesma coisa. Mas é preciso admitir que o Dan Brown tem uma baita fórmula de thriller nas mãos! (embora eu odeie os outros livros dele que não sejam do Robert Langdon).

Criatividade é:

Acredito que todo ser humano é essencialmente criativo. Criatividade, para mim, é dar um novo contorno a algo que já existe. O ser humano pega o que está ao seu redor e o recria, transforma minério de ferro em aço, linguagem em escrita, palavras em sonhos. Isso é a criatividade, para mim. Então posso dizer que me considero criativo, estou sempre imaginando coisas novas, transformando ideias pré-concebidas, experiências de vida, fundindo-as em narrativas (na minha mente) que somente eu posso criar, e isso tem a ver com a minha subjetividade.

Qualquer um pode criar algo novo, mesmo se pegar temas já existentes e simplesmente fundi-los. Mas o que realmente importa é COMO ele transforma essas informações e, principalmente, COMO ele as conta/descreve/narra. Isso, meu amigo, é o supra sumo do ser criativo.

Escritor jardineiro ou arquiteto:

Arquiteto, totalmente. Minha formação como advogado interfere muito nisso, mas eu já era desde antes da faculdade. Eu não consigo escrever sem saber aonde quero chegar. Eu não consigo fazer nada sem me planejar. Todos os meus projetos futuros são… projetados!

O sentido da vida:

42. Não, pera, você pediu o sentido, né? Sei lá, cara, estou começando Psicologia agora, e lá já estou descobrindo que não terei uma resposta para isso. Porém, tendo a acreditar que estamos aqui só por estarmos, não há missão terrena, não há objetivo superior, a vida é um momento, um piscar de olhos para o Universo.

O futuro:

Bom, estou com um projeto “pronto” desde o meio do ano passado. Pesquisa pronta, enredo pronto, personagens quase prontos, e a vergonha na cara ainda não apareceu para o espetáculo. Ainda não escrevi sequer o primeiro capítulo (mentira, escrevi sim, mas eu refiz meu planejamento, então não conta). Essa história também é inspirada no nosso Brasilzão de meu Deus, em uma época passada, com muita representatividade, questões de gênero, e estou tentando desenvolver um sistema de magia que obedeças às leis do Mestre Sanderson. Mas a preguiça tem me vencido, combinada com a falta de tempo livre pela faculdade + trabalho (advogar é escrever todos os dias, e então é mais fácil criar desculpas ao engavetar aquele projeto maravilhoso, sabe?).

Não vou falar sobre esse meu projeto ainda, não quero as pessoas que eu conheço me cobrando…

Mas, estou com outras ideias. Penso em escrever alguns contos, algumas short stories para postar no Wattpad, ou num blog/medium, ou mesmo gratuitamente na Amazon. “Cresça e apareça” é um lema muito importante para quem quer ser lido.

Se pudesse escrever algo para si mesmo daqui trinta anos, diria:

O mundo ainda precisa de histórias.

Nada é mais desafiador do que um espaço em branco: Escreva o que lhe vier a mente

“Escolham suas armas”, o narrador disse. O embate estava pronto, a plateia silenciosa observava os adversários se estudando, olhos cerrados, respiração presa. O ar como uma parede de concreto.

“Desisto”. O escritor largou seu lápis e seu teclado, e saiu cabisbaixo da arena. O Espaço em Branco sorriu e devorou mais uma vítima.

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Rodolfo Salles
Cri.ativos

Um imaginador de mundos, um construtor de universos e um escravo da criatividade… ou vai ver fui programado pra acreditar nisso tudo XD