Rock no vale: retiro ou festival?

Raphael Dusi
criativa criatura
Published in
6 min readNov 26, 2016
Música, Reino e Sustentabilidade

Festivais te dão o privilégio de conhecer certas bandas direto do palco ao invés de numa playlist aleatória do spotify servindo de música de fundo pro feed do seu facebook. Além disso são a evidência física que o seu gosto musical/artístico existe fora da internet — Eles promovem uma identidade.

Podemos dizer que cada festival tem a sua. Pra quem gosta de se vestir bem e ouvir artistas hip, o Coachella tá aí pra isso. E pra quem é cristão (ou o clássico simpatizante), gosta de música boa e sustentabilidade, o Rock no Vale é seu festival oficial.

O que é esse tal de Rock no Vale?

Ele é a combinação do de retiro e conferências com festival de música. Shows, palestras, moda… como se categoriza aquilo que não tem categoria? Melhor falar como os próprios organizadores anunciam, o RnV se resume a:

Música, Reino e Sustentabilidade.

O Rock no Vale é um milagre de festival. Apesar de alguns preferirem coisas como spotify e youtube pra ouvir boas músicas e boas mensagens a sensação de estar com irmãos de fé que tem o mesmo gosto musical que você é insubstituível. Ainda mais se você cresceu numa igreja cuja “setlist” do culto tem músicas de 30 anos em média. Ter amigos que estão na mesma vibe cultural que você é uma raridade a ser valorizada e o Rock no Vale é a oportunidade de encontrar essas pessoas. Rock no Vale é a mistura perfeita de retiro com festival.

O Rock no Vale pode ser um retiro incrível:

São 3 dias de festival, e se você quiser usar esses 3 dias pra se “retirar espiritualmente” e voltar para o mundo revigorado, fique à vontade! Afinal você pode ficar lá na propriedade do Jovens da Verdade — onde acontece o RnV — durante 100% do tempo do evento. São duas noite naquele clássico alojamento de retiro com mais 10 pessoas no quarto compartilhando beliches, compartilhando banheiro e compartilhando experiências (só não compartilha escova de dente por favor). No meu caso, prefiro ir para o Rock no Vale com a mentalidade de curtir mesmo. Não é sempre que tem tanta coisa boa junta pra fazer num só final de semana. É pra ir pra cansar.

Aliás tem também o antro das experiências únicas do Rock no Vale:

O lugar mais contemplativo de todo o festival.

O refeitório.

Ele não é só o lugar no qual você tomará café, almoço e janta. Ele pode ser o lugar que você fará sua devocional diária com a vista das montanhas e vegetação. Lá você pode fazer amigos como em clássicos acampamentos ou temporadas. Ou também pode esbarrar com o pessoal do Supercombo enquanto vai jantar e eles saem do refeitório (baseado em fatos reais). E o melhor de tudo, pode até encontrar a banda Nume jogando UNO pós show e trocar uma ideia com eles. Se você que está lendo for no Rock no Vale lembre-se uma coisa, o refeitório é o portal mágico do festival. É onde tudo começa e tudo termina.

O Rock no Vale pode ser o festival mais singular que você já foi:

Acredito que não é preciso dizer sobre a excelente qualidade da música tocada durante os shows. Inclusive é bom já deixar avisado que não é bom esperar por um louvorzão. Os artistas estão lá pra tocar música e fazer um excelente show. As mensagens das músicas podem até ser cristãs, mas a apresentação não funciona como naqueles louvores de culto ou conferências. Isso não quer dizer que você não pode fazer o que quiser, entre cantar e louvar você que decide o que te deixa mais à vontade.

Como em muitos festivais, você pode ter o privilégio de encontrar os artistas passeando pelo RnV. Ano passado enquanto assistia o show do Tiago Iorc com minha namorada um rapaz pediu licença para usar a cadeira do nosso lado. Demorou um tempo pra perceber que eu tava assistindo o show do lado do Tiago Arrais. Foi meio engraçado ver várias pessoas fazendo fila pra tirar foto do lado dele, há 1m de onde eu estava.

Outra experiência incrível — comum de festivais de música — é descobrir várias bandas menores que você nunca tinha ouvido falar da melhor forma possível: direto do palco. A banda Nume foi a melhor surpresa que o RnV podia me dar, o verdadeiro som da amazônia espacial debaixo da chuva, em cima da lama. Durante o festival confie no seu F.O.M.O. (fear of missing out). Você não vai querer acidentalmente perder uma experiência espetacular. No ano passado fiz a estupidez de perder o show do Projeto Sola pra ir tomar banho. Pelo menos tive a experiência mais única de todas, comecei a gostar da banda ouvindo lá do chuveiro do alojamento.

A vocalista (de amarelo) liderou a dança na lama. Até um dos idealizadores do RnV (Marcos Botelho) se tacou na lama com bolsa de compra e tudo.

O momento mais singular de todos na edição de 2015 foi o encerramento do show dA Banda Mais Bonita da Cidade. Enquanto eles tocavam sua música mais famosa — “Última Oração” — vocalista e guitarrista decidiram pular do palco e dançar na lama pós chuva com todos os seus fãs. No gif dá até pra ver um dos idealizadores do evento — Marcos Botelho — pulando na lama cheio de sacolas de compras. Durante todo o show eu fiquei vendo ele assistir o show de um lugar distante sem lama nem poça, parecia que tinha acabado de tomar banho e tava pronto pra ir embora depois do show. Mas quando essa festa começou ele entrou correndo, provavelmente sabia que aquele seria um dos momentos mais mágicos de todo o festival. E foi com esse momento único que a edição de 2015 se encerrava.

Nem só de música o homem viverá.

Acho que já falei o suficiente de toda a camada musical do evento e não posso deixar passar em branco outros elementos. Ainda mais porque o festival inclui feira de moda, palestrantes muito bons e até uma espécie de cena gourmet que precisam ser comentados mesmo que brevemente. Lá você vai descobrir inúmeras marcas de roupa cristãs, todas de muita qualidade e cheias de mensagem. São empreendedores que enxergam a moda como um veículo para disseminar o estilo de vida cristão. Existem também os empreendedores que vendem comidas e bebidas saudáveis, inclusive veganas! Essa é a alimentação que você pode pagar por fora se quiser experimentar algo diferente que vale muito a pena.

E por fim, é preciso lembrar que muitos preletores estarão compartilhando sua sabedoria nos painéis e palestras. Ano passado ouvi o Jonas Madureira falar pela primeira vez, o assunto era dualismo. Logo percebi que tinha descoberto um cara com muita propriedade e divinamente inspirado para falar. Carrego a mensagem daquela palestra até hoje e sempre que me perguntam de uma boa “pregação” essa é a primeira que vem à minha mente.

Enfim, essa foi uma tentativa de resumir a minha experiência e o que me tocou durante o melhor final de semana do ano passado que misturou retiro, conferência e festival. Garanto que existem muito mais histórias a serem contadas durante o evento e se tiver alguma, por favor compartilhe! Aliás, é importante dizer que lá ninguém é julgado pela sua fé, todos os presentes são pessoas bacanas com grandes interesses em comum e, lógico, cada um com a sua diferença e suas próprias histórias pra contar. Não importa religião, se você quer celebrar Música, Reino e Sustentabilidade o Rock no Vale é o lugar certo para se estar.

O lugar certo para se sujar… E valer muito a pena.

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