Como eu, desenvolvedor, posso melhorar a experiência do usuário?

Carla De Bona
criciumadev
Published in
6 min readMar 27, 2018

Da UX designer para o desenvolvedor, com carinho ❤

De uma forma bem simples e direta, até por que o objetivo desse texto não é conceituar o termo experiência do usuário, UX design é uma abordagem de desenvolvimento de produtos que leva em conta o usuário para determinar qual será a experiência quando esse usuário interagir com o produto. Se a ideia é ter uma abordagem centrada no usuário, é importante perceber que UX não deve ser tratado como um setor específico dentro da empresa, mas sim, que todos são responsáveis por construir a experiência do usuário. Até porque quando um usuário tem uma experiência ruim com um produto, ele não direciona seu xingamento à um setor específico, pelo contrário, a frustração dele é com a marca/produto como um todo. Tanto que se é assim, o inverso também acontece, as melhores experiências de usuário sempre são relacionadas a todos os pontos de contato com o produto, por isso a importância de se construir uma cultura de UX na empresa. Na palavra todos, está incluso você, desenvolvedor, por isso te dedico esse texto.

Você, desenvolvedor, achando que sua preocupação era apenas se o código compilava ou não…

Envolva-se com a pesquisa

Se você é um desenvolvedor e leu esse texto até aqui, imagino que você esteja um pouco decepcionado, pois acho que você estava esperando que te mostrasse como você pode melhorar a experiência do usuário do ponto de vista do código. Até porque, como desenvolvedor, você tangibiliza a experiência do usuário nas linhas de código que você constrói. Sim, você está certo, mas para acompanhar minha linha de raciocínio nesse tópico, dê um passo atrás no projeto e busque o usuário. É na pesquisa que você vai encontrar informações que lhe mostrem o impacto da solução em pessoas de verdade, deixando de lado as suas perspectivas, suposições e expectativas pessoais.

Além disso, esse tipo de abordagem amparar a equipe, não apenas o designer, com informações que serão úteis para todo o processo, ela também lhe traz novos inputs, pois com insumos realmente relevantes e vindos das dores reais do usuário, o projeto passa a ser instruído para elevar à outro nível técnico ou até à inovação, a solução que está sendo desenvolvida. Quanto mais você se aproximar dos seus usuários, mais você vai perceber que você não é pago apenas para escrever linhas de códigos. Óbvio que vai haver código envolvido no fim das contas, mas talvez o mind-set que você precise desenvolver envolva as seguintes perguntas: será que essa linha de código ou essa feature realmente está resolvendo o problema do usuário? Será que tem um jeito mais simples do usuário fazer isso? Será que eu sei a dor do usuário?

Se nada disso te convenceu, lembre-se dessa frase do famoso estatístico americano :

“Without data you’re just another person with an opinion.” — W. Edwards Deming

Toda a equipe deve estar ciente do que construir e para quem. Você não precisa necessariamente participar do planejamento de pesquisa e nem do recrutamento. Apenas se aproxime do seu usuário, pelo menos, entenda o básico, vai servir para você ver um propósito mais profundo nas suas linhas de código. E se o produto já estiver rodando, faça como a Nubank que colocou seus fundadores e engenheiros na cadeira do SAC para atender os clientes e resolver os problemas deles.

"Recebi, por exemplo, duas ligações de pessoas que não entendiam o fluxo de enviar fotos no processo de aquisição, quando as pessoas estão pedindo o cartão… e a cabeça começa a encher de ideias de como a gente faz para melhorar esse processo."- diz o CEO da Nubank

Desenhe antes de codar

Talvez você leia esse título e pense: "Mas eu não sei desenhar!". Trago verdades, o fato é que a sua habilidade com desenhos definitivamente não importa, porque não é sobre estética ou quanto o seu desenho é bonito, e sim, sobre ideação, sobre tangibilizar suas ideias de uma forma rápida e co-criar com seu time. Até porque, para fazer um esboço de uma tela você só precisa saber desenhar quadradinhos, bolinhas, linhas e "Xs" para indicar que há uma imagem no esboço, com esses recursos você consegue desenhar qualquer ideia de tela que você tenha.

Voilá! Falei que dava e nem gastei a bolinha ¯\_(ツ)_/¯

Se você, desenvolvedor, estiver envolvido nos primeiros esboços da interface é útil para você e para o UX designer também, é o famoso ganha-ganha. Com a sua participação na fase dos esboços, você pode contribuir para construção da experiência do usuário mostrando como as coisas poderiam funcionar tanto do ponto de vista das limitações técnicas quando das oportunidades que talvez o designer não tenha no repertório dele. Além disso, dinâmicas que envolvem tanto engenheiros, quanto designers no início do projeto garantem que o tempo de trabalho de ambos não seja desperdiçado em uma solução que não seja adequada, além de evitar inúmeras "refações". Se você não acredita em mim, acredita no Nielsen, especialista em usabilidade com vasta experiência em produtos digitais:

Quarenta anos de experiência em engenharia de software indicam uniformemente que é muito mais barato mudar um produto no início do processo de desenvolvimento do que fazer alterações no processo. — Jacob Nielsen

Além dos termos práticos, você como desenvolvedor vai se sentir mais envolvido (e logo engajado) com o projeto, pois você participou das discussões que levaram a solução que você vai codar. Usando a palavra hype da vez: você vai ver mais propósito no que você está fazendo. E claro, projetar com toda equipe ajuda a todos a serem mais informados e empáticos com os usuários desde o início.

Então, idealmente, o processo de pensar uma solução deveria ser sempre assim, primeiro no papel e na caneta. Até mesmo se você não tiver um UX designer no seu time, você com certeza terá acesso a caneta e papel. Sempre faça alguns esboços rápidos de como você acha que um produto ou uma feature pode funcionar, desenhar ajuda a deixar nossas ideias mais claras, explícitas e acionáveis.

Mas e no código, onde está a UX?

Para responder essa pergunta eu preciso começar contando uma história triste de um usuário qualquer, que poderia ser você e poderia ser eu também…

Era uma vez, numa interface muito muito distante, um usuário navegando por diversas telas lindas e um fluxo de navegação super adequado ao modelo mental dele. Tudo parecia tranquilo e em paz no mundo de faz de conta da UX perfeita… Mas de repente, não mais que de repente, eis que surge a mais temível vilã de todos os tempos… A senhora Demora! Mesmo não tendo um nome impactante de vilã, a senhora Demora acabou com toda a experiência de UI e AI porque quando o indefeso usuário clicou no botão enviar, a senhora Demora atrapalhou o fluxo e fez o usuário esperar longos (e infinitos) 5 segundos…

57% dos clientes mobile vão abandonar o seu site se eles tiverem que esperar 3 segundos para uma página carregar. — Fonte: MoPowered 2014

A performance é tão importante quanto a usabilidade e o design na experiência do usuário. Se você perceber que o seu usuário está perdendo muito tempo esperando no seu produto digital para processar alguma coisa, tente rastrear o que pode estar causando o atraso e encontre maneiras de otimizar as coisas. Talvez uma das bibliotecas das quais você depende possa ser trocada por uma mais rápida? Talvez parte do seu código não seja tão eficiente quanto poderia ser? O fato é que toda a pesquisa com usuários e prototipação da interface será um trabalho perdido, se o seu site ou aplicativo demorar para carregar, pois as pessoas provavelmente presumirão que ele tem problemas e irão embora… para o próximo aplicativo ou site. VISH! Aproveitando o gancho, além da performance dos produtos que você codifica, você também precisa dar muita atenção para os bugs e falhas do seu produto digital, pois os usuários são duros quando lidam com aplicativos ou sites cheios de problemas técnicos. Monitore os bugs e corrija-os sempre o mais rápido possível. Esse é mais um ponto que você tem muito poder sobre a experiência do usuário. E como diria o Tio Ben:

Com grandes poderes vem grandes responsabilidades.

Uma questão de mais motivação e menos fricção

No fundo quando falamos de produto digital, estamos sempre tentando reduzir a fricção em termos de experiência, ou seja, buscamos deixar nosso produto o mais simples possível de usar, ao mesmo tempo que em termos psicológicos estamos tentando aumentar a motivação do usuário para querer sempre nossa solução por acreditar que aquela é a melhor solução para o problema que ele tem. Uma empresa que trabalha muito bem essa questão é a Google e seu buscador, ou você já considerou usar o Bing quando pensa em usar um buscador? ¯\_(ツ)_/¯

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Carla De Bona
criciumadev

Designer focusing on UI/UX Design. Researcher with M.S. in Communication and Semiotics. Entrepreneur, co-founder of {reprograma}, a social impact initiative