A MARGEM.

Bruno Mendes
Parábolas
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12 min readJun 6, 2020

Fica na margem! Fica na margem! Não vá para o fundo, gritava a mãe para o seu filho, recomendando que ele não se atrevesse a ir para as regiões mais profundas do mar. Fique na margem, fique no raso, fique no superficial, e por vezes esses são os pedidos de pais e mães aos seus filhos que não tem conhecimento sobre o mar ou que não sabem nadar, o pedido é para que não se aventurem nas águas profundas. Muitos são os casos dos que permanecem as margens aqueles que tem o prazer no raso, onde é possível sentir o chão e fugir da adrenalina das águas profundas, onde não existe profundidade, apenas superficialidade.

Estar as margens, é estar no básico, é estar na superficialidade.

Superficial carrega o significado de: Algo que é: básico. É não ter profundidade em algum assunto. É ter o contentamento com o básico de estar nas margens. No entanto, peço que não me interprete mal, não argumento aqui acerca do contentamento no pouco, pois, se eu assim o fizesse estaria remando contra a correnteza, ou seja, contra o ensino do apóstolo Paulo que encontramos nas escrituras, acerca do contentamento no ter o que comer e o que vestir, em ter o básico sabendo que isso nos basta, lembrando que O Deus Triuno, O Pai Celestial“[…]sabe que precisais de tudo isso[…]”(Mateus 6,33).

Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. (1 Timóteo 6:8)

No entanto, o que trato aqui, está muito mais inclinado sobre a concepção de Paulo para com a igreja que estava ali em Coríntio, ao dizer que não poderia tratar com eles de forma espiritual, como adultos, como maduros, com profundidade, mas como crianças, como quem fica nas margens, devidos os eventos que estava acontecendo por lá, aponto de dizer que teve a necessidade de trocar a comida sólida por leite. “[…]não vos pude falar como a espirituais, mas como a carnais, como a meninos em Cristo.[…]” “[…]Com leite vos criei, e não com carne, porque ainda não podíeis, nem tampouco ainda agora podeis”(1 Coríntios 3:1–2), bem como o escritor de Hebreus, que apresenta uma ideia semelhante ao se direcionar aqueles que já deveriam ser mestres em tal assunto, deveriam estar caminhando com o progresso na fé, entretanto, por causa de negligência, por ter talvez, o prazer em viver na margem, no raso, isso não era possível para muitos que ali estavam.

A essa altura, já deveriam ensinar outras pessoas, e no entanto precisam que alguém lhes ensine novamente os conceitos mais básicos da palavra de Deus. Ainda precisam de leite, e não podem ingerir alimento sólido. Quem se alimenta de leite ainda é criança e não sabe o que é justo. O alimento sólido é para os adultos que, pela prática constante, são capazes de distinguir entre certo e errado. (Hebreus 5:12–14).

Mas o meu argumento aqui toma forma partindo desse princípio, onde o ponto de partida está na superficialidade da multidão que seguia a Jesus como vemos em João 6, que além disso, é um capítulo onde contemplamos o Senhor alimentando cinco mil homens com apenas cinco pães de cevada e dois peixinhos, podemos também, nos maravilhar com o poder do nosso Senhor sobre as ondas do mar, vislumbramos a sua poderosa confissão em ser o Pão que veio do céu para alimentar um povo que ao comer deste pão vida eterna terá, e por fim, vemos a sua conversa com os judeus, suas murmurações e muitos dos que diziam serem discípulos de Cristo, escandalizados e o abandonando. É certo que encontraremos diversas preciosidades nesse capítulo que observamos o Cristo de Deus, O Messias, e o seu supremo poder e majestade.

Vemos também que nem todos que seguem a Cristo, realmente o segue por quem Ele é, mas sim pelo o que as mãos d’Ele pode oferecer.

A narrativa estava posta! Uma multidão faminta composta de cinco Mil homens — com muita fome, imagino eu, que podê contemplar assombroso milagre, segundo J.C Ryle [1] “Um poder criativo foi manifestamente exercido, e o alimento que antes não existia foi chamado à existência. Na cura de enfermos e na ressurreição de mortos, algo já existente era curado ou restaurado. Mas, para alimentar cinco mil homens com cinco pães, algo que antes não existia teve de ser criado.” (RYLE,1879).

Isto, meus irmãos, é o poder do sobrenatural, o poder de Deus, de chamar a existência aquilo que outrora não existia, onde não existia matéria cria-se uma ruptura nas leis da física e cria, fez existir onde nada tinha, fez emanar onde nada emanava, no entanto, para alimentar cinco mil, algo que antes não existia teve de ser criado.

E Jesus tomou os pães e, havendo dado graças, repartiu-os pelos discípulos, e os discípulos pelos que estavam assentados; e igualmente também dos peixes, quanto eles queriam. (João 6:11)

Foto de Gregor Moser em Unsplash

Então Jesus os partiu, mas, aparentemente meus caros, a sensação é de que a multidão vendo isso, apenas se maravilhou, se encantaram com o que ele fez, alguns até confessaram ser Cristo, o verdadeiro profeta que viria ao mundo mas ainda sim era obscurecido a Eles quem realmente era o profeta que multiplicara os pães e peixes.

Vendo, pois, aqueles homens o milagre que Jesus tinha feito, diziam: Este é verdadeiramente o profeta que devia vir ao mundo.
Sabendo, pois, Jesus que haviam de vir arrebatá-lo, para o fazerem rei, tornou a retirar-se, ele só, para o monte. (João 6:14,15).

É comum suceder que ao menos uma vez na vida já tenhamos barganhado coisas com alguém: Veja! Eu lhe dou Y e X em troca do W, ou quem sabe, em troca do W e Z, eu lhe dou o Y, e assim nos sentimos bem sucedidos, verdadeiro empreendedores, principalmente quando conquistamos o que almejamos, e a barganha concebe o final que nos agrada. Podemos dessa forma considerar da parte daqueles que foram alimentados, os barganhadores fraudulentos, onde descobriram uma verdadeira mina de ouro, sim, poderíamos até pensar que a primeira vista estavam aptos a crer no Messias, e em honra-lo, mas a verdade é que o motivo daquela perseguição a Cristo, era por causa dos pães e dos peixes, exposto diante de Cristo estava, aliás, sempre esteve, o verdadeiro motivo de o seguirmos, nuas estão diante do EU SOU, o que escondemos assim como a realidade de crermos Nele e nos declararmos cristãos.

Jesus respondeu-lhes e disse: Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes. (João 6:26)

Iniciamos essa narrativa falando acerca da superficialidade, da vida na margem, da impossibilidade de se ter algo sólido quando se é apenas maduro em imaturidade e possivelmente a unica profundidade marítima e maturidade que a multidão conhecia era a da hipocrisia: Dizendo serem discípulos, enquanto suas motivações eram outras, eram rasas, apenas alimentos perecíveis, somente o que se vê, apenas o que é passageiro, era nisso que focavam, enquanto sabia Cristo o que era a combustão que impulsionava a vida religiosa deles, e ainda hoje muito se vê a reprodução dos mesmo atos, como um filme repetido. Podemos ver muitos dos que se dizem irmãos em Cristo, no entanto só vem até Cristo pelo benefício que elas podem receber dentro de suas perspectivas terrenas e não por saber que Nele habita a fonte inesgotável da água da vida, que Ele é o Pão da vida Eterna. Veja, lhes faltavam conhecimento, mas em abundancia se obstinavam. Contemplavam apenas a comida passageira mas não se atentaram a eterna.

“Tenham cuidado para que, em meio à fartura, não se esqueçam do Senhor, seu Deus, e desobedeçam aos mandamentos, estatutos e decretos que hoje lhes dou. Quando ficarem satisfeitos e forem prósperos, quando tiverem construído belas casas onde morar, e quando seus rebanhos tiverem se tornado numerosos e sua prata e seu ouro tiverem se multiplicado junto com todos os seus bens, tenham cuidado! Não se tornem orgulhosos e não se esqueçam do Senhor, seu Deus, que os libertou da escravidão na terra do Egito. Ele os guiou pelo deserto imenso e assustador, cheio de serpentes venenosas e escorpiões, uma terra quente e seca. Ele lhes deu água da rocha. Sustentou-os no deserto com maná, alimento que seus antepassados não conheciam, para humilhá-los e prová-los para o seu próprio bem. Fez tudo isso para que vocês jamais viessem a pensar: ‘Conquistei toda esta riqueza com minha própria força e capacidade’. Lembrem-se do Senhor, seu Deus. É ele que lhes dá força para serem bem-sucedidos, a fim de confirmar a aliança solene que fez com seus antepassados, como hoje se vê. (Deuteronômio 8:11–18)

É possível repartir o processo de superficialidade daquela multidão e ver sua aplicação nos dias de hoje em dois:

O primeiro ponto da superficialidade:

Vendo eles o sublime sinal de multiplicação e tantos outros vendo e ouvindo acerca dos milagres que vinha operando Cristo Jesus: Curando enfermos, multiplicando, libertando pessoas do domínio de demônios e realizando maravilhas, ainda sim, não lhe renderam Graças por Ele ser o Filho de Deus, Por ser o Filho da Promessa que viria da geração de Davi, ao qual os profetas anunciavam que estava por vir. No entanto, não tiveram os olhos abertos para contemplar Ele como: Messias e como cortinas abertas para a luz entrar, assim era exposta a ignorância espiritual deles, exposta estava a incredulidade do homem natural, e nós, que fomos removidos do reino das trevas e fomos filhos da ira, sabemos que no tocante ao homem, não existe um limite para a incredulidade e debilidade por parte do homem ao que concerne aos assuntos espirituais.

Cristo estava a curar como também a perdoar os pecados. Disposto estava a saciar a fome deles, contudo, o que eles queriam, Ele não podia dar, mas o que oferecia, eles não queriam receber. Fitados estavam os olhos no pão que traria fome outra vez, desejo que voltaria, e para a sede que em breve retornaria. Eles não perceberam que ali estava o Messias, que libertava das prisões do pecado, das amarras das iniquidades e que através d’Ele, estava ali a reconciliação com Deus.

Querido irmão, ao que concerne a vida espiritual, tenhamos em mente que não podemos limitar nem esboçar margens para a ignorância do homem, perceba que a mesma multidão onde há pouco contemplou uma multiplicação que destruía todas as leis da física, perguntavam que sinal Cristo faria, quais eram os seus feitos, para que cressem Nele. Disseram-lhe, pois: Que sinal, pois, fazes tu, para que o vejamos, e creiamos em ti? Que operas tu? (João 6:30). Ainda sim, cabe a nós termos paciência com os que ouvem a acerca do Senhor Jesus e permanecem na ignorância, trabalharemos em secreto, em oração, e quanto a nós: A cada manhã nos examinemos para cuidarmos de não estarmos nos tornando imaturos e ignorantes, e quando deveríamos estar ensinando, sermos maduros, nos encontrarmos banhados nas águas da imaturidade. E não se enganem, Cristo conhece a intenção de nossos corações.

Jesus se retira, porque conhecendo a intenção do coração deles, viu que eles queriam o tornar Rei, e não havia vindo Cristo, para esse tipo de honra.

Nada, em toda a criação, está oculto aos olhos de Deus. Tudo está descoberto e exposto diante dos olhos daquele a quem havemos de prestar contas. (Hebreus 4:13)

Eis o segundo ponto da superficialidade deles:

Querendo fazer Jesus um Rei, comprova que eles tinham seus olhos fitados nas coisas terrenas, afirma o que foi dito há pouco. Achando que poderiam fazer de Jesus um Rei aponto de afetar o reinado de Cesar, mas quando olhamos para o que Jesus disse “Deem a Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus” (Mateus 22.21). Mostra que Jesus não estava anunciando e nem estabelecendo um reino terreno ou político na terra, mas anunciado o Reino dos Céus. Ele não veio para ser servido mas sim para servir “Bem como o Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos.” (Mateus 20:28). Após se retirar, Jesus e seus discípulos vão rumo Cafarnaum. Após uma busca por Jesus, finalmente aquela multidão o encontra. E ao encontram (Jo 6.25). Jesus começa a expor a verdade a respeito da superficialidade deles. Por conhecer o coração do homem, tinha conhecimento daquilo que realmente estavam o buscando, que não vieram atrás dele de forma incansável, porque ELE era e é: O Verbo, o consolo para os que choram, ao contrário, uma vez em que tiveram a fome saciada, viam apenas a oportunidade de uma refeição, de um pão, quando deveriam estar buscando alimentar-se de Cristo, o pão do céu.

Queridos leitores, quão cegos somos por olharmos para Cristo com superficialidade, olharmos para ELE como alguém que pode apenas resolver nossos problemas superficiais, quando ELE vem para Libertar-nos da escravidão do pecado, trazer luz a nossa alma, nos trazer para o seu Reino de amor e justiça, e nos dar a vida eterna. [2] “O pão que Deus proveu por meio de Moisés (Ex 16; Nm 11) não era falso; era pão de verdade, mas apenas material. Esse pão antecipou o sustento perfeito e eterno que Deus iria prover ao mandar o seu filho, em quem há vida eterna (Jo 17.3)” (Bíblia de Genebra, 2009)

Sem duvidas irmãos, podemos atribuir aos dias de hoje muito dos problemas demonstrados por aquela multidão:

Certo é, que Cristo os advertia por devotarem seus esforços para as coisas terrenas temporais e meros objetos perecíveis, censurava Cristo a eles pela excessiva busca pela comida que estraga, pelos bens que se deterioram o encanto pelo prata que é corroído pela traça como também ao ouro que o ladrão vem e rouba. Mas a se dedicar ao que é eterno, ao imperecível que não pode ser roubado.

Dedicavam muito tempo e muito esforço a tais coisas enquanto a alma era negligenciada, trabalhava-se e ainda se trabalha muito mais para as coisas do presente, do agora, em desprezo e pouco importância do porvir.

Profunda era a negligência de ir em busca do pão que gera a vida eterna, pão este, que somente Cristo é e pode nos dar, pão que Cristo estava oferecendo a eles, (Jo 6.35). Mas eles estavam na superficialidade: eles não viam, não compreendiam, grande era a ignorância e por isso não eram aptos para discernir.

Eles viam os sinais e pediam sinais,

Cegos estavam.

Rasos e imaturos, eles não estavam crendo. Com isso, eu lhes digo irmãos, que enquanto somos chamados a conhecer a Cristo, nos aprofundar e conhecer a profundidade da graça, não seja a escolha, a de permanecer na margem, não fiquemos no raso, não fiquemos na imaturidade e na superficialidade que não nos permite identificarmos o Cristo de Deus, mesmo quando diante dos nossos olhos contemplamos os seus sinais e milagres. A imaturidade não permite que compreendamos as coisas mais solidas que Deus tem para nos revelar, no entanto, o ato de optar a imaturidade certamente a de conceber a ti, o privilegio de ser levado por qualquer doutrina e por qualquer um que se diz ser O Cristo de Deus.

Eles viam os sinais e milagres,

E pediam sinas e milagres,

Porque?

Estou certo de que na minha infância existia uma brincadeira onde vendavam os nossos olhos, girávamos durante a contagem que durava dez segundos, e então começávamos a busca pelos participantes. Ouvia-se a voz de um dizendo “estou aqui” o outro falava “estou aqui” outro gritava e diz “atrás de você” e assim ficávamos, tateando no escuro alguém, e ao pegar alguém, tirávamos a venda e trocava o “vendado”.

Perceba que assim estávamos, mas Cristo nos chamou para si, no entanto, o próprio Cristo ensinava aqueles homens, o próprio Cristo nosso mestre por excelência e perfeito estava a ensinar, ainda sim continuavam a tatear, ainda sim continuavam sem enxergar.

Porque eles viam,

Mas não estavam crendo,

Estavam em sua superficialidade.

Eles viam, mas eram céticos, no verso 40, Jesus Diz: A vontade do Pai é que todo aquele que olhar para O Filho e nele crer, tenha a vida eterna.

Sendo assim irmão! Peço que não olhem para a palavra “Crer” com superficialidade também, a palavra crer em Cristo, é crer que Ele é. Crer que é O Filho de Deus. Ter verdadeira fé Nele e assim ser regenerado pelo Espírito Santo que habita em nós. Crer no seu sofrimento. Crer na sua morte. CRER acima de tudo em sua ressurreição. Crer na sua volta. Durante a peregrinação aqui: Negar a si mesmo. Tomar a sua cruz e seguir a Ele. Sofrer assim como Ele sofreu pois peço que não se esqueçam que o privilegio que crer em Cristo nos foi dado bem como o de sofrer por Ele. E quem sabe poderemos dizer com a mesma propriedade de Paulo “Que carrega em si as marcas de Cristo”

Alerto que se você tem prazer em se manter na margem ao tocante do evangelho anunciado por Cristo, e professa ter a fé Nele ou caso demonstre tão pouco interesse na Cruz de Cristo e na importância que o seu sangue derramado na cruz fez por você, como também ter prazer no leite da imaturidade, e não busca o crescimento espiritual e a maturidade para a edificação do Corpo de Cristo.

Recomendo irmão, que analise a si mesmo. Veja se está na fé que professa.

Fitem os olhos em Cristo, se empenhem em conhece-lo, não fiquem na superficialidade, busquem um relacionamento sincero e puro, porque tudo o que você precisava, Ele já te concedeu, sendo isso, a Justificação e a Redenção.

Graça e Paz vos sejam multiplicadas.

Bibliografia

[1] — RYLE, R.C. Meditações no evangelho de João. Inglaterra, Liverpool. 1879.

[2] — Sociedade bíblica do Brasil; São Paulo. Bíblica de Estudo de Genebra. 2° Ed. Barueri, 2009.

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Bruno Mendes
Parábolas

Da comunicação teço narrativas que nos levam a pensar não apenas sobre o aqui, mas sobre a eternidade.