CAMINHOS DO CORAÇÃO

Bruno Mendes
Parábolas
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10 min readJun 26, 2020

“devemos olhar as tribulações como certeza de uma mediação com a qual Deus há de nos aperfeiçoar.”

Olhar para o céu e perceber que o azul está oculto e nuvens escuras dominam, é saber que muito em breve há de cair chuva na terra. Símile a isso, devemos ter a convicção de quando as adversidades se intensificam na nossa vida, certamente é porque Deus há de nos aperfeiçoar. Ou seja, como a certeza da água que breve há de cair, devemos olhar as tribulações como certeza de uma mediação com a qual Deus há de nos aperfeiçoar.

AS LUTAS E TRIBULAÇÕES REVELAM AS INTENÇÕES REAIS DE NOSSO CORAÇÃO.

Como todo boa narrativa precisa de um pano de fundo, agora não será diferente, por isso começaremos a partir do verso 2 de Deuteronômio:

“Lembre-se de como o Senhor, o seu Deus, os conduziu por todo o caminho no deserto, durante estes quarenta anos, para humilhá-los e pô-los à prova, a fim de conhecer suas intenções, se iriam obedecer aos seus mandamentos ou não. (Deuteronômio 8:2)”

A narrativa que percorre Deuteronômio 8, tem o seu enredo centrado na advertência de Deus direcionada ao seu povo em questões que são presentes e podem ser vistas com facilidade na atualidade; a ingratidão, e a prosperidade que antecede o orgulho.

Ainda que este cenário onde essa narrativa tem o seu desenvolvimento pautado em um conceito que na literatura é chamado de Prolepse (Prolepse é o ato de fazer referência ao futuro do personagem, aqui no caso, Israel é esse personagem), os alertando a terem o devido cuidado, e não se tornarem arrogantes e orgulhos por aquilo que obtiveram, a ponto de pensar que conquistaram suas posses, obtiveram suas riquezas, receberam tanta fartura, por força própria, por empenho exclusivo deles, a ponto de se esquecerem que não era dessa forma que a sinfonia era construída. Questiono, poderia a sinfonia se vangloriar a ponto de dizer que se auto compôs? As notas poderiam questionar o seu compositor? Certamente isso é impossível, e é acerca dessa autossuficiência que falaremos nessa reflexão.

Como visto no verso destacado, é de fácil compreensão concluir que o próprio Deus colocou seu povo — e os coloca — em certas situações para saber o que sairia do coração deles — e o que sai do nosso -, que tipo de fruto produziria seus corações, os frutos a serem produzidos por eles seriam amargos: Por impetuosa murmuração, profundo ceticismo, e demasiada blasfêmia e outros males ou frutos doces: de regozijo em passar por tribulações e serem aperfeiçoados por Deus.

E note, que vivenciar tribulações é motivo ou deveria ser motivo de grande exultação para o povo de Deus, e veja que acerca disso Pedro disse:

Nisso vocês exultam, ainda que agora, por um pouco de tempo, devam ser entristecidos por todo tipo de provação.

Assim acontece para que fique comprovado que a fé que vocês têm, muito mais valiosa do que o ouro que perece, mesmo que refinado pelo fogo, é genuína e resultará em louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo for revelado. (1 Pedro 1:6,7).

No entanto, passar por aflições, ainda que nos entristeçam por um breve tempo, cada uma delas se apresentam com um único proposito e um objetivo estabelecido: Para comprovar que a nossa fé, mais preciosa que o ouro e qualquer outra riqueza ou bem de valor que possa existir nessa terra, é muito mais estimada, muito mais valiosa, e em gradação de cada provação a nossa fé é lapidada, ao fim de que resulte louvor, glória e honra quando Cristo for revelado, e quando temos essa perspectiva implantada em nós, passamos a compreender com maior profundidade o verso 2 de Deuteronômio 8.

Tiago, compartilha da mesma concepção que Pedro e diz: Feliz é o homem que persevera na provação, porque depois de aprovado receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam. (Tiago 1:12).

E trilhando rumo a uma maior concepção e necessidade de ver as tribulações e adversidades com bons olhos, Tiago chama de bem aventurado — na versão ARA 93 -, mas na NVI, “Feliz” (Que não perde o conceito de Bem Aventurado) é o homem que persevera durante a provação, que se mantem firme, que persiste, que não desiste diante da provação, pois este terá um fim glorioso, isto é, receberá a coroa da vida que Deus prometeu aos que o amam.

E fecho as citações com nosso irmão Paulo, que ao falar acerca da justificação através da fé e da paz que obtivemos com Deus através de Cristo ele diz também acerca das tribulações: “[…] nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu.” (Romanos 5:3–5).

Note que o apóstolo vem em intensa gradação, onde enquanto caminhamos em tribulações, devemos nos gloriar, pois elas desenvolvem em nós, frutos de perseverança, um caráter aprovado, e junto a isso uma esperança, sendo assim, nos apeguemos com firmeza a essa esperança, onde ainda que andemos por quarenta anos no deserto em severas provações, humilhações e fome, nos lembremos que Deus quer ver as intenções de nossos corações e saber se nos apegaremos e confiaremos Nele ou não.

Assim, ele os humilhou e os deixou passar fome. Mas depois os sustentou com maná, que nem vocês nem os seus antepassados conheciam, para mostrar-lhe que nem só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca do Senhor. (Deuteronômio 8:3)

Moisés recorda que durante os quarenta anos em peregrinação no deserto, suas roupas não se desgastaram, não envelheceram, e os seus pés durante toda a caminhada? bom, acredite, eles não incharam. Moisés recorda que durante a peregrinação no deserto com presença de serpentes venenosas e de escorpiões, de terra árida, sem água e hostil, viram eles diversos milagres, e um deles, que deveria faze-los contar a todas as gerações posteriores: Deus fez sair água da rocha:

Moisés e Arão reuniram a assembléia em frente da rocha, e Moisés disse: “Escutem, rebeldes, será que teremos que tirar água desta rocha para lhes dar? “ Então Moisés ergueu o braço e bateu na rocha duas vezes com a vara. Jorrou água, e a comunidade e os rebanhos beberam. (Números 20:10,11)

Em terra árida e seca, Deus deu água ao seu povo, em lugar onde não havia o que comer, Deus os alimentou com o maná que nem os antepassados deles e muito menos eles, conheciam, durante a noite, eles tinham uma coluna de fogo que os acompanhavam e de dia, uma nuvem. É certo que em cada etapa dessa narrativa, está explicita a fragilidade desse povo e mostra como eles deveriam ser imensuravelmente gratos a Deus, visto que ainda com todo esse processo no deserto, o EU SOU, os estava levando para uma boa terra.

No entanto, até o presente momento, pudemos ver um povo frágil, dependente e impotente de conseguir algo por si, um povo que deveria ser profundamente gratos ao Deus de Jacó, que os libertou majestosamente do Egito, onde eram prisioneiros e estrangeiros , mas agora, o único e verdadeiro Deus havia os escolhido como seu povo, sua nação e os resgatou poderosamente:

Perguntem, agora, aos tempos antigos, antes de vocês existirem, desde o dia em que Deus criou o homem sobre a terra. Perguntem de um lado ao outro do céu: Já aconteceu algo tão grandioso ou já se ouviu algo parecido? Que povo ouviu a voz de Deus falando do meio do fogo, como vocês ouviram, e continua vivo? Ou que deus decidiu tirar uma nação do meio de outra para lhe pertencer, com provas, sinais, maravilhas e lutas, com mão poderosa e braço forte, e com feitos temíveis e grandiosos, conforme tudo o que o Senhor fez por vocês no Egito, como vocês viram com os seus próprios olhos? Tudo isso foi mostrado a vocês para que soubessem que o Senhor é Deus; e que não há outro além dele. (Deuteronômio 4:32–35)

Dessa forma, concluímos que podemos contemplar um povo que foi resgatado de forma poderosa. E embora salvos e separados, conduzidos e guardados por Deus, e presenciado atos gloriosos, com frequência Moisés os advertia para terem o coração inclinado para Deus, para guardarem os mandamentos de Deus, para andarem nos caminhos de Deus e temê-lo. A não deixarem de obedece-lo, e principalmente não se tornarem orgulhosos. E bem, é agora que com maior profundidade, é trabalhado a ingratidão e o orgulho diante da prosperidade.

Não digam, pois, em seu coração: “A minha capacidade e a força das minhas mãos ajuntaram para mim toda esta riqueza”. (Deuteronômio 8:17).

Acredito que até o momento foi notável entender a posição desse povo, no entanto, talvez você esteja se perguntado a razão dessa advertência para um povo que estava em uma jornada pelo deserto e aparentemente não tinham nada em que se vangloriar.

E bem, a verdade é que isso é falado pois Deus estava os conduzindo para;

Uma boa terra, com ribeiros de águas, de fontes e de nascentes que brotariam de vales e colinas, bem como; uma terra farta de trigo e cevada; vinhas, figueiras e romãzeiras; terra de oliveiras, de azeite e de mel; uma terra onde comeriam pão com fartura e nada lhes faltaria, cuja as pedras eram de ferro e dos montes poderia ser retirado cobre (recursos que tinham imensa valia na antiguidade, parafraseando: seria como ganhar a maior empresa do mundo de presente nos dias de hoje: seja elas o Facebook, a Microsoft, a Apple ou até mesmo a Samsung, ou seja, o jovem que não tinha nada acabou de ganhar uma grande riqueza), e por fim, nessa terra eles comeriam e se fartariam e louvariam ao Senhor, o bom Deus que deu essa boa terra para eles.

Certamente com essa longa lista abundando benevolências é possível compreender melhor as advertências.

Contudo, essa advertência mostra como o coração do homem por muitas vezes se porta diante de abundante prosperidade que acaba a resultar em orgulho e ingratidão.

Ingratidão:

A chamada de atenção é justamente para não se esquecerem de agradecer, prestar culto, adorar e render graças, á Deus, pela boa terra que ele havia dado a um povo que era desterrado e escravo, mas que agora, recebeu um lugar, uma boa terra, um bom lugar, ou melhor, um excelente lugar. E note que ser ingrato não é uma característica exclusiva deles, mas de todos nós, seres humanos, que por muito ter ou simplesmente por ter, acreditamos que obtivemos por nosso próprio esforço, através da força de nossos braços, por que somos os maiorais, no entanto, não é dessa forma. A sinfonia não é autossuficiente.

Prosperidade que precede orgulho:

Não é novidade que o homem tem grandes problemas com prosperidade, basta olharmos para exemplos de nossa sociedade e podemos ver a aspereza com que se trata aqueles que pouco tem. Sua vangloria em dizer que obteve tudo com sua própria força, com sua vontade, somente por sua dedicação. Seguindo esse percurso o seu coração se exalta e se esquece que se não fosse por Deus, nada disso teria, e é sobre essa advertência mais incisiva e clara que Deus fala:

Não aconteça que, depois de terem comido até ficarem satisfeitos, de terem construído boas casas e nelas morado, de aumentarem os seus rebanhos, a sua prata e o seu ouro, e todos os seus bens, o seu coração fique orgulhoso e vocês se esqueçam do Senhor, do seu Deus, que os tirou do Egito, da terra da escravidão. (Deuteronômio 8:12–14)

O povo que nada tinha, agora obteve em abundância, e Deus os lembra das coisas mais Elementares, de prestar culto a Ele, de não se apegarem as riquezas e se esquecer Dele, de irem em busca de outros deuses, de cultuarem a deuses feito por mãos humanas, mas de serem gratos e obedientes. Ingratidão, prosperidade e orgulho. Fato é, que nos dias de hoje as advertências continuam em vigor, precisamos ter cuidado em não pensarmos que conquistamos por nossa força, por nossa vontade ou por méritos próprio “Mas, lembrem-se do Senhor, do seu Deus, pois é ele que lhes dá a capacidade de produzir riqueza […]”(Deuteronômio 8:18)

Entretanto, cuidemos para que nosso coração não seja pego pelas riquezas que obtemos e o nosso objeto de adoração deixe de ser o Deus Único e Verdadeiro.

Mas se vocês se esquecerem do Senhor, do seu Deus, e seguirem outros deuses, prestando-lhes culto e curvando-se diante deles, asseguro-lhes hoje que vocês serão destruídos. Por não obedecerem ao Senhor, ao seu Deus, vocês serão destruídos como o foram as outras nações que o Senhor destruiu perante vocês. (Deuteronômio 8:19,20)

Em síntese,

O homem não pode se descuidar e deixar de se atentar aos mandamentos, ensinos, preceitos e os caminhos de Deus.

O Deus Único e Verdadeiro foi e é oque conduziu e conduz o seu povo. O Deus Único e verdadeiro é quem nos guia e nos fortalece para continuarmos a caminhada, para seguir em frente e alcançar os objetivos, e para obter as conquistas.

Sendo assim, cuidemos para não pensar que tudo que obtemos é por nossa própria força de vontade, ao contrario, O Deus de Jacó que nos fortalece para seguir adiante, e quando por dádiva divina, obtivermos o que almejamos, que não o deixemos para desfrutar das bençãos ao ponto de cultuarmos aquilo que temos e não Aquele que nos deu todas as coisas.

Se Cristo estiver santificado em nossos corações, de modo nenhum ficaremos desesperados, mas nos alegraremos nas tribulações.

Se Cristo estiver santificado em nossos corações, de modo algum abandonaremos o Deus verdadeiro para viver em culto a outros deuses e a materialidade.

Mas que santifiquemos a Cristo em nosso coração diariamente, afim de nos regozijarmos em nossas tribulações, sabendo que resultará em Amadurecimento na fé, revelará o que está em nossos corações e teremos vida e alegria em Deus.

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Bruno Mendes
Parábolas

Da comunicação teço narrativas que nos levam a pensar não apenas sobre o aqui, mas sobre a eternidade.