EM BUSCA DO CORAÇÃO MEDIEVAL [MARCO TELLES]

Bruno Mendes
Parábolas
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8 min readJul 2, 2020
Foto de Gui Avelar em Unsplash

Eu tenho um grande problema quando escuto algumas músicas principalmente pelas que eu nutro uma elevada estima. E isso acontece porque eu ouço elas no mínimo umas quatro vezes: A primeira é de forma amistosa, a segunda é de forma amistosa, só que dando uma certa atenção para alguns pontos, na terceira, sou eu adotando o pseudônimo de um pseudo analítico, e com isso eu começo a dar uma atenção especial as construções: as frases, as palavras, aos termos.

Mas quando eu chego na quarta vez, eu faço a junção do melhor dos dois mundos, ou melhor, dos três mundos: Analiso toda a construção principalmente o seu “teor teológico” por assim dizer. Claro, que de modo algum faço isso como um crítico especialista em analisar letras e tudo mais — sou apenas um pseudônimo de um pseudo analítico de letras de músicas”. Mas aprendi a desenvolver e me apegar nisso, por ter um dois pés e dois braços envolvidos na música. Mas vamos ao que assunto principal, pois fato é, que:

Eu tenho uma grande estima por um cantor que julgo ser sensacional.

O seu nome? Marco Telles (Marcotellesbt). Ele é um cantor — e irmão em Cristo — pelo qual um nutro uma grande estima pelas suas composições, principalmente por suas letras serem profundas e bem lapidadas, que fogem brutalmente do superficial, do raso que é apresentando na atualidade, onde boa parte das canções são meras repetições do início ao fim, sem uma boa construção lexical. Fato é, que isso me entristece muito, e isso, é porque se olharmos para as escrituras iremos ver que vemos de Gênesis a Apocalipse, narrativas — que no momento me falta a palavra propícia a ela, mas é algo semelhante a — excelsas.

Narrativas sólidas, narrativas onde nos deparamos com os incríveis feitos de Deus libertando o seu povo, abrindo mar, colocando uma coluna de fogo no deserto para acompanha-los de noite durante a peregrinação, vemos Ela lançando fogo dos céus, vemos ele fazendo sair água da rocha, vemos ele transformando homens, e bem, acredito que foi possível entender, ou seja, recursos? tem. Mas me parece que não são todos que sabem tirar proveito desse preciosa mina de ouro, ou apenas não querem assim o fazer.

No entanto, esse não é o caso do Marco — Marco Telles, para os menos chegados — , onde em cada canção, em cada composição ele demonstra saber explorar isso de forma profunda, cativante, com muito zelo e por último, mas o principal: Apresenta uma grande fidelidade as escrituras. E uma prova disso, é uma música que está no seu álbum “DEVIR”, que se chama “Canção do Cristão Medieval”, onde através dela ele tece um absoluto contraste do Cristianismo que vemos nos dias atuais: Onde se tem um alto desejo de estima, de reconhecimento, de holofote, de muito sucesso, de almejo apenas por conquistas, de bens, de riqueza, do eu.

O problema dessa canção como eu disse, é uma construção que está em oposto ao Cristianismo atual, no entanto, o que a faz ser profunda e confrontadora é ser composta como uma oração.

A oração de um Cristão Medieval, ou seja, ela resgata os valores antigos, ela faz com que a nossa petição seja o resgate dos valores antigos em nossa vida, da humildade, do não desejar a estima, do holofote, da exaltação do eu. Faça a leitura da letra abaixo:

(1)

Óh Jesus, manso e humilde de coração

Ouve-me, livra-me, Jesus

Do desejo de ser estimado

Do desejo de ser consultado

Do desejo de ser exaltado

(2)

Precioso Jesus, manso e humilde de coração

Ouve-me, livra-me, Jesus

Do desejo de ser honrado

Do desejo de ser louvado

Do desejo de ser aprovado

(3)

Livra-me Jesus

Do medo de ser humilhado

E desprezado

Livra-me Jesus

Do medo de ser exortado

Ser esquecido

(4)

Dá-me a graça de desejar

Que outros sejam

Mais amados e estimados

Que eu

Dá-me a graça de, posto à parte

Ver os outros, sendo escolhidos

Que os meus lábios

Possam ter a graça de sorrir

Enquanto os meus olhos

Estão chorando

(5)

Cristo é alegria que preenche

A porção dos que te amam

A herança de valor

Se eu te tenho

Eu descanso por ter tudo

Se me falta tua beleza

Eu procuro em vão por bens

Não sei você, mas na segunda e terceira linha, é possível ver que não é uma canção muito atrativa para se cantar nos dias atuais.

É notável que nos primeiros versos vemos a construção de uma oração, onde pedimos ao nosso Senhor Jesus que nos livre dos desejos tão hostis de sermos estimados, consultados e exaltados. A construção do primeiro verso fere, ela penetra em nosso amago, afinal estamos em uma era onde desejamos ser vistos, de alguma forma desejamos ser notados, desejamos ter a nossa voz ouvida, afim de estima. A petição é para que Jesus nos livre desse desejo. Desejo esse de ser consultado e exaltado, afinal, ser visto, e muito bem visto, é sinal de exaltação, é um posto de glória, de certa honra, porque agora todos estão lhe vendo, você está no pódio sendo exaltado, e pessoas buscam por ti para lhe consultar, exaltar e estimar, são muitos te contemplando, é o seu momento de brilhar. Mas a canção mostra uma Cristão que não se importa com essas coisas, ao contrário, pede-se para não ter tais desejos como foco, ter tais ambições como motivações de nossas vidas, de não julgar ser isso importante para si, onde ser visto é se sentir bem, onde ser visto é motivo de estima e exaltação.

Ao chegar ao segundo verso, vemos que não se perde de vista o que foi dito nos versos anteriores, a petição agora, é para que Cristo nos livre do desejo de ser honrado, louvado e aprovado, afinal, ser honrado pelas pessoas é uma grande estima para nós, ouvir “quem sem você nada disso seria possível” , ouvir quão bom nós somos em determinada tarefa, ser louvado, perceber que “nosso valor” está sendo reconhecido. O desejo de ser louvado, se de ser aclamado e aprovado pelas pessoas, como se á aprovação delas lhe pudesse trazer paz, produzir em ti uma grande alegria, suprir a necessidade de vanglória, nutrir de adoração o homem que insiste em reinar em nosso próprio coração.

Mas ao terceiro verso, podemos ver o terreno mais “árido do evangelho”, onde ele toca na ferida do cristianismo moderno onde muitos almejam o oposto do que vimos nos dois primeiros versos, e com maior força o do terceiro, afinal, quem quer ser humilhado? ou talvez, desprezado, ou pior, exortado? O evangelho que se dissipa com grande velocidade é o que se você está com problemas, está passando por humilhação, por situações desfavoráveis, está andando numa trilha de farpas e cacos, o seu problema é falta de fé, um evangelho que temos apenas a dádiva de crer em Cristo, mas não de sofrer por Ele, mas não de ser humilhado por causa Dele. Embora tenham sido perseguidos aqueles vieram antes de vocês, isto é, os profetas: Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus. “Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês”. (Mateus 5:10–12), (aliás, tem uma outra canção do Marco, que é baseada nessa musica, e você pode ouvir ela clicando aqui.), e assim como eles foram perseguidos, caluniados, tratados como escória, realmente me questiono por qual motivo alguns arduamente anseiam viver um Cristianismo assustadoramente pacífico: Se o mundo os odeia, tenham em mente que antes odiou a mim.

Se vocês pertencessem ao mundo, ele os amaria como se fossem dele. Todavia, vocês não são do mundo, mas eu os escolhi, tirando-os do mundo; por isso o mundo os odeia. Lembrem-se das palavras que eu lhes disse: nenhum escravo é maior do que o seu senhor. Se me perseguiram, também perseguirão vocês […]” (João 15:18–20).

“O coração do Cristão medieval mostra de forma muito clara que seu coração não tem medo de ser humilhado, afinal, através dela Deus pode conhecer o nosso coração e podemos ser aperfeiçoado”

E quando queremos sempre estar certos e obstinar o nosso coração a verdade que se mostra irrefutável, e assim fugimos da exortação, e por muito julgamos ser santos vestidos contra erros, falhas e aprendizados. O coração do Cristão medieval mostra de forma muito clara que seu coração não tem medo de ser humilhado, afinal, através dela Deus pode conhecer o nosso coração e podemos ser aperfeiçoados, e nos alegraremos em sermos postos nessas situações, onde somos, desprezados por causa da nossa fé, ou até mesmo esquecidos. Sendo o último o pior de todos. O mundo sempre nos diz para sermos lembrados, para deixarmos a nossa história, para sermos vistos, para vivermos a fim de nunca sermos esquecidos, no entanto a proposta nunca foi essa, mas sim, de viver uma vida em que Deus se alegre de nós e pode ser glorificado a despeito do que pensa o mundo, se nós seremos lembrados ou não.

No quarto verso, chegamos a um maior aprofundamento nas petições, um amadurecimento, o Cristão roga por uma graça onde os outros, os nossos irmãos, sejam mais estimados e mais amados do que nós, e de forma impetuosa me vem a memória o que diz o apóstolo Paulo: Nada façais por contenda ou por vanglória, mas por humildade; cada um considere os outros superiores a si mesmo. Não atente cada um para o que é propriamente seu, mas cada qual também para o que é dos outros. (Filipenses 2:3,4) Onde ele nós diz para considerarmos nossos irmãos superiores a nós, onde somos estimulados a pensar antes no outro do que em nós, em pedir estima para nosso irmão e não para nós. A cada linha, eu consigo notar uma gradação acerca da petição, como agora em que se pede por uma graça, em que somos colocados a parte, ao lado, ser deixado de lado e ver os nossos irmãos sendo escolhidos. Ou pedir a graça de sorrir enquanto os nossos olhos choram.

Ao chegar no último verso, vemos a ideia central, de que Cristo é a nossa alegria e por te-lo, somos preenchidos, é a verdadeira porção que supre tudo que o homem vem á aspirar. Mas que finaliza com um sucinta reflexão, onde nos expõe a verdade: Se me falta a tua beleza, eu procuro em vão por bens. Ou seja, se nos falta Cristo, se nos falta a beleza do viver em Cristo e para Cristo, todos os bens que buscamos em nossa vida são em vão, de nada valem, não tem serventia alguma.

Em suma:

Ser exposto a canção do Cristão medieval, precisa te fazer sentar em um canto e refletir o quanto dessa canção penetra no seu coração e na sua alma te levando a pedir por um coração semelhante. Por uma vida como essa, pelo resgate dos princípios esquecidos.

https://www.youtube.com/channel/UC6-tPW2DgJ5Cy99urk6MvSQ

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Bruno Mendes
Parábolas

Da comunicação teço narrativas que nos levam a pensar não apenas sobre o aqui, mas sobre a eternidade.