O Peregrino Amargurado

Bruno Mendes
Parábolas
4 min readApr 2, 2020

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O peregrino continua na trilha sem volta, caminhando amargurado e inconstante em suas emoções pondo em segundo plano a alegria deixada por seu Senhor.

O dia estava vestido com um grande sobretudo cinza escuro, onde impedia-se a vista do sol. Via-se privado das chamas do sol que aquece o corpo, acalenta a alma, o espírito e o coração. O dia cinza fez parecer noite, embora retratava o sentimento de sofrimento que carregava — dentro de si — por ser adepto a prática da extrema compaixão –, vivendo a extensão conceitual de amar ao próximo de forma abnegacional e a consequência era sofrer por ter que contemplar a opressão que os seus semelhantes vivenciavam, as dores que suportavam, as injustiças que sofriam, as dores e chagas que eram abertas neles.

O coração se apertava por olhar as lagrimas sofridas de mães, as lagrimas das viúvas e órfãos, percebia que se abria mais a ferida no coração por ver que eles não tinham um consolador. Não havia esperança para eles, pois embora soubesse que o dia estiva escuro, eu nunca me esqueceria que o sol haveria de brilhar novamente…. Infelizmente os que choravam, os que eram oprimidos, não tinham consolador, não aguardavam o sol da justiça, não sabiam o que era o calor das chamas da justiça, a ternura da consolação, não haviam contemplado o brilho do sol da justiça, a chama pura e inalterada da retidão.

Não havia forças para ir contra os opressores, oh céus! As tropas, as forças, as riquezas, o poder está do lado dos opressores…. Os que sofriam não tinham consolador.

Tenho a convicção de que hoje vivemos tempos de grande lamento, onde muitos têm e outros não, onde muitos sofrem nas mãos daqueles que deveriam proteger, os que deveriam amar abrem feridas dolorosas e demoradas em cicatrização, chagas que parecem impossíveis de serem fechadas, muitos sofrem, existe muita opressão.

Creio no sofrimento de muitos que carecem de um consolador, e olham para si tentando encontrar um alento, um porto seguro, uma salvação, um baluarte… O tão desejado Oasis.

Embora eu entenda que a escolha de ter em quem se apoiar ou não, de avistar o farol iluminando o caminho, se dá em uma escolha essencial para começar uma trilha, é decisão sem arrependimentos, sem hesitações, sem murmurações, sem objeções impostas por si mesmo para amenizar a culpa da escolha. Sempre existirá antíteses de escolhas a ser feitas, sempre existiu a porta estreita e a porta de passagem larga.

Sempre existirá uma vivência onde vivemos uma narrativa que prestará honra e exaltação ao nome de Deus e será manifestado um solene canto expelido por nossas vidas, mas há quem acredite ser uma preciosa escolha optar por uma porta mais larga, de passagem mais acessível, uma vida de certa libertinagem, de escolhas inconsequentes ignorando o fato de que haverá uma consequência a ser carregada, um fardo a ser levado durante a eternidade. A inclinação tão convincente de pensar ter uma vida de rei e liberdade quando o engano cobre a sua visão impedindo de ver com clareza o fato de que se vive uma vida de servidão ao pecado.

Há quem escolha a porta estreita, sabendo de suas complicações, cheias de negações aos próprios desejos intrínsecos, dificuldades e lutas devido as privações que são vivenciadas por rejeitar a libertinagem proposta por uma passagem inconsequente, obscura onde se emana trevas e perdição.

No entanto ainda que a narrativa tecida não esteja pautada exclusivamente na escolha da porta estreita, parábola contada por Cristo — em Mateus 7 -, penso que se valia esse devaneio.

Voltemos ao sofrimento dos não consolados. No entanto o desejo por um consolador existe, é real, embora não o tenham que os console, suas lagrimas levam a pensar que aqueles acolhidos pela morte são mais felizes visto que não são mais participantes desses sofrimentos e opressões. Já haviam recebido a recompensa sabatina do Criador, isto é, um descanso, sem opressão, sem dores, lamentos e choros.

Mas ainda vivos e inconsoláveis, muitos desconhecem a gloriosa estrada do sofrimento que permite o encontro de um choro de alegria, uma dor com motivações esperançosas do sabatino descanso na perfeita morada que o Deus do Céu tem para os seus.

Muitos são os inconsoláveis e sofredores que aguardam ouvir dos Filhos de Deus o sermão de arrependimento que conduz a vida eterna ao lado do Glorioso Senhor Jesus Cristo.

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Bruno Mendes
Parábolas

Da comunicação teço narrativas que nos levam a pensar não apenas sobre o aqui, mas sobre a eternidade.