A insegurança de uma calça bamba

Ou, o dia em que ele entendeu sua força

Cleiton Lopes
CRÔNICAS
2 min readJun 15, 2017

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Fonte: Unsplash

Ele era bastante inseguro. Não acreditava ter habilidades suficientes, principalmente sociais, para realizar o que tanto queria. O “agravante” era que ele gostava de ser honesto consigo mesmo e com os demais. Se não agradava alguma pessoa, não via porque ter de bajulá-la, como a maioria fazia, para conseguir algo ou fazer parte da turma. Mas, às vezes, caía em armadilhas.

O outro era um cara legal, com amigos legais. Tinha conseguido tudo o que desejava e que era difícil ao olhar dos outros. Os próprios amigos mais próximos do primeiro gostavam do outro. Era o inteligente que entendia de tudo e fazia tudo. Quase um “pica das galáxias”… por fora.

Mas, quando o primeiro viu o outro mais de perto, percebeu que não tinha nada disso. Tudo era uma casca. Quando o “amor” que o outro vivia escrevendo nas paredes por aí (literalmente), foi posto em prova, ele se mostrou frágil. Quando o primeiro quis ajuda, recebeu em troca um amargo e seco

Se vira aí, jovem.

O primeiro, apesar de bastante chateado, decidiu que não deveria sofrer com isso. Ao invés de tristeza, se sentiu mais forte, melhor consigo mesmo. Percebeu que ele, diferente do outro, era uma pessoa íntegra. O que ele pregava por fora, o que ele dizia, era o que ele realmente tinha por dentro. Suas palavras se alinhavam com suas ações.

Por um tempo, pensou em voltar atrás, explicar a situação ao outro, pedir desculpas e suplicar o seu perdão.

Decidiu que não.

Analisando todos os acontecimentos, percebeu que tinha feito o melhor que podia. Foi honesto o tempo todo em sua breve relação e não iria se rebaixar para o outro. Sentiu que tudo que havia conquistado até ali foi por força própria. Nenhum cabeludo descolado iria tirar o que tinha de bom nele, o que ele era. Seu joelho não iria se dobrar perante qualquer um.

Sabia que poderiam haver conversas, mal dizeres a seu respeito pelas suas costas.

Foda-se!

Estava bem, pleno consigo mesmo.

Como dizia seu pai:

Quanto mais se abaixa, mais a bunda aparece.

E ele queria que o sol continuasse a não bater ali.

Respirou fundo, tomou um gole de café, apertou bem o cinto e disse:

Essa calça aqui não vai cair no caminho. Confio no meu aperto!

E, finalmente, viu a segurança mostrar as caras. Meio tímida, mas tava ali.

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Cleiton Lopes
CRÔNICAS

Apenas um rapaz latino americano, querendo aprender de cinema