A menina que comprava sorrisos

Osvaldo Alves dos Santos Junior
CRÔNICAS

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Acontecia todos os dias de manhã, por volta das onze horas para ser mais exato, Mell corria em direção à janela de casa para dar um “tchauzinho” para o trem, chacoalhando os braços, com as mãos espalmadas e sempre sorridente.

Mell era uma linda menina, com apenas cinco anos de idade já exibia uma simpatia insólita, seus cabelos louros cacheados chamavam a atenção de todos à sua volta. Já o maquinista Tharlles, era um senhor careca, barbudo, aparentava ter uns quarenta anos; estava sempre mal-humorado, fazia questão de nunca acenar e muito menos de sorrir para Mell.

A menina sempre voltava triste para o seu quarto, às vezes arrependida, mas nunca se dava por derrotada, aliás, era apenas uma cara feia de Tharlles. No dia seguinte lá estava Mell sorridente, chacoalhando os braços e cabelos, se despedindo do trem, enquanto Tharlles fingia não enxergar aquela cena.

Certo dia, mais que decidida a menina pegou o seu cofre, que juntava moedas há uns três meses e levou a sua mãe:

— Mamãe! posso abrir meu cofrinho? preciso comprar uma passagem de trem e um sorriso.

— Como assim filha? perguntou a mãe apreensiva.

Mell lhe explicou seus planos, e a mamãe concordou com a filha, lhe dando livre arbítrio, pois também estava chateada com as atitudes do maquinista.

Em um belo sábado de sol, Tharlles percebeu que naquela manhã a garota Mell não estava na janela, ele respirou aliviado, parou o trem na estação Imperatriz Leopoldina; ficou espantado quando percebeu que alguém batia na porta de sua cabine. Ele levantou-se e foi ver quem era , para sua surpresa estava ali a menina Mell.

— O que foi menina? Não vê que estou trabalhando? diz Tharlles.

— Desculpe tio, sou a garota que acena na janela, eu lhe trouxe meu cofre de moedas, vim lhe perguntar quanto o sr cobra para sorrir e me dar “tchauzinho” todas as manhãs? Queria muito conhecer o seu sorriso.

Tharlles parou atônito, e refletiu por quanto tempo não emitia um sorriso, e em como se tornara um homem bruto com o passar do tempo. Sem hesitar ele se abaixa sorrindo como uma criança, beija a face da menina e lhe dá algumas moedas para ela guardar em seu cofrinho, muito agradecido.

Daquele dia em diante, Thalles passava todos os dias acenando e sorrindo para Mell, que se despedia feliz chacoalhando os braços e cabelos cacheados. Ele descobriu que o sorriso é a chave da felicidade.

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Osvaldo Alves dos Santos Junior
CRÔNICAS

"A vida é uma carta para ser lida no futuro.... sem pressa, como uma lição sem remorso"