a plenitude do vazio

gabriela arthur
CRÔNICAS
2 min readAug 4, 2014

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sempre me foi difícil diferenciar a sensacao de plenitude da do vazio. é como olhar um copo translúcido que está cheio até a boca: em uma olhada rápida pode parecer nao haver nada dentro dele.

tenho minha cabeca como uma pagina em branco aguardando os primeiros rabiscos. copo vazio. nao lembro de nada que ja tenha me acontecido. nada foi importante o suficiente que merecesse ser gravado na mente. nao me recordo dos beijos, nem dos abracos calorosos, nem mesmo do olhar que parecia penetrar minha alma. nem de longe penso em relembrar dos cafunes, os carinhos antes de dormir, as longas conversas sobre a vida. nada ficou. amnesia.

ao apagar o passado tenho espaco de sobra para o novo. e daquilo que se foi, nada queria mesmo manter. nostalgicas historias inuteis que servem apenas para relembrar melancolicamente de algo que nao tem volta. passado.

me adequo com o repertorio de um bebe que inicia a sua trajetoria. porem, espertamente, nao carrego a fragilidade e a inocencia caracteristicos da infancia. trago comigo apenas aquilo que me será útil. recorro a todos os aprendizados dos anos vividos, os erros e acertos. e mais importante: sei todos os motivos que me fizeram deixar para trás tudo o que passou.

respiro eu fundo.

me preparo para um novo comeco. esperancosa como uma crianca e sabia como se pode ser, aperto o play da vida. dou boas vindas ao novo e comeco a rabiscar com uma firmeza na mao. as memorias que irei construir a partir de agora terao apenas um protagonista.

e aqui está ele. com o copo cheio.

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