A senhora que vendia turbantes
— Que lindo!
Anita visitava a Feira de Antiguidades do Lavradio pela primeira vez e ficou apaixonada pelos turbantes.
— Quanto tá cada um?
— É 20.
— Nossa.
Anita foi revirando, à procura da estampa perfeita e, por onde suas mãos passavam, a da senhora ia atrás. A mão de uma revirava; a de outra, arrumava.
— Esse é lindo demais…
— Esse sai muito mesmo, filha.
— Muita gente vem de fora comprar com a senhora?
— De fora nada, quem compra é a Aparecida da roda de Jongo que tem às vezes ali na esquina.
— Jongo?
— É uma dancinha que tem ali, não entendo muito bem, é uma dança, jongo… Eles colocam umas roupas diferentes, botam meus turbantes… Fica lindo.
— Acho que conheço. Estudei num período da faculdade.
Anita conversava e procurava o turbante adequado a ela, mas era díficil achar.
A senhora do turbante puxou assunto.
—Você também dança, filha?
— Só nas festas.
— Não! Jongo.
— Ah! Jongo, não. Tenho medo de me machucar… Olha que estampa linda!
— Essa aí é viscose… Mais cara — e depois completou — mas oxe! Não machuca, não. Só roda pra lá e pra cá.
Anita deu uma pausa na procura e olhou pra senhora.
—Mas não é luta?
— Ih, filha! Fez confusão. Deve tá falando é da capoeira!
— Sim, capoeira. Quando eu ia pra casa da minha vó ela tava vendo essa novela. Aquela das seis, a senhora lembra?
— Linda…
— É, com o Lázaro Ramos. Ele dançava, lutava…
— Não, mas capoeira é diferente.
Anita voltou a sua procura.
— Aqui, filha — a senhora separou um turbante, sorridente — minha neta usa muito desse aqui na escola. Fica lindo também.
— Nossa, ela tem bom gosto.
Anita pegou o turbante, olhou de cabo a rabo e decidiu vestir.
— Difícil, né?
— Deixa eu ajudar você, filha.
Anita não sabia vestir turbante. Enquanto a senhora a arrumava, conversavam…
— Você me lembra muito a minha neta…
— É?
— Quando ela veio aqui na barraca também ficou toda deslumbrada.
— E por que ela não vem ajudar a senhora a vender?
—Ela não precisa me ajudar nada, não.
A senhora a ofereceu um espelho.
— Ficou lindo! Nossa — Anita gostou.
A senhora viu alguma coisa errada.
— Calma aí, filha, deixa eu ver atrás.
A senhora olhou, olhou, olhou e parecia não achar o problema.
— Num sei… Será que prendi erra-Ah! Sabe o que é? É que seu cabelo é lisinho!
— Quê?
— Pois é. Na minha neta fica direito porque ela tem aqueles cabelo grandão, sabe? Todo enroladinho. Aí o tecido vai lá pro alto, parecendo uma coroa, sabe?
— Ah, tá… Mas eu gostei.
— Se você gostou, tá bom.
— Vou levar esse, senhora.
— Que bom. Não quer levar pra dar de presente pras suas amigas também, filha?
— Não… Elas são muito sem graça. Não gostam de nada exótico.
A senhora entendeu.
— É 20.
— A senhora não aceita cartão, né…
— Que nada! Tem aquela maquininha nova aqui.
— Ah, ótimo.
Anita pagou.
— Esse manequim é lindo, né? Olha esses cílios.
— Pois é. Minha filha é gerente daquelas loja chique lá de Copacabana, sabe? Aí tava faltando uns manequim pra expôr os turbante e a patroa dela liberou me dar uns antigos.
— Ué, mas não vende manequim baratinho no mercadão também, não?
— Mas é que eu adorei os cílios também. Resolvi deixar.