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Smartphones, internet e nossa falta de comunicação

Wendel Buchweitz
CRÔNICAS
2 min readMay 1, 2017

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Fonte: http://ibmec.org.br/instituto/wp-content/uploads/2016/11/black-mirror-netflix.jpg

O smartphone tornou-se nossa terceira mão. Já é parte do nosso corpo, como um membro que cresceu em nós sem pedir licença. Antes só servia para ligar e mandar SMS, hoje serve também para afastar as pessoas e nos distrair do mundo real, onde a vida não tem filtro do Instagram.

Perdemos a batalha. Os celulares nos usam há anos, e aceitamos nossa sentença de escravidão como uma criança que engole o choro e acata o castigo dos pais. Há tempos os celulares não são necessidade, mas, sim, ansiedade. E essa ânsia nos escraviza.

Nas salas de espera, o desespero: tem wi-fi aqui? Qual é a senha? A urgência em nos (des)conectar é como a de um viciado enfrentando uma crise de abstinência. Precisamos atualizar as mídias sociais e saber o que aconteceu nos últimos dolorosos 20 minutos. Folhar uma revista ou conversar com a pessoa ao lado beira a insanidade. Quem conversa cara-a-cara em 2017?

Quando saímos para eventos sociais, como uma festa ou um jantar, a foto torna-se obrigação. Se não houve selfies, é sinal de fracasso. Tudo precisa estar documentado nessa biblioteca infame chamada internet. Se não está online, não existe.

As risadas se tornaram antiquadas. Hoje o sorriso é substituído por um emoji com carinha feliz. As conversas foram substituídas pelas mensagens de texto no WhatsApp. Mandar áudio? Nem pensar. Evitamos esse tipo de intimidade. Tudo pode ser resolvido online. A ponta dos dedos tocam apenas as telas.

Talvez devêssemos tratar as pessoas ao nosso redor com a mesma atenção que dedicamos aos nossos aparelhos. Com toque, cuidado e atenção, buscando entender o que está dentro do outro. É possível que muita gente quisesse ser um smartphone, pois assim as pessoas lhe dariam mais atenção.

Mas não deixemos nos vencer por completo. Perdemos a batalha, mas não a guerra.

Que possamos visualizar mais olhos e menos mensagens. Que possamos tocar mais peles e menos telas. Que possamos compartilhar mais amor e menos indiferença.

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Wendel Buchweitz
CRÔNICAS

Ex-aluno do escritor Fabrício Carpinejar, estudante de Letras e gaúcho por falta de opções.