Aline
Crônicas subterrâneas
Droga, o sinal ainda não tocou e já estou acordada, o que há de errado comigo? Depois de acordar, o sono a abandonou junto de sua mãe, que ainda dormia ao seu lado sobre o forro de tecido sintético. Anos de trabalho duro no coletivo de reciclagem deixaram marcas profundas de esforço, cansaço e frustração no rosto magro de sua mãe.
A luz vermelha da galeria penetrara pelas frestas disformes esculpidas em rocha e se dissipou pelas impurezas minerais, emprestando um tom de rosa no antro residencial. Seus olhos preguiçosos percorreram o ambiente rosado com um estranho sentimento de tristeza. Seu corpo estremeceu quando o sinal estridente do alvorecer tocou e seu coração acelerou tanto que pensou que fosse arrebentar em seu peito.
Aline! — gritou Marta ao acordar. — Minha filha, o que houve?, se assustou com o sinal? — pousou a mão sobre o rosto da filha e a puxou para beijar sua testa.
Sim — respondeu insegura. — Quero dizer, não sei, mãe. Eu já estava acordada e… — engoliu o excesso de saliva — tive medo de te perder.
Minha querida filha, eu não vou a lugar algum. Você está crescendo mais rápido agora e é normal na sua idade se sentir assim. Vamos levantar juntas, temos um dia cheio pela frente.
Aline se deixou beijar mais uma vez e retribuiu com um abraço apertado, aninhada em seu colo. Antes de levantar, olhou mais uma vez pra sua mãe e dessa vez viu em seu semblante os traços deixados por anos de sorriso humilde, completos de carinho. Ter esta visão fez aquecer seu coração.
Ela é tão forte, mas está cansada. Não posso simplesmente partir e deixá-la trabalhar por mim. Marcos vai ter que esperar.