As ideias inconcebíveis

Anderson Carvalho
CRÔNICAS
Published in
2 min readMay 14, 2018
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“A prova a que deve se submeter a inteligência de primeira classe está na capacidade de sustentar duas ideias opostas na mente, ao mesmo tempo, e ainda assim manter a capacidade de funcionar” F. Scott Fitzgerald

Antes de tudo uma pausa, um tempo de reflexão. Não é nada simples assimilar uma afirmação dessas. Não somente a concepção, mas a aceitação dos opostos em perfeita harmonia, é um alongamento mental. E, como bem se sabe, a mente é como um elástico — ou um atilho como diriam os abagualados aqui desse canto do planeta — depois de alargado jamais retorna ao seu estado anterior.

Mas vá lá, em alguns casos é possível entender do que se trata. Livre arbítrio e destino, por exemplo. É, eu sei, o destino é sempre algo complicado de ser aceito. Mas olhem bem para ele. Os detalhes. Percebam que ele já está em nós, lá, bem no fundo, e apenas aguarda a nossa permissão para se realizar. Se não atrapalharmos nosso próprio caminho, nosso destino se realiza e tudo que é intrinsecamente nosso vem à tona.

Ainda assim, temos o livre arbítrio de atrapalhar a nossa própria vida. Eu sei, eu sei… eu também distribuo a culpa, mas, quando me olho no espelho, consigo admitir que o outro fora irrelevante e a responsabilidade pela minha vida e minhas decisões, de fato, é minha. Inalienável.

Ao lado das ideias opostas que coexistem estão as ideias impossíveis. Aquelas que podem arrebentar o atilho — ou elástico, ou borrachinha, sei lá eu o nome exato das coisas. A saber, Deus é uma ideia impossível. Não se pode pensar em Deus, assim como não é possível pensar que todos somos feitos de átomos, ou partícula que o valha, e que no fundo não há diferença entre eu e você que está aí lendo esse texto. Acha que é possível? Então eu sou você e também todo mundo, portanto o próprio conceito de eu se esvazia e já não sou mais, porque eu é uma impossibilidade, um jogo de palavras.

A transcendência faz todo o sentido mas é inconcebível.

São voltas e mais voltas e mais voltas em torno de perplexidades e perguntas sem resposta. De tanto me escarafunchar escrevo para colocar tudo isso que se passa aqui dentro (dentro?) para fora e dividir, ou multiplicar, esses pensamentos que não consigo pensar.

Me traduzo em textos como esse, planejo esquecer tudo isso e no futuro poder ser meu melhor leitor, mas uma frase dessas vai soando como se não tivesse sentido nenhum e quase me arrependo de escrever, escrevo mesmo assim. Vou até o final.

Que nem diz o outro, eu não vim até aqui pra desistir agora.

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