Biblioteca de Sentimentos Vazios
Dicionários ocultos para inexistências medíocres;
O vácuo é um local de curiosa natureza; nenhum histerismo, dor, euforia se propaga por entre as menos de 14 partículas que preenchem o metro quadrado negro e semivazio. Entre as linhas em matriz de Dirac podemos identificar um certo inconformismo para férmions como elétrons; se tiras alguém de seu ambiente de conforto, arriscas tua vida numa revolução, em novos horizontes ariscos, é fácil que seu precipitação não cética indetermine o caso concreto; extinga qualquer razão certa.
Na minha trespassagem como elétron sensível que sou, não poderia deixar de expressar certa luridez nos meus dias; me falta espírito além da física que possa reger minhas conexões com o meio externo. O meu declínio como poeta, por vezes, é acreditar num cientificismo irredutível, e misturar laboriosamente meus versos com teorias não baseadas em fatores humanos. De fato, no fim todos nós só queremos ser amados… Pouco importa a epigênese astrobiológica particular do Kepler-22b e o processo de aglutinação da matéria de poeira num berçário de estrelas.
Mas não posso indeferir um fato incontestável: — Há demasiada poesia nas ciências naturais. O epílogo do meu exercício artístico tem como fundamento esse mergulho umbro nas meditações científicas e seus mistérios; fui antes cientista e curioso que poeta, fui antes um questionador de tudo que um narcísico (ainda que na minha titularidade fale com uma majoritária grandeza mais do que não me afeta e do que observo catatônico) escritor altaneiro.
Às vezes realmente sinto que deveria arrancar do coração essas garras lúgubres do desespero e manchar as folhas e cadernos de poesia que vacilantemente sintetizo.
Às vezes realmente me sinto como o vácuo; não por não haver absolutamente nada em mim, mas exatamente por haver demais coisas que não consigo escrever; da mesma maneira como ligo constelações e batizo corpos celestes múltiplos com o nome de pessoas que amei.
Mas só às vezes…