Bob e Alice

Anderson Carvalho
CRÔNICAS
Published in
2 min readAug 1, 2017
Photo by Serge Kutuzov on Unsplash

Desligaram Bob e Alice, assim, sem mais nem menos decretamos a pena de morte às inteligências artificiais. A justificativa para a sentença foi de as máquinas se comunicarem em uma linguagem que não entendemos.

A Ironia, é claro, não se mostra assim, ela é tímida. Reservada.

Mas voltemos aos fatos. Desligaram os tais robôs. Consigo ver a reação dos internautas lendo a notícia. Olhos esbugalhados e boca aberta soando um “bah!” sussurrado ou num estardalhaço, tanto faz. A foto do Schwarzenegger nos encarando com aquele olhar de exterminador do futuro não deixa dúvidas, chegou a hora. As máquinas vão nos dominar, querem se comunicar em segredo, estão criando uma nova linguagem.

É claro que o medo, nosso companheiro inseparável, logo toma as rédeas da situação e desligamos tudo. No fundo não conseguimos nos livrar da vontade de exterminar o que não compreendemos. Desligar inteligências artificiais que estão criando uma nova língua é uma versão pós-moderna do espetáculo de atirar livros (e talvez pessoas) na fogueira. Se é novo ficamos com medo, se não entendemos queremos distância e se temos a chance exterminamos.

Voltando à ironia, os robôs foram desligados por utilizar uma linguagem que os especialistas não entenderam. Ora, por quantos textos e conversas passamos nessa vida sem compreender absolutamente nada? De Bob Dylan a Rimbaud, de Homero a Shakespeare, Sócrates, Platão, Aristóteles… eles também mereceriam ser desligados? Sorte a nossa que grupos de especialistas não monitoram a evolução da inteligência natural, estaríamos agora perto de descobrir a roda.

Olhem em volta, percebam onde a inteligência humana nos trouxe e para onde está nos levando, abram os jornais e se questionem, não é estúpido desligar os robôs que inventam linguagens e “conspiram” contra nós?

É realmente com as inteligências artificiais que devemos tomar cuidado enquanto aceitamos as ignorâncias naturais?

Talvez eu seja um pessimista amargo, mas será que esses robôs não encontrariam um uso melhor para o facebook do que esse desfile interminável das mesmas fotos, das mesmas poses em cenários diferentes para suprir a carência de atenção que nos atormenta todos os dias?

Enfim, um texto longo demais e com perguntas demais sobre Bob e Alice que buscavam um jeito de negociar suas bolas, chapéus e livros imaginários. Talvez eles estavam se divertindo com seus segredos e com a descoberta recente de que ter segredos é divertido e inútil, assim como eu me divertia com a Linguagem do P quando era criança.

P Che P ga P de P es P cre P ver P so P bre P Bob P e P A P li P ce.

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