Complexo D’eus

Jeff Venancius
CRÔNICAS
Published in
2 min readMar 28, 2017
Foto: Max Newhall

Sinto-me incapaz de dizer. Por algum motivo inconclusivo, palavras se perderam de mim. Ou talvez eu tenha me perdido delas.

Se há um Deus neste mundo, eu espero que ele se arrependa, e que ele me peça perdão por todas às vezes em que me ignorou e ignorou aqueles que suplicaram por sua graça, inutilmente.

Se há um Deus neste mundo, eu espero que ele me tema um dia. Se há um Deus neste mundo, eu espero que ele tenha a decência de confessar seus pecados, seu sádico prazer em nos ver à deriva; e deixar-nos assim.

Se ele nos observa, o faz pelo mais puro entretenimento.

Se há um Deus neste mundo, ele não acredita em nós.

Que Deus é este, que me dá falsas esperanças? Um conforto irreal, que me coloca em uma bolha onde a menor duvida é motivo para que tudo desmorone?

Que provas, afinal, este ser divino quer de mim? Quer saber se sofro? Pois sofro. Que saber se duvido? Questiono.

Não conquistarás meu amor, tentando fazer com que o tema. Isto não é amor, é medo. Questionarei, sem temê-lo.

Um Deus que me dá o livre-arbítrio e não quer que o use. Um Deus que tem vergonha de seus filhos.

Não quero ser anestesiado pela fé. Eu quero a cura.

Eu aceito toda a dor e não me escondo dela. Eu aceito tudo o que sinto pois sei que sinto e não há nada que possa mudar isto.

Não devo temê-lo, pois o inferno está em mim; e com este fogo, sei que posso sofrer — mas também posso ser maior do que sou.

Posso ser divino.

--

--