despedida

gabriela arthur
CRÔNICAS
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2 min readJun 25, 2014

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a gentileza sempre foi sua principal qualidade. pela primeira — e última — vez, ele sugeriu gentilmente que eu fosse embora de seu apartamento. não havia mais nada para conversar, e ele ainda precisava fazer uma ligação importante naquela noite. antes mesmo de eu aceitar a sugestão, ele se levanta e vai em direção à porta. gen-til-men-te. nunca havia recusado um caldo verde, um cafuné ou sexo casual. pela primeira — e última — vez ele o fez. saio de sua casa transtornada com tamanha agressividade. já no elevador, arquiteto meu plano de fuga. queria apenas sumir das redondezas de seu prédio o mais rápido que conseguisse.

não me despeço do porteiro como de costume: não tenho mais motivos para o agradar.

na rua, me desespero à procura do primeiro taxi em que possa embarcar. logo me deparo com um que está estacionado, deixando três pessoas. pergunto ao motorista se ele está livre, e ele disse: "vou ficar, só aguarde um instante". enquanto aguardava a retirada de bagagens do porta-malas imaginava como era angustiante aquela espera. o rapaz que estava sentado no banco da frente tirou uns trocados do bolso e entregou ao taxista. era chegada a minha vez de entrar. a espera não foi tão longa, mas não estava acostumada com taxis indisponíveis. o taxi fede a cigarro e o taxista está mal-humorado. está trânsito na paulista e tenho que ficar aqui dentro, aguentando o cheiro e o humor tão desagradáveis.

próxima vez irei caminhar até a esquina e escolher algum outro taxi que esteja disponível para mim.

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