Diário de um analisando #2: Eu sei…
— A ‘imago paterna’ é chave do seu psiquismo…
— Que isso?!
— Bem… a criança produz uma imagem do pai e a protege. O seu adulto quer bater, quer atingir essa imagem, mas a sua criança não deixa.
— Hmmm…
— Esse conflito te inibe. Quando você conseguir livrar-se dele, e vai conseguir por meio da fala aqui, você vai nos entregar muito material analítico.
(…)
— Eu já sei por que você faz análise — dispara ela.
— Tapoha!
(silêncio)
— É… mas penso que, talvez, você não esteja maduro o suficiente para ouvir, ainda.
— Peraí que vou triplicar o valor do cheque de hoje e te comprar.
E rimos juntos.
(…)
— Sua forma de se comunicar é muito peculiar. Você me transfere muito.(silêncio)
— Mas peculiar como? — pergunto.
— Sua sintaxe, a forma como você coloca as frases no discurso. Muitas vezes, é mais importante a construção do discurso do que o discurso em si.
— "Chega uma hora que a história contada é só veículo" — relembro.
— Você me transfere muito… (breve silêncio). Hoje eu tive contato com uma extensão da sua dor.
— "Um homem / com uma dor / é muito mais elegante / Caminha assim de lado / Como se chegando atrasado andasse mais adiante"… uma música, na voz da Zélia, de que gosto muito.
— Vamos vendo o quanto de verdade você vai querer conhecer.
— Doses homeopáticas, sivuplê — brinco, mas penso em todas as teorias de desconstrução do conceito de ‘verdade’ que estudei no semestre passado.
— Até sábado?
— Sim… :)