Divagações da Cátedra

Gabriel Gomes
CRÔNICAS
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2 min readApr 10, 2018

Andarilho pseudoerrante em busca de respostas;

Catedral de Winchester — Gravura Século XVIII

Os dissabores todos de uma vida voluntariamente encarcerada tem seus institutos megalomaníacos: em geral, aqueles que desejam escrever seu nome na história como eruditos vivem o celibato moderado, a distância pelágica do mundo prático, e uma noção temporal de mais morosidade, em maior parte dos casos.

Eu, tradicionalista, primogênito dos bons costumes da civilização secular ao que tudo indica; filantrópico por definição geracional, me enfiei neste palácio de concreto cedo, pelo credo ético reacionário às mazelas degenerativas deste século. Por conseguinte, fiquei preso na cátedra empoeirada como as aranhas decidem fazer, fiando teias pelas bibliotecas, pelas salas e salões, auditórios e jardins. As nêsperas desse estilo de vida são de longo prazo, não gozáveis em vida, e o preço é bem alto para os jovens modais deste tempo, incuto-me a tarefa de andar de sobretudo por entre esses pilares de mármore, de investigar as questões mais inauditas da existência humana, de fornecer os axiomas da sociedade, e a autoridade suma.

Suor, flores, reclusão, pena ou lapiseira em punho, e milhares de papéis, talvez milhões; de caracteres; de símbolos; de convenções; de histórias e estórias, científicos e metodológicos, resumidos e extensivos, de muitas naturezas, ciências, áreas, ramos. Ao menos esse tempo pode me fornecer uma facilidade incomparável de deleitar uma sonata de Scarlatti, peça de Lizst, sinfonia de Beethoven, Mozart, Schubert, balada de Chopin ou invenção de Bach com tal facilidade que em momento nenhum em tempo algum poderia ser tão cômodo! (A riqueza econômica e tecnológica é uma benção!) — Tudo isso enquanto trabalho e raciocino o próximo e futuro reflexo filosófico, seja esse de reverberação como Kant e Hegel, ou das trevas da incompreensão como Schopenhauer ou Leibniz.

Das fatalidades rotineiras desta minha vida de embate de egos constante, dou um pontapé rumo ao descarrilho, e no meio de meus princípios apodíticos, vejo um monstro relativista democrático que quer engolir a seco toda teratologia neste sistema incluso; destruir toda virtude e estabelecer a mais poderosa plutocracia totalitária da maioria pusilânime, e matar todo o espírito transcendental do filósofo de ofício. O catedrático que sou estaria condenado nesta oposição, por isso esse espírito anda morto pelos corredores do prédio.

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Gabriel Gomes
CRÔNICAS

Indagando as sínteses dos parnasos e dos simbolistas. Autor de Estrelas de Cristal: https://bit.ly/2rxWmRM Minha Página: https://arcadiasombria.wordpress.com/