Do vinho perdido
Baseado em fatos reais
Fim de tarde de uma chuvosa sexta-feira. Saio do trabalho e vou em direção à casa de minha mãe, e por isso decido passar no supermercado e levar uma garrafa de vinho.
Escolhido o vinho, passo no caixa e saindo do supermercado, percebo que não é uma boa ideia seguir a pé com toda aquela chuva. Melhor pedir um Cabify para o restante do trajeto. Pego o celular do bolso com uma mão enquanto, com a outra, seguro a sacola que contém a garrafa de vinho e o guarda-chuva, além do casaco no braço (o ar condicionado do supermercado me deixou com muito calor). E nisso o vinho “comete suicídio”: a sacola escapa da minha mão, a garrafa bate com força no dedão do meu pé esquerdo, e cai ao chão, quebrando-se. São 750 ml de vinho a menos que a humanidade desfrutará — isso dói mais que o dinheiro gasto ou que o impacto da garrafa no meu pé.
Eu poderia ficar só lamentando o vinho perdido, mas a vontade de saborear a bebida me faz voltar ao supermercado. Compro outra garrafa, saio, e não corro o mesmo risco novamente: pego um táxi.
As coisas até vão correndo bem no táxi, só que uma das ruas do trajeto está muito congestionada. Começo a praguejar mentalmente contra a chuva, o supermercado que ligou o ar condicionado muito quente (se estivesse vestindo o casaco certamente não teria deixado a sacola com a garrafa cair), o prefeito (que não tem culpa nenhuma pelo que aconteceu, só que eu não gosto dele)… Antes dos palavrões deixarem a esfera do pensamento, peço ao taxista que entre na próxima rua à esquerda e me deixe em um local próximo à casa de minha mãe, para não precisar ficar mais tanto tempo trancado no trânsito.
Após descer do táxi, noto que a dor no dedo do pé diminuíra, sinal de que nada de grave deve ter acontecido ali. Ainda assim, sigo lamentando pela garrafa quebrada — afinal, comprei duas para usufruir apenas de uma.
Chego à casa de minha mãe, que tem a visita de uma amiga. Elas tinham comprado duas garrafas de vinho e me esperavam para abrir uma.