Eles estão sempre lá

thomaz cunha
CRÔNICAS
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3 min readMar 9, 2017
Imagem: Unsplash

Os cães. Com quatro patas, talvez uma colinha, pelo curto ou longo, de raça ou vira-lata. Uns amores. Todos eles.

Tem Bob, Bolinha, Tom ou Puff. Chegam pra alegrar, pra sacudir a casa, pra proteger o lar, pra nos fazer repensar e ensinar de fato o que é amor, o que é amar, incondicionalmente.

Todo os dias permitem uma descoberta e uma arte nova, como crianças em pleno desenvolvimento. Deixam bolas de pelo no sofá, coco e xixi pela sala. Até que em um belo dia aprendem a fazer tudo isso no devido lugar. Em cima do jornal. Na graminha. Viva! Pedem para ir na rua.

Caso contrário, recebem bronca por cada mal criação, mas o nosso coração é tão mole e não dá tanto espaço para magoá-los, vamos logo pegando, abraçando, conversando ao pé do ouvido. Dizendo com uma voz, por vezes, embargada, boba, amável, que "é feio cavar nas plantinhas da sacada", "não é mais pra comer o papel higiênico do lixo do banheiro, por favor!", "que horror! onde já se viu fazer xixi na minha cama", "não acredito que você mordeu meus chinelos novinhos, por quê?". Tudo é falado, com carinho, com jeitinho, com promessas de ossinho, porque sabemos a intensidade dos sentimentos deles.

Carrega pra o pet. Toma vacinas. Dá remédio pra vermes. Oba, hoje é dia do banho. Já para eles não é tanta alegria assim.

"Mãeeee, eu achei uma pulga na Biju."

"Ai, será que o Jon tá ruinzinho? Dormiu a tarde inteira e fez um cocô estranho também."

"Tu nem sabe, a Luna aprendeu a sentar, deitar e rolar ao meu comando. Coisa fofínia!!"

É um zelo que só. Carregamos no colo como bebês preciosos. E são. Sejam eles de dois ou mais de vinte quilos. Todos eles. Alguns dormem nas suas próprias camas ou na nossa aos nossos pés. Tem suas manias. Não falam, mas sentem. Sentem por todos aqueles que prometeram proteção desde filhotes ou quando adotados já grande e conhecem o novo lar.

E chega um dia que partem, de alguma forma. Tem uma vida tão breve e amam em uma intensidade que não se vê em qualquer ser humano. É raro. Alegram-se com coisas simples, com uma garra pet, com uma bolinha de meia, dois petiscos no final da tarde, um cafuné na barriguinha ou atrás da orelha. Qualquer simplicidade os encanta. Entristecem-se quando percebem que a energia do seu amigo camarada, nós, não está legal. Confidentes. Apoiadores. Não é a toa que são os melhores amigos do homem.

Estão sempre lá. Se você sair às 8h e só retornar às 18h, não retirarão as quatro patinhas e o olhar atento da direção da porta. Com a mente sempre alerta. Incansáveis. Esperam todos os dias pela nossa volta, do trabalho, da escola ou da balada. E, a melhor parte do dia, para quem tem um ou mais desses anjos sem asas em casa, é quando se aconchegam ao nosso lado, dão um latido, fazem alguma peripécia e olham no fundo dos nossos olhos fazendo dissipar qualquer energia ruim que possa nos rondar.

Cães. Eles sentem que não precisam de mais nada além da nossa companhia para fazer o trabalho, fácil para eles, de nos proteger e amar. Amar mesmo. Sem pedir nada em troca. Apenas a oportunidade de fazer sempre o bem e estar ali quando você até não precisaria. São de que raça? Do amor. Na medida. Sem tirar e nem por.

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thomaz cunha
CRÔNICAS

gaúcho. canceriano. escreve na NEW ORDER. II insta: thocunha II podcast — Spotify: thomaz cunha.