Espera

Leo Nunes
CRÔNICAS
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2 min readNov 27, 2017
The Astronomer de Johannes Vermeer

A sala finalmente se aquietou. O que antes era entra e sai, grito e dor virou calmaria na mão pesada do sono. Todos dormiam menos eu, a sentinela. A enfermaria era pequena com cadeiras dispostas lado a lado. Eu, acompanhante, não tinha assento, ele, paciente, ficava deitado no móvel meio quebrado. Fiquei observando ele que dormia.

Sentei no apoio de pés improvisado com uma miniescada. Apoiei suas pernas nas minhas coxas e recostei na parede fria. Cinco da madrugada, três horas até alguém vir me render. A falta de barulho dificultava a atenção, o cansaço e a sonolência pediam vez.

Cada tremor de seu corpo meio paralisado me revestia de alívio. Observava sua respiração para assegurar-me da sua vida. Quando a enfermeira apagou a luz, o coloquei de lado. Agora nessa meia-noite ele ainda dorme. Não emitiu nenhuma palavra desde que entrei, sua voz saía pelos olhos aguados e caídos. Dói ver a dor.

Todos dormem em suas doenças, o menino com apendicite se cobriu com lençol emprestado, os bebês gêmeos com crise de bronquite se aninham nos colos dos pais, outra acompanhante caiu na madorna de quem está acostumada com essa rotina. Eu continuei atento na vigília. As horas não passam, meu relógio corre para trás. O hospital não cura, nem medica.

A espera continuava, todos imóveis. A enfermeira acendeu a luz, hora da ronda. Paz quebrada. Remédios trocados, soros recolocados, acessos refeitos.

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